Banco público

Cordão umbilical, há 404 amostras prontas para usar em transplantes

Esteve em risco de fechar, mas hoje banco público tem protocolo com quatro maternidades públicas para colheita.

O banco público de células do cordão umbilical (Lusocord) já tem 404 amostras disponíveis para responder as pedidos para doentes portugueses e estrangeiros que precisem de um transplante de medula. Há três anos o serviço esteve em risco de fechar, por não cumprir os critérios de qualidade e segurança. Desde então, o banco passou por auditorias e inspeções e em maio deste ano completou o processo que permite a recolha, preservação e transporte de amostras para transplante. Nesta semana o hospital Amadora-Sintra inicia a colheita de sangue do cordão umbilical, juntando-se a outras três maternidades que já o fazem.

As recolhas regulares de células do cordão umbilical com as novas regras começaram em março de 2013. Em maio desse ano, o banco foi inspecionado pela Direção-Geral da Saúde, que deu autorização para a atividade de colheita e armazenamento. "A validação para transporte foi dada em maio de 2015. Temos o processo todo completo. Todas as amostras criopreservadas com estas regras estão aptas a serem usadas para transplante", explica ao Diário de Notícias Salomé Maia, diretora do Lusocord. São 404 de um total de 2194 colhidas desde março de 2013 até outubro deste ano.

"A taxa de aproveitamento é de 11%. Não temos de ter muitas, temos de ter sim amostras com muita qualidade para que as células tenham viabilidade e capacidade de se multiplicarem em células de medula. Não podemos correr o risco de ter uma amostra com menos qualidade. É assim com todos os bancos públicos de todo o mundo", refere. Entre 2009 e outubro deste ano Portugal realizou 28 transplantes - quatro dos quais neste ano - com recurso a sangue do cordão umbilical de bancos públicos de outros países.

Até ao momento ainda não chegou nenhum pedido ao Lusocord, que funciona como complemento ao registo de dadores de medula óssea. As células do cordão umbilical têm a vantagem de ser mais bem toleradas, pois são mais imaturas, exigindo menor compatibilidade. "O banco do cordão tem como missão aumentar as possibilidades de transplante e diversificar o registo de dadores", afirma Salomé Maia.

Nesta semana iniciaram a colheita de sangue do cordão umbilical no hospital Amadora-Sintra. Junta-se às maternidades dos centros hospitalares de São João (onde funciona o Lusocord), do Porto e Unidade Local de Saúde de Matosinhos, de forma a ter o máximo de representação da população que vive em Portugal. Por cada colheita criopreservada (colheitas boas), os hospitais recebem cem euros.

O Lusocord vai também aceitar dádivas direcionadas de sangue do cordão umbilical para irmãos. "Pode ser feito caso haja uma situação clínica que o justifique. Se há, por exemplo, um doente de leucemia que precisa de um transplante e vai nascer um bebé, o médico pode pedir que o sangue do cordão seja criopreservado só para usar naquela pessoa. Se não houver compatibilidade passa a ser do domínio público e fica disponível para qualquer pedido", diz.

O processo de recolha de sangue do cordão é complexo e implica muito treino. Neste ano Salomé Maia deu formação a 41 equipas de médicos e enfermeiros das maternidades com que têm protocolo. Os kits de recolha são todos preparados no Lusocord - funciona no pavilhão do registo de dadores de medula -, com indicação dos prazos de validade de todos os componentes, e enviados para os hospitais, fazendo depois o caminho de volta.

Além da sala de receção das amostras, onde são feitas verificações de qualidade, o banco é apoiado por dois laboratórios. É aqui que uma das células da amostra é colocada em cultura durante 14 dias para haver certeza de que é viável e de que se multiplica. A contagem é feita ao microscópio. O material é criopreservado num tanque robotizado que não precisa de ser aberto a cada entrada ou saída de amostras, a 196 graus negativos, onde fica em quarentena durante três meses. Cada amostra tem um código e a localização fica registada no computador. Para a retirar basta introduzir as coordenadas. "Todas as amostras e processo, os questionários sobre a mãe e o parto são fotografados. Toda a informação segue para a unidade de transplante", diz Salomé Maia.

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
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