Consumo elevado de álcool aumenta o risco de cancro do estômago
O consumo de álcool é um dos principais fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento de vários tipos de cancro. Apesar de, recentemente, se ter estabelecido uma associação entre o consumo elevado de álcool e o risco de cancro do estômago, existem aspetos relativamente à quantificação desta associação que continuam por esclarecer.
“Este estudo partiu de uma iniciativa de vários investigadores na área da epidemiologia do cancro, com o objetivo de preencher algumas lacunas no conhecimento da etiologia do cancro do estômago e de analisar simultaneamente um grande conjunto de dados que, de outra forma, estariam dispersos. Esta estratégia permite harmonizar/padronizar a informação disponível e, de uma forma eficiente, definir e quantificar os principais efeitos de fatores de risco de interesse, mesmo que estes correspondam a hábitos que sejam pouco frequentes na população”, refere Bárbara Peleteiro, uma das investigadoras do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) envolvida na investigação.
O estudo em questão, publicado na revista “International Journal of Cancer”,utilizou dados do projeto “Stomach Cancer Pooling (StoP)”, um consórcio internacional de 20 estudos epidemiológicos sobre fatores de risco para o desenvolvimento de cancro do estômago, que reúne um total de 9.669 casos (doentes com cancro do estômago) e 25.335 controlos (doentes sem este tipo de cancro) provenientes da Europa, Ásia e América do Norte, e com estilos de vida diferenciados.
O objetivo do estudo consistiu em perceber se a ingestão elevada de álcool, independentemente de fatores como a idade dos indivíduos da amostra, do sexo, da etnia, do consumo de fruta e vegetais, da presença ou ausência da infeção por Helicobacter pylori (bactéria que se aloja no estômago e que aumenta a probabilidade de desenvolver este tipo de cancro), entre outros, se associa a uma maior probabilidade de ocorrência de cancro do estômago, a terceira maior causa de morte relacionada com o cancro em todo o mundo e a quarta maior causa em Portugal.
Os resultados mostram que as pessoas que ingerem entre 4 a 6 bebidas alcoólicas por dia apresentam 26% maior probabilidade de terem cancro do estômago do que as que não bebem álcool. Este valor sobe para 48% para os consumidores de mais de 6 bebidas alcoólicas diárias.
A análise efetuada “fornece evidência quantitativa mais bem definida e precisa que a anteriormente disponível para a associação entre o consumo de álcool em elevadas quantidades e a ocorrência de cancro do estômago”, avança. “O estudo vem, de facto, reforçar o efeito nocivo que o consumo de álcool pode ter na saúde. Ao diminuir este consumo estaremos a contribuir para a adoção de um estilo de vida mais saudável, prevenindo o cancro do estômago”, conclui.
Para além de Bárbara Peleteiro, também o investigador Nuno Lunet participa no estudo designado “Alcohol consumption and gastric cancer risk—A pooled analysis within the StoP project Consortium”, disponível para consulta online.