Com se transmite

Constipação

Atualizado: 
13/04/2016 - 15:16
De todas as afecções respiratórias do trato superior, a constipação é sem dúvida a mais frequente, posicionando-se em segundo lugar no conjunto das infecções respiratórias, sendo uma das principais causas de absentismo laboral e escolar.

A constipação também vulgarmente designada por resfriado é infecção catarral aguda do trato respiratório que, apesar de não ser grave, ser autolimitada e com raras complicações, constitui um problema de saúde incómodo e altamente prevalente, particularmente nas épocas mais frias.

A constipação é muito mais frequente na criança abaixo dos 5 anos, surgindo com uma frequência de 4 a 9 episódios anuais (com o pico de incidência por volta dos 1-2 anos), diminuindo progressivamente até à idade adulta com 1 a 3 episódios anuais. O pico de incidência das constipações é no inverno, mas uma percentagem substancial de casos surge no verão (10 a 15%). As mulheres entre 20 e 30 anos têm mais constipações do que os homens, por duas razões: maior exposição às crianças e maior suscetibilidade às infecções no período pré-menstrual.

O carácter benigno da constipação e, o facto do seu tratamento ser apenas sintomático faz com que este problema de saúde seja um excelente candidato ao campo dos autocuidados, de indicação farmacêutica, e do tratamento com medicamentos que não requerem receita médica (MNSRM). A sua elevada prevalência e diversidade de sintomas que ocasiona explica a frequência com que o farmacêutico é chamado a intervir e a grande variedade de medicamentos existentes com esta indicação.

Convém não esquecer ainda que, devido a esta quota de mercado e aos princípios ativos que estes medicamentos contêm, eles têm enorme responsabilidade no conjunto de reacções adversas decorrentes da sua utilização, agravando o facto de os doentes os considerarem como “inofensivos”, quase como se não fossem medicamentos. A abordagem à terapêutica da constipação é efetuada pelos sintomas habituais que acompanham esta infecção, designadamente: febre, mialgias, congestão nasal, rinorreia, laringite, faringite, tosse, entre outros.

A constipação é frequentemente confundida com a gripe, no entanto esta é uma infecção muito mais grave e com complicações mais delicadas em que o doente se sente incapaz de sair da cama pela febre alta e mialgias intensas, embora ambas as situações sejam tratadas com recurso a medicamentos de alívio sintomático.

Transmissão
O vírus da constipação é transmitido de pessoa a pessoa por via aérea, através do espirro e tosse devido às gotículas aerossolizadas de secreções contaminadas. A transmissão por contacto mão-mão ou com objetos contaminados é hoje considerada como uma das principais vias de transmissão e a prevenir. A inoculação do vírus acontece por inalação do vírus aerossolizado e quando a pessoa leva as mãos contaminadas à zona do nariz. O risco de contágio é muito superior em ambientes fechados e cheios de pessoas (ex.: creches, escolas, lares, centros de dia, etc.). Como fatores predisponentes para a infecção destacam-se: arrefecimento corporal (ex.: pés frios, cabeça molhada, etc.), fadiga, mau estado nutricional, doença respiratória de base (ex.: rinite alérgica, doença pulmonar, asma, etc.), deficiência imunitária por doença ou medicamentos, etc.

O período de incubação é geralmente de 1 a 2 dias e dura cerca de 5 a 7 dias apesar de poder atingir duas semanas em 25% dos casos.

As complicações da constipação são pouco frequentes, sendo na sua maioria infecções bacterianas secundárias:

  • Rinite bacteriana, sinusite: com rinorreia purulenta, cefaleias por cima dos olhos (por envolvimento dos seios frontais) e dor ao pressionar as zonas da face correspondentes ao seio perinasal envolvido;
  • Otite média aguda: particularmente no lactente e na criança com febre, dor de ouvido;
  • Exacerbação infeciosa de uma bronquite ou de DPCO;
  • Exacerbação da asma: porque a constipação produz uma hiperreatividade brônquica.

Etiologia
A constipação é uma infecção a vírus, sendo na maioria dos casos (30-40%) um Rinovirus (família com mais de 100 serotipos). Outras variedades de vírus envolvidos são: Coronavirus, vírus sincicial respiratório, vírus Coxsackie, Echovirus, vírus Influenza A e B, Parainfluenza e Adenovírus (nestes 3 últimos casos, surge sintomatologia sistémica e/ou das vias aéreas inferiores para além das vias superiores, típica da constipação). O vírus invade a mucosa nasal ou da faringe, laringe, podendo atingir também porções do trato respiratório inferior como a traqueia e os brônquios.

A infecção vírica desenrola-se em várias fases, iniciando-se pela entrada do vírus nas células da mucosa respiratória, onde se replica, libertando novas partículas víricas com lise e destruição da célula hospedeira e invasão de novas células, perpetuando o ciclo. A destruição das células da mucosa respiratória ativa os mecanismos de defesa do organismo, traduzindo-se numa reacção inflamatória local que é a responsável pelos sintomas que acompanham a constipação. Durante a invasão vírica são libertados vários mediadores pro-inflamatórios tais como as quininas (bradiquinina) e as interleucinas (IL1ß, IL6, IL8). É de salientar que não se deteta aumento da concentração de histamina nas secreções nasais, o que leva a crer que os mastócitos não desempenhem aqui um papel preponderante, ao contrário do que se passa na rinite alérgica. O efeito combinado dos diferentes mediadores induz um conjunto de reacções locais, nomeadamente:

  • Aumento do fluxo sanguíneo (hiperemia), aumento da permeabilidade capilar e extravasamento de fluidos para o espaço intersticial, fenómenos que provocam o edema da mucosa responsável pela congestão nasal e de outras áreas afetadas;
  • Aumento da secreção glandular, com rinorreia, resultante da estimulação colinérgica reativa à infecção;
  • Irritação da mucosa nasal e faríngea, com estimulação das vias nervosas sensoriais e consequente sensação de dor, de “pico” ou de “arranhado” no nariz e garganta;
  • Infiltração por células inflamatórias no local afetado.

Em linhas gerais, a constipação inicia-se com sensação de formigueiro nasal, faríngeo, e eventualmente dos olhos, progredindo para espirros e rinorreia seguida de congestão nasal. A garganta manifesta inflamação com dores e tosse reflexa que pode ser provocada pelo corrimento nasal pela orofaringe para os brônquios. A febre pode surgir mas de baixa intensidade.

As infecções por rinovírus estão associadas a sintomas que se desenvolvem rapidamente atingindo o auge 2 a 3 dias após a infecção, as do vírus sincicial respiratório estão associadas a sintomas que se desenvolvem lentamente ao longo de 5 ou mais dias. Pode estar associada a rouquidão, afonia, sendo estas resultantes da inflamação da laringe designada por laringite. 

Autor: 
Prof. Doutora Maria Augusta Soares
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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