Investigação revela

Comportamento agressivo pode estar relacionado com parasita no cérebro

Cientistas americanos sugerem que a irritação crónica pode ser resultado de um parasita no cérebro. De acordo com um estudo da Universidade de Chicago, adultos que sofrem de transtorno explosivo intermitente - uma condição psicológica marcada por surtos de raiva em resposta a situações triviais - são mais propensos a terem sido infetados com o protozoário Toxoplasma gondii.

“Situações sociais normalmente são os detonadores para os surtos. No trabalho, pode ser algum caso de frustração interpessoal, enquanto nas ruas pode ser levar uma 'panada' de outro carro”, diz Royce Lee, um dos autores do estudo.

O Toxoplasma gondii é um protozoário comum, que se reproduz em gatos e se espalha nas suas fezes, e causa a toxoplasmose, escreve o Diário Digital. Ele pode entrar no organismo humano por uma série de razões, inclusive com o consumo de carnes cruas ou indevidamente cozidas, bem como legumes e verduras que não foram lavados.

Estima-se que, no Reino Unido, quase um terço dos adultos já foram infetados com o protozoário, que se aloja nos tecidos do cérebro. Em mulheres grávidas, a toxoplasmose está ligada a abortos espontâneos e defeitos congénitos, incluindo a microcefalia.

Adultos com problemas imunológicos correm risco de vida. A doença frequentemente é assintomática, mas pesquisadores acreditam que os seus efeitos são mais sérios do que se pensava - alguns estudos sugerem uma relação com a esquizofrenia e mesmo uma influência sobre o número de acidentes de trânsito. Pesquisas em ratos descobriram que roedores infetados podem simplesmente perder o medo de gatos.

O estudo da Universidade de Chicago, publicado no Journal of Clinical Psychiatry, descreve como 358 adultos participaram de uma experiência para detetar se os seus níveis de impulsividade e agressão estavam ligados a infeção com o parasita.

Os participantes foram avaliados numa série de aspetos, passando também pela ansiedade. Foram divididos em três grupos: um terço não tinha sinal algum de problemas psiquiátricos, um terço tinha transtorno explosivo intermitente (IED, em inglês), e o restante tinha alguma outra desordem psiquiátrica, como ansiedade ou depressão.

Os cientistas, então, analisaram amostras de sangue dos participantes em buscas de sinais de infeções passadas. Participantes que tiveram resultados positivos para exposição ao protozoário tiveram pontuação muito maior nas escalas de agressão. Descobriu-se ainda que participantes diagnosticados com IED tinham duas vezes mais hipóteses de terem sido infetados com o parasita do que os que não apresentaram qualquer desordem: quase 22% dos diagnosticados com IED testaram positivo para o Toxoplasma gondii, comparados com 16,7% dos que tinham outras condições psiquiátricas e apenas 9% de indivíduos saudáveis.

Comentando os resultados do estudo americano, Richard Holliman, microbiologista do St George's University Hospital, no Reino Unido, ressaltou que a existência de uma correlação entre a presença do protozoário e a IED não pode ser totalmente interpretada como uma consequência da toxoplasmose.

“A questão é se a toxoplasmose causa o comportamento ou se o comportamento causa faz com que o indivíduo fique mais vulnerável à toxoplasmose. É uma daquelas discussões sobre a galinha ou o ovo”, diz Holliman.

A equipa da Universidade de Chicago admite que ainda precisa estabelecer se a infeção com o Toxoplasma gondii causa os surtos de raiva. Mas eles sugerem ainda que a infeção pode afetar o cérebro numa série de outras maneiras, incluindo uma espécie de ativação do sistema imunológico.

Lee recomenda cautela na interpretação dos resultados do estudo. “Ainda é cedo para que os resultados influenciem ações. Não queremos que ninguém se livre dos seus gatos.”

Fonte: 
Diário Digital
Nota: 
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