Como preparar os doentes crónicos para o frio
Porque é que as doenças respiratórias pioram no Inverno?
O frio é um irritante brônquico e, por isso, facilitador do agravamento das doenças respiratórias crónicas. A composição química do muco (expetoração e muco nasal) são mucopolissacáridos, que tem uma estrutura em rede composta por proteínas e glúcidos (açúcares). Este muco tem como finalidade a fixação dos irritantes que invadem o aparelho respiratório para serem expulsos. Acontece que os vírus e as bactérias ficam retidos no muco e, devido à sua composição – proteínas, glúcidos (açúcares) – e à temperatura do organismo, estão criadas as condições para a sua multiplicação com desenvolvimento das doenças infeciosas respiratórias virais e bacterianas. Outro efeito do frio é que provoca vasoconstrição com o consequente menor aporte dos leucócitos, glóbulos brancos, às áreas agredidas e por isso uma diminuição na capacidade de defesa das vias aéreas.
Quais as principais doenças respiratórias que se agravam com o tempo frio?
As doenças infeciosas com envolvimento das vias aéreas superiores e inferiores, virais e bacterianas, com particular relevância para as Pneumonias são mais relevantes no tempo frio, pelo referido anteriormente.
As agudizações infeciosas são fator de agravamento das doenças respiratórias crónicas, nomeadamente a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), a Asma brônquica, as Fibroses pulmonares e as Bronquiectasias, mas também outras menos frequentes como a Fibrose quística, a Hipertensão pulmonar de várias causas, a Síndroma de apneia obstrutiva do sono, as Doenças neuromusculares e as Doenças deformativas da parede torácica que conduzem a insuficiência respiratória e implicam muitas vezes a necessidade de utilização de oxigénio e mesmo de ventilação mecânica para que os doentes tenham uma boa qualidade de vida.
Como podemos prevenir o seu agravamento?
A adesão à terapêutica brônquica, que deve ser efetuada conforme a prescrição e a limpeza das vias aéreas são cuidados essenciais para não facilitar o aparecimento de infeções respiratórias, principal factor na prevenção do agravamento das doenças respiratórias crónicas.
A Reabilitação Respiratória, como componente integrante do plano de tratamento no doente sintomático é muito importante na prevenção e melhoria efetiva destes doentes.
Que outros cuidados são essenciais no âmbito da prevenção?
São imprescindíveis os cuidados de proteção da via aérea, antes de tudo evitar o fumo do tabaco, mas ainda as medidas de proteção do frio, sempre que possível o afastamento de locais com grande afluência de pessoas e de contacto mais estreito, a limpeza brônquica e das fossas nasais e atividade física protegida.
Qual a importância da vacinação para estes doentes?
A vacinação é proteção. Por isso estes doentes devem ser vacinados com a vacina da Pneumonia e, anualmente no Outono, com a vacina da gripe, como forma de prevenção destas doenças infeciosas, mais prevalentes nos meses de Inverno.
Em que consiste a Reabilitação Respiratória e quais os seus benefícios?
A Reabilitação Respiratória é uma componente fundamental no tratamento do doente respiratório crónico. Tem sido alvo de particular atenção pelos investigadores nos últimos 10 anos e é atualmente apontada como uma intervenção de 1ª linha no tratamento da DPOC, bem como em outras doenças respiratórias crónicas, propiciando diminuição dos sintomas, melhoria na funcionalidade, capacidade de exercício e qualidade de vida e na autonomia da gestão da doença.
Os principais benefícios da reabilitação respiratória são a redução dos sintomas respiratórios de fadiga e dispneia, a reversão da ansiedade e depressão associados à doença respiratória, a melhoria da tolerância ao exercício com aumento da resistência ao esforço, a melhoria na habilidade para a realização das atividades da vida diária, a redução das agudizações, a redução do número de consultas não programadas e recurso ao Serviço de Urgência, a redução do número de dias de hospitalizações, a diminuição dos custos diretos e indiretos relacionados com a saúde e uma melhor integração familiar e social.
Onde pode ser realizada?
A Reabilitação Respiratória deverá ter o suporte técnico de uma equipa interdisciplinar composta por médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e terapeutas ocupacionais.
Hoje, em Portugal, só um pequeno número de doentes respiratórios crónicos é privilegiado ao terem acesso a um tratamento global com Programa de Reabilitação incluído. Torna-se, pois, premente a abertura de Centros de Reabilitação Respiratória de proximidade, que possam dar respostas às necessidades do país.
O exemplo do AIR CARE CENTRE, Centro de Reabilitação Respiratória da Linde Saúde tem de ser multiplicado para chegar a um número significativo de doentes respiratórios crónicos com os evidentes benefícios daí decorrentes.
Qual a duração do tratamento? Deve este tratamento ser encarado como uma forma de prevenção? Neste caso, qual o melhor período do ano para se dar início à Reabilitação Respiratória?
O Programa de Reabilitação é individualizado face às necessidades diferentes de cada doente e também a sua duração. Este assenta em três pilares: controlo clínico, ensino e treino de exercício. O exercício deve fazer parte integrante do plano terapêutico do doente com doença respiratória crónica sintomática. Não há, por isso, um período para começar, mas a Reabilitação Respiratória é fundamental para habilitar o doente respiratório crónico a gerir adequadamente a sua doença, nomeadamente nos meses de maior prevalência de agudizações, no inverno.
Que outros conselhos gostaria de deixar no âmbito deste tema?
A Direção Geral de Saúde aponta para a necessidade de expandir a espirometria (função pulmonar) à população para avaliação funcional respiratória e a reabilitação respiratória de proximidade abarcando os doentes respiratórios crónicos sintomáticos, que dela necessitem.
As medidas de higiene das vias aéreas, a vacinação da Gripe e Pneumonias, a correta adesão à terapêutica e a reabilitação respiratória propiciam controlo da sua doença respiratória crónica e qualidade para a vida diária.