Tabagismo causa 12 mil mortes todos os anos

Como deixar de fumar e evitar recaídas

Atualizado: 
06/08/2019 - 11:03
Mais do que uma doença, o tabagismo é uma dependência. E a maioria dos fumadores não tem consciência de que sofre de um vício que pode e deve tratar. Neste artigo, a especialista em pneumologia, Paula Rosa, explica como conseguir deixar de fumar e evitar recaídas para bem da sua saúde.
Cigarro partido ao meio

De acordo com o último relatório divulgado pela Direção-Geral da Saúde sobre prevenção e controlo de tabagismo, em Portugal o tabaco continua a ser uma das principais causas de morte, estimando-se que, todos os dias, morram mais de 32 pessoas em consequência do seu consumo.

Cancro, doenças respiratórias e circulatórias associadas ao tabagismo são a causa de 12 mil mortes anuais.

No entanto,  e apesar de todas as campanhas e alertas a respeito dos malefícios do tabaco, muitos são os que teimam em colocar a vida em risco. “Apesar de a maioria dos fumadores estar consciente de que o tabaco é responsável por muitas doenças, acredita que nada lhe acontecerá”, começa por dizer Paula Rosa, da Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

De acordo com esta especialista, o fumador tem muita dificuldade em aceitar que tem uma dependência. “Ouvimos frequentemente os fumadores dizer: «eu acho que não sou viciado na nicotina», «eu tenho é vício de boca», «eu não engulo o fumo», «eu fumo por prazer» ou «eu fumo para estar entretido»”, justifica.

Por outro lado, saber que irá experienciar alguns sintomas associados à privação da nicotina, é meio caminho para não ter vontade de parar de fumar.

Por isso, a especialista afirma que é importante, em primeiro lugar, o fumador aceitar “sem medo que tem uma dependência que precisa tratar”.


"Os fumadores muitas vezes não procuram ajuda porque lhes parece que isso é sinal de fraqueza", diz a especialista da Sociedade Portuguesa de Pneumologia

“Depois, recomendo que escolha um prazo para parar completamente de fumar, um prazo que deve ser curto”, adianta revelando que vários estudos demonstram, precisamente a este respeito, que a forma mais eficaz de lidar com a dependência é parar completamente. “É como «desligar» a dependência! Há muitos mitos sobre parar de fumar de repente: ouve-se muita gente dizer que não se pode fazer, que é muito perigoso, no caso das grávidas diz-se que faz muito mal ao bebé, mas nada disto é verdade!”, afiança a Paula Rosa. “O que faz mal é fumar e a paragem abrupta desencadeia apenas a síndrome de abstinência”, assegura referindo que, caso esta seja difícil de tolerar, pode ser tratada. “O tratamento dura em média dois meses, o hábito de fumar, se não for interrompido, dura a vida toda”, afirma a médica especialista.

Este tratamento inclui a aprendizagem de estratégias que ajudam a resistir ao cigarro e, caso seja necessário, pode incluir a utilização de alguns fármacos. “Com frequência os fumadores tomam um medicamento que alguém lhe indicou ou que compraram na farmácia e dizem que não funcionou. Isto acontece porque o fumador está à espera que o medicamento lhe tire a necessidade e a lembrança de fumar, como num passe de mágica. Mas não é assim que funciona”, adverte a médica.

Na realidade, estes medicamentos, ao controlarem os sintomas da privação da nicotina, tiram a necessidade de fumar. No entanto, a lembraça de fumar permanece. “Eu costumo explicar aos fumadores que precisar do cigarro é diferente de lembrar-se de fumar: precisar é ficar ansioso, irritado, com dificuldade de concentração, ter taquicardia ou sensação de mal-estar quando não se pode fumar, lembrar-se é apenas a associação mental do cigarro a certas rotinas do fumador”, revela, pelo que é muito frequente a recaída nos ex-fumadores.

É que, mesmo depois de deixar de fumar, e mesmo sem sintomas de privação, os ex-fumadores lembram-se do seu hábito e “tendem a pensar que já conseguem controlar a vontade de fumar, mas não conseguem!”

Por fim, a pneumologista recomenda que decida qual a estratégia que vai utilizar para deixar de fumar. “Se sentir que para parar de fumar precisa de ajuda, recomendo que o faça!”, diz.

De acordo com Paula Rosa, uma percentagem significativa de fumadores precisa de apoio para resistir à privação do cigarro, que pode ser muito difícil de suportar. “Os fumadores muitas vezes não procuram ajuda porque lhes parece que isso é sinal de fraqueza”, revela.

Por isso, seja firme. “Não  se zangue consigo, zangue-se com o cigarro”, aconselha a pneumologista.  

Artigos relacionados

Tabagismo: parar de fumar não é apenas uma questão de força de vontade

Tabagismo continua a ser um dos mais importantes fatores evitáveis de morte prematura

Tabagismo: o principal fator de risco das doenças respiratórias

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay e Rx Consulting