Estudo

Comer menos pode fazer-nos viver mais

Há vários anos que cientistas desconfiam que a restrição calórica pode estar relacionada com mais anos de vida. Enquanto em seres humanos essa é apenas uma teoria por comprovar, no caso dos animais as conclusões são mais sólidas.

Lémures-ratos que sobrevivem com menos calorias durante a vida adulta vivem mais do que os seus pares, conclui um estudo publicado esta quinta-feira na revista científica Communications Biology. Na investigação, os animais sujeitos a uma restrição de calorias estavam fisicamente mais jovens na velhice e menos afetados por doenças como cancro ou diabetes, embora também tenham perdido massa cinzenta mais rapidamente, escreve o Sapo.

"Os resultados apresentados fornecem evidências de que a restrição calórica crónica moderada (30%), quando iniciada na vida adulta, pode prolongar a vida útil dos lémures-ratos em 50%" em comparação com os seus pares em cativeiro, lê-se no artigo.

A perda acelerada de massa cinzenta, um efeito secundário potencialmente preocupante, não teve no entanto nenhum impacto nas habilidades cognitivas dos animais, acrescenta a equipa francesa.

Mais anos de vida e melhor saúde
Já foi demonstrado que restringir a ingestão de calorias - reduzindo a quantidade de alimentos sem perder nutrientes essenciais - aumenta a esperança de vida em espécies de vida curta, como ratos, e melhora a saúde geral de alguns animais. No entanto, houve resultados contraditórios em macacos rhesus - animais com uma esperança de vida média de 27 anos em cativeiro e 40 na natureza.

Um artigo de 2012, feito com base em 23 anos de estudos, concluiu que uma dieta com cerca de 30% de restrição calórica tornou os macacos mais saudáveis, mas não prolongou as suas vidas.

Tal conclusão contradiz uma investigação do Centro Nacional de Pesquisa de Primatas de Wisconsin, nos Estados Unidos, que descobriu que os macacos com restrição calórica viviam mais do que os seus pares. Ainda não há nenhuma conclusão sólida sobre os benefícios potenciais da restrição de calorias em seres humanos.

No presente estudo, a equipa francesa procurou desenvolver a pesquisa observando os lémures-ratos que, tal com os humanos e macacos, são da família dos primatas.

Em média, o primata malgaxe vive cerca de 5,7 anos em cativeiro e cerca de 12 anos em estado selvagem.

O estudo começou em 2006, com 15 animais que receberam uma dieta diária "padrão" composta por seis gramas de frutas frescas e 15 gramas de uma mistura de cereais, leite e ovos - um total de 25 quilocalorias. Outros 19 lémures foram alimentados com o mesmo tipo de comida, mas com 30% menos quantidade - 16 quilocalorias por dia.

Os animais foram incluídos no estudo quando eram adultos jovens, com apenas três anos. Os cientistas descobriram que os lémures com restrição calórica viviam em média 9,6 anos, em comparação com os 6,4 anos para aqueles com a dieta padrão.

No final do estudo, todos os 15 lémures com a dieta padrão tinham morrido, enquanto sete lémures com restrição calórica permaneciam vivos.

Todos os sete chegaram aos 13 anos, "o que é muito além do tempo de vida máximo" registado, segundo o estudo.

A perda de massa branca - tecido conectivo que permite que diferentes regiões do cérebro se comuniquem - foi retardada nos lémures com restrição de calorias, segundo os cientistas.

Mas a perda de massa cinzenta - a camada externa enrugada do cérebro, que abriga os processos de aprendizagem e memória, função motora, habilidades sociais, linguagem e resolução de problemas - foi acelerada. Isso aponta para "um potencial impacto negativo da restrição calórica na integridade cerebral, o que merece mais investigação", conclui a equipa.

Fonte: 
Sapo
Nota: 
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