Combater demoras nas urgências com exames "é inútil" e perigoso
Os problemas das últimas semanas nas urgências dos hospitais, com longas filas de espera e cinco casos em que doentes acabaram por falecer, levaram a que o Ministério da Saúde apresentasse uma proposta de resolução. O despacho, que deve vigorar a partir de Junho, consiste em atribuir aos enfermeiros competências na triagem para pedir exames complementares de diagnóstico e darem analgésicos para controlar a dor.
Os enfermeiros, como já havia noticiado o Jornal de Notícias, congratulam-se com a medida, mas para os médicos esta visa enganar os doentes, dando-lhes a ideia de que estão a ser atendidos. Mais: defendem que pode ser perigoso.
“Fazer analgesia antes de observação clínica representa um enorme risco para os doentes, podendo mascarar algumas situações potencialmente graves”, defende a Ordem dos Médicos, que chega mesmo a afirmar que “o despacho é demagógico, inútil e prejudicial”.
Ao Jornal de Notícias, o bastonário José Manuel Silva conta que o número de casos em que os doentes acabam por morrer à espera de serem atendidos é muito superior ao que se imagina e que nem todas as situações são tornadas públicas apenas porque a família não o quer.
Segundo o responsável, a medida não resolve nenhum dos verdadeiros problemas das urgências em Portugal e tem como único objectivo camuflar o facto de haver poucos médicos para tantos doentes.