Equipa brasileira:

Cientistas descobrem gene que gera metástase

Um gene conhecido pelo nome de hotair parece exercer um papel importante na regulação da metástase – o mecanismo celular que permite a disseminação do cancro de um órgão para outro.

Ainda é cedo para dizer com certeza, mas bloquear a acção do hotair pode ser uma forma de combater a metástase no futuro e permitir que o cancro seja tratado apenas no local original, indica um novo trabalho de investigadores do Centro de Terapia Celular (CTC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), no Brasil.

O estudo indica que o RNA fabricado pelo gene localizado no cromossoma humano 12 é responsável por activar no tumor a chamada transição epitélio-mesenquimal (EMT, na sigla em inglês), um processo que altera a morfologia e a funcionalidade de uma parcela das células do cancro. “Dessa forma, as células epiteliais do tumor transformam-se em células mesenquimais e passam a comportar-se como se fossem células-tronco do cancro”, diz o geneticista Wilson Araújo da Silva Junior, do CTC.

“As células do cancro ganham a capacidade de se desprender do tumor original, migrar pela corrente sanguínea e aderir a outros órgãos e gerar novos cancros”, explica o autor do estudo.

Além de promover o processo que espalha a doença pelo organismo via metástase, a EMT também ajuda a perpetuar as células do próprio tumor original. A transição epitélio-mesenquimal é uma transformação que normalmente ocorre nos estadios iniciais de desenvolvimento de um embrião e participa da geração de diferentes tipos de tecido de um organismo. Também está associada a processos curativos que incluem a formação de fibroses e a regeneração de ferimentos. Nessas situações, a EMT é um processo benéfico para a manutenção da vida.

O problema é que, no caso dos tumores, a ocorrência dessa transformação também parece ser útil no seu desenvolvimento. As células do epitélio formam o tecido que recobre externamente (pele) ou internamente (mucosas) as cavidades do organismo. Elas não apresentam a propriedade de se soltar umas das outras, disseminar-se pelo organismo e tornar-se outros tipos de célula. A sua aparência e função são diferentes das células mesenquimais, que têm a propriedade de se espalhar pelo organismo e de se transformar em outros tipos de célula. Ou seja, por essa linha de raciocínio, se não houver EMT, fica mais difícil para um tumor disseminar-se num organismo.

As sequências do genoma humano que não carregam instruções para a produção de proteínas e que, há uma década, eram denominadas ADN lixo mostram-se cada vez mais importantes para entender a maquinaria celular implicada em processos biológicos, inclusive em certas doenças.

Às vezes, a quimioterapia e a radioterapia matam a maior parte das células do cancro, mas não as que fizeram a transição epitélio-mesenquimal, as tais células-tronco do cancro. É através delas que o tumor original volta ou aparece noutro lugar. “As células de um tumor são heterogéneas”, comenta Marco Antonio Zago, outro autor do artigo e coordenador do CTC, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) mantidos pela Fapesp. “Na experiência, quando silenciamos o hotair, vimos que não ocorre a EMT”. O trabalho foi publicado na revista Stem Cells em Setembro.

Fonte: 
POP
Nota: 
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