Células das plantas comunicam a partir de proteínas que existem nos animais
O estudo é tema de capa da edição impressa desta sexta-feira da revista científica Science e foi coordenado por José Feijó, investigador da universidade norte-americana de Maryland, que começou a pesquisa quando ainda trabalhava no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC).
Em declarações, o investigador disse que o estudo permite compreender melhor a defesa das plantas contra infeções, a sua reprodução e a sua resposta ao 'stress' ambiental, que poderá conduzir "a melhores estratégias de adaptação às alterações climáticas".
Para este trabalho, os cientistas usaram células de pólen da "Arabidopsis thaliana", uma pequena planta herbácea com flor nativa da Europa e da Ásia habitualmente utilizada nos laboratórios como modelo para estudos de biologia de plantas.
A equipa de investigação descobriu que os recetores de glutamato, que são proteínas, "têm um papel essencial na comunicação nas células das plantas", ao regularem os "níveis de iões de cálcio que existem dentro da célula", refere o IGC em comunicado.
Os iões de cálcio são fundamentais para "a resposta a 'stress' ambiental, como o provocado por alterações climáticas, e para a imunidade a infeções causadas por insetos ou fungos", adianta o IGC.
Os recetores de glutamato existem nos animais, mas, de acordo com os cientistas, desempenham uma função diferente dos das plantas, apesar de, em ambos os organismos, estas proteínas deixarem entrar cálcio para dentro da célula e, deste modo, permitirem "transmitir informação entre células", segundo José Feijó.
Nos animais, os recetores interferem apenas na comunicação entre neurónios (células cerebrais) "ajudando na transmissão dos sinais nervosos de um neurónio para outro".
"Parte da sua função consiste em permitir que o cálcio entre dentro dos neurónios para que o sinal nervoso seja comunicado", precisa o IGC, acrescentando que, se os recetores de glutamato não funcionarem corretamente, podem surgir problemas cognitivos ou neurodegenerativos.
Nas plantas, que não têm sistema nervoso, tais recetores, sinalizados em vários compartimentos da célula e cuja atividade é regulada por outras proteínas, têm um papel ao nível da reprodução, do crescimento e da imunidade contra doenças e pragas, além de permitir a propagação de estímulos elétricos.
"Quase todas as plantas têm mais tipos de recetores de glutamato que todo o nosso sistema nervoso, e esse facto sugere que sejam importantes para muitas funções", assinalou José Feijó.