Quinta do Pisão

A casa onde pessoas com doenças mentais são tratadas com o coração

Escondida entre árvores e ribeiras, em pleno Parque Natural de Sintra-Cascais, a Quinta do Pisão é a morada de 340 pessoas com doenças mentais que vivem sob os cuidados de quem trabalha "com o coração".

Rita Valente é a actual coordenadora dos serviços sociais e há 30 anos que cuida dos 275 homens e 65 mulheres a quem foram diagnosticadas doenças psiquiátricas e que estão ali internados. Sabe o nome de todos e todos a conhecem também.

"Professora", "tia", "mãe" é como a chamam, repetidamente, quando atravessa o pátio onde todos passeiam. Rita fala com todos, cumprimenta os que lhe estendem a mão, deixa-se abraçar.

"Para mim não é um trabalho. É um privilégio. Estas pessoas dão-nos imensas coisas. Estão sempre agradecidas. A família deles, muitas vezes, somos nós e são muito gratos por aquilo que lhes fazemos", contou à agência Lusa.

A coordenadora explicou que há casos muito frágeis, de "extrema dependência" e que exigem uma interação muito próxima de todos os que ali trabalham, para dar de comer, mudar fraldas, ou simplesmente para conversar. Por este motivo, não lhe restam dúvidas: "é um trabalho feito com o coração".

Para a directora do Centro de Apoio Social do Pisão (CASP), Anabela Gomes, gerir um espaço assim é "um desafio diário", até porque, contou, há cada vez mais casos e de pessoas mais jovens.

"De há 11 anos para cá que estou na direcção sinto que a população que vem tem outros recursos, de formação e académicos e necessidades terapêuticas. Há cada vez mais casos e mais jovens, daí que as nossas necessidades estejam também a mudar", contou.

A responsável alertou também para o aparecimento de pessoas com toxicodependência, que são, muitas vezes, pessoas violentas.

"São casos que estão a aparecer e que não recebíamos há uns tempos, mas agora recebemos, talvez porque as respostas na Saúde estão com mais dificuldades", lamentou Anabela, sublinhando, por isso, a necessidade urgente de mais recursos humanos.

O apelo é partilhado pela provedora da Santa Casa da Misericórdia de Cascais, que gere o espaço.

Isabel Miguéns disse que o CASP "não é nenhum caixote do lixo", que recebe as pessoas que outras entidades não podem cuidar.

"Nós não temos condições de receber aqui pessoas violentas e com doenças transmissíveis, porque depois há também pessoas muito frágeis e nós não temos recursos para estas situações", disse.

A provedora lamentou ainda que Quinta do Pisão, localizado no Parque Natural Sintra-Cascais, não possa ser aproveitada.

"É um pouco maldade que um espaço tão grande (340 hectares) não tenha retorno para esta comunidade a precisar tanto dos seus recursos. Eu queria, por exemplo, fazer um ginásio, mas não podemos fazer nada porque é área protegida", referiu.

Às pessoas que se dedicam a ajudar os doentes, Isabel Miguéns sabe que o segredo é "gostar e esquecer os problemas".

"Não somos nós que estamos numa secretária que fazemos alguma coisa. Ajudamos, mas não fazemos nada", reconheceu.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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