Cárie de biberão
A cárie precoce da infância, antigamente designada por Cárie de Biberão, é uma doença infecciosa crónica, transmissível e tem origem em causas diversas, que afeta os dentes de leite logo após a erupção dentária. Resulta da adesão de bactérias à superfície dentária que metabolizam os açúcares ingeridos para produção de ácidos, os quais ao longo do tempo levam à desmineralização da superfície dentária. É uma cárie aguda, agressiva e de evolução rápida que provoca sensibilidade (dor), chegando a causar a destruição e a perda precoce dos dentes num curto espaço de tempo. Apresenta-se inicialmente como manchas brancas e opacas que passam despercebidas aos pais na maioria das vezes. Se não houver um acompanhamento da criança o problema pode evoluir para cavitações (lesões de cárie) que, com o tempo, irão adquirir uma coloração acastanhada. Os dentes de leite anteriores superiores são os primeiros a serem afetados seguindo-se o comprometimento dos dentes posteriores numa fase mais tardia.
Em estágios avançados, devido à falta de um diagnóstico precoce, poderão ocorrer graves disfunções a nível da mastigação, fonação, respiração e articulação, prejudicando assim o crescimento e desenvolvimento normal da criança.
O desenvolvimento da doença ocorre devido a hábitos alimentares pouco saudáveis quando não acompanhados de uma correta higiene oral, nomeadamente a ingestão de leite materno e de líquidos açucarados durante o sono como leite, sumos, chás, entre outros. Também pode ocorrer pelo uso de chupetas embebidas em substâncias doces.
Os métodos de prevenção passam por iniciar os hábitos de higiene oral o mais cedo possível, logo após a erupção do primeiro dente. A higiene deve ser realizada 2 a 3 vezes por dia, sendo uma delas obrigatoriamente antes de deitar ou depois do último biberão do dia, com recurso a uma escova com cerdas macias de tamanho proporcional ao tamanho da criança e com pasta dentífrica fluoretada apropriada (incremento não maior que uma ervilha). Nas crianças, o ato de higiene oral deve ser sempre supervisionado pelos pais.
Nos bebés lactentes ainda sem dentes, a higiene oral deve ser feita após a amamentação, com o objetivo de familiarizar a criança com a higiene oral, colocando uma dedeira de borracha ou simplesmente uma gaze embebida em água morna e limpar com movimentos circulares os lábios, a gengiva e a língua. Se a criança ou o bebé vomitarem com muita frequência, a higienização deve ser mais frequente visto que o risco de cárie aumenta com a acidez do vómito.
Outro método preventivo passa por reduzir os níveis de bactérias cariogénicas na saliva dos pais e irmãos da criança, evitando a transmissão bacteriana aquando da partilha de utensílios. Deve também evitar-se o uso do biberão à noite para adormecer a criança, pois os líquidos açucarados irão permanecer em contacto com os dentes durante muito tempo. Uma dieta equilibrada, em que os açucares não são proibidos mas sim controlados, deve ser implementada tão cedo quanto possível.
Quanto ao tratamento, a conduta clínica de cada caso dependerá da extensão das lesões, da idade e do comportamento da criança, assim como da cooperação dos pais. O objetivo é eliminar a dor e diminuir os focos de infeção dentária recorrendo ao tratamento clínico mais adequado. Restaurações a compósito bem como coroas de aço podem ser as alternativas de tratamento escolhidas pelo médico dentista. Uma vez que estamos a falar de crianças muito pequenas, poderá ser necessário recorrer a sedação consciente ou mesmo a anestesia geral de modo a proporcionar um tratamento dentário não doloroso.
É importante a criança perceber que uma visita ao médico dentista é uma experiência positiva. O médico irá controlar o crescimento e desenvolvimento dentário do bebé, dando conselhos sobre a importância do flúor, como manter uma boa higiene oral, como lidar com os hábitos orais da criança, nutrição e dieta. Os pais devem ter a preocupação de levar a criança a consultas de rotina de 6 em 6 meses.