Opinião

Cannabis: "o uso desta substância deve ser feito de forma cautelosa"

Atualizado: 
23/01/2018 - 10:39
Numa altura em que muito se fala sobre a utilização da Cannabis para fins terapêuticos, importa saber se podemos estar seguros quanto aos seus benefícios. Armando Barbosa, Anestesiologista especialista na Terapêutica da Dor na Clínica Paincare, escreve sobre o tema e adverte que ainda não existem evidências suficientes que suportem a sua recomendação.

Os primeiros usos da cannabis foram medicinais, nomeadamente na India e China acerca de 6000 anos atrás. A cannabis possui um ingrediente chamado  Delta - 9 Tetrahidrocannabinol (THC) que produz um estado de euforia e prazer estimulando ainda o apetite e melhorando o sono. Nas últimas décadas assistiu-se a um aumento deste ingrediente para fins recreativos. Outros tipos de cannabis não tem concentrações tão elevadas deste ingrediente sendo ricas em cannabidiol (CBD) e cannabinol (CBN), e são estas variedades que tem tido mais utilizadas para uso medico por serem menos psicoactivas.

A Cannabis médica atua de forma semelhante às endorfinas  que temos no nosso Sistema Nervoso, este tem uns receptores que interagem com as substâncias da cannabis produzindo o seu efeito. Esses receptores localizam-se nas regiões cerebrais relacionados com a memória, equilíbrio e aprendizagem.

Quando se fala da aplicação médica um dos pontos essências dessa discussão é a forma de administração. Pode ser oral por via de comprimidos por via inalatória através de dispositivos médicos.

Recentemente foi desenvolvido em Israel um dispositivo que promete revolucionar a administração desta substância, esse dispositivo permite ao médico controlar por via de um software a dose exata de substância que o doente consome por dia, não sendo possível consumir mais do que o estipulado. Isto permitirá melhorar consideravelmente a segurança do doente.

Cada um dos componentes da Cannabis tem propriedades específicas. Assim o THC parece actuar mais como anti epiléptico, o CBD redução das náuseas e vómitos redução da ansiedade, na redução da náusea, dor neuropática, anti convulsivante e como anti psicótico  o CBN como redutor da pressão no olho (glaucoma).

É usada em vários países em que o seu uso é autorizado para:

Casos de caquexia ( falta de apetite) em doenças como o cancro ou sida, como tratamento coadjuvante para a dor neuropática, esclerose múltipla, nauseas e vómitos, Epilepsia e Doença de crohn

O uso desta substância deve ser feito de forma cautelosa e sempre tendo em atenção os efeitos secundários que pode provocar, nomeadamente: tonturas, perdas e memória, vertigens, euforia e nos casos mais graves ansiedade severa e psicoses, deve-se ter em atenção que não existem ainda estudos suficientes que comprovam a segurança da cannabis, por esse motivo deve-se sempre ser cauteloso com a sua administração.

Sabemos também que interfere com o desenvolvimento do sistema nervoso central sendo que este esta em formação até aos vinte e cinco anos, idade de maior consumo desta substância para fins recreativos.

A cannabis interfere também com a produção de testosterona prejudicando a vida sexual, a parte osteo muscular e cardio vascular.

As novas formas de administração permitirão aos médicos e ao legislador maior confiança na prescrição e na legislação desta substância 

Autor: 
Dr. Armando Barbosa - Anestesiologista Especialista na Terapêutica da Dor
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Clínica Paincare