Novos estudos indicam

Cancro do cólon com origem num agente infeccioso

Já era conhecida a relação entre o consumo de carne vermelha e o cancro do cólon, mas novos estudos revelam agora que a culpa poderá ser de um agente infeccioso, presente no bovino mal cozinhado.

Harald zur Haussen, médico alemão de 77 anos, que recebeu o Prémio Nobel da Medicina em 2008, revelou que o cancro do cólon, um assassino em série no mundo rico, poderá ter origem num agente infeccioso. O cientista esteve em Lisboa, na semana passada, para participar na conferência iMed, promovida pelos estudantes de Medicina da Universidade Nova, e sugere que a relação, já demonstrada, entre o consumo de carne vermelha e aquela doença, se deve, afinal, a um agente infeccioso, transportado pela carne mal cozinhada, noticia a revista Visão na sua edição online.

É que pouco mais de 20% dos cancros estão associados a infecções, cabendo nestes casos o cancro do colo do útero, ligado ao Papiloma Vírus Humano (HPV), ou o cancro do fígado, relacionado com a hepatite, ou mesmo o cancro do estômago, cujo risco aumenta em pessoas infectadas com a bactéria Helicobacter pylori.

“A seguir à II Guerra Mundial, houve uma transferência do arroz para a carne vermelha e, em vários pratos, a carne surge mal cozinhada”, nota Harald zur Haussen. “Uma cozedura a 70 graus não mata alguns vírus”, acrescenta. Nos últimos anos, o cientista tem vindo a juntar esta e outras pistas, sobretudo dados epidemiológicos, que suportam a sua tese. É o caso dos estudos que estimam um risco aumentado de cancro do pulmão e da orofaringe nos trabalhadores de talhos. “Será algum agente infeccioso transmissível pelo ar?”, questiona. Para o médico alemão, o culpado até já tem nome: TT. É um tipo de vírus descoberto recentemente, que se replica nas células linfáticas e na medula óssea. “Está presente em praticamente todas as biopsias a cancros do cólon”, sublinha.

O Japão e a Coreia do Sul são dos países em que a incidência do cancro do cólon mais cresce. Por outro lado, na Índia, onde não se come carne de vaca, o risco de cancro colo-rectal é muito baixo.

Habituado a andar contra a corrente, o investigador não levanta o problema sem apresentar uma solução: “No futuro, poderíamos vacinar o gado bovino contra este agente infeccioso. E aí teríamos carne vermelha, sem contra-indicações”.

Ciente da controvérsia e das reticências que a sua teoria levanta, o médico recorda que ainda há pouco tempo ninguém acreditava que existissem carcinogénicos químicos. “O mais importante em Ciência é não aceitar dogmas”.

Fonte: 
VisãoOnline
Nota: 
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