Dia Mundial da Tiroide

Cancro da Tiroide: “ O melhor cancro que se pode ter”

Atualizado: 
25/05/2016 - 11:13
Cerca de 200 milhões de pessoas, em todo o mundo, apresentam alguma forma de doença da tiroide. O Dia Mundial da Tiroide, que se assinala hoje, foi instituído com o objetivo de aumentar o grau de sensibilização e conhecimento da população para as patologias associadas. António Freitas, cirurgião Geral do Hospital Lusíadas Porto, fala-nos de Cancro da Tiroide e explica porque este é o melhor cancro que se pode ter.

“O melhor cancro que se pode ter”.  Esta é uma citação que é comum ouvir aos cirurgiões que tratam cancros e que, em suma, quer dizer que a termos um cancro que seja um bem diferenciado da tiroide.

A GLÂNDULA TIROIDE

A tiroide é uma glândula endócrina em forma de borboleta localizada na parte anterior e inferior do pescoço, sobre a traqueia. Tem dois lobos e o istmo que os une.

A sua função é, a partir do iodo que é absorvido no tubo digestivo, formar hormonas tiroideias, tiroxina (T4) e Triiodotironina (T3), que são depois libertadas na corrente sanguínea para todos os órgãos e tecidos do corpo. Esta função está dependente de  um mecanismo de autoregulação, que envolve a produção de TRH (Thyrotropin Releasing Factor) no hipotálamo, e de TSH (Thyrotropin Stimulating Hormone) na hipófise, que se localizam no cérebro.

As principais doenças da tiroide relacionam-se com a alteração da sua função, decorrente da alteração da sua produção hormonal, ou com a alteração da sua forma ou estrutura, decorrente do seu aumento de dimensão e/ou formação de nódulos.

As alterações funcionais denominam-se hipertiroidismo e hipotiroidismo, conforme há aumento ou diminuição da produção das hormonas circulantes (T3 e T4). Estas doenças são pouco frequentes e são habitualmente tratadas por Endocrinologia. Em alguns casos, o tratamento pode ser cirúrgico.

O aumento da dimensão da tiróide denomina-se bócio e é a alteração mais frequente da tiroide. Há vários tipos de bócio. O tratamento a realizar vai depender do tipo de bócio. O tratamento é frequentemente cirúrgico. Há, no entanto, muitos casos em que não é necessário qualquer tratamento, apenas vigilância clinica.

Os nódulos da tiroide são muito frequentes. A maioria (80%) são benignos e não têm qualquer importância clinica, ou seja, não originam qualquer tipo de sintomas e não precisam de qualquer tipo de tratamento.

Os nódulos da tiroide podem ser malignos (cancro da tiróide), e neste caso o seu tratamento é obrigatório.

Por este facto, vamos debruçar-nos mais sobre esta doença.

CANCRO DA TIROIDE

É raro e muito tratável.

Na maior parte dos casos é curado com cirurgia ou cirurgia seguida de iodo radioactivo.

Mesmo nos casos mais avançados é possível fazer-se um tratamento eficaz e bem tolerado.

Em geral o prognóstico do cancro da tiroide é excelente. Nos cancros pequenos, em doentes com menos de 45 anos e com  histologia de carcinoma papilar a cura aos 10 anos é cerca de 100% . Geralmente não dão sintomas.

As análises não ajudam no diagnóstico de cancro da tiróide.

O melhor método de despistar a existência de cancro da tiroide é ficarmos seguros que não existe nenhum nódulo na glândula, pelo exame físico realizado por um médico.

Muitos são detectados por acaso, por Ecografia ou TAC realizados por outros motivos. Não há, no entanto, indicação para fazer “ecografia de rastreio”.

Ocasionalmente é o próprio doente que  detecta um nódulo no pescoço.

O cancro da tiroide é mais comum nas pessoas que receberam radiação em altas doses na região da cabeça ou pescoço para tratamento de outras doenças, pessoas expostas a radiação nos desastres nucleares como Chernobyl e Fukushima, pessoas que têm história familiar de cancro da tiróide e que têm mais de 40 anos.

O diagnóstico definitivo é feito apenas após a cirurgia, pelo exame histológico da peça operatória. No entanto, a Ecografia e principalmente a Citologia Aspirativa realizadas antes da cirurgia para estudar o nódulo, dão-nos informações muito importantes, fundamentais para tomar a decisão de operar.

Existem 4 tipos de cancro da tiroide:

Carcinoma papilar. É o mais comum – 70 a 80%. Tem crescimento lento e pode disseminar para os gânglios linfáticos do pescoço. É o que tem melhor prognóstico.

Carcinoma folicular – 10 a 15% e geralmente aparece em doentes mais velhos que o carcinoma papilar. Pode disseminar para os gânglios linfáticos mas também pelos vasos sanguíneos para os pulmões e ossos

Carcinoma medular: 5 a 10% dos cancros da tiroide. Tem incidência familiar e pode estar associado a outos problemas endócrinos.

Carcinoma anaplástico: Felizmente raro, menos de 2%. O tipo mais agressivo e com poucas respostas ao tratamento.

O tratamento do cancro da tiroide  é cirúrgico: Tiroidectomia total com ou sem exérese dos gânglios linfáticos adjacentes. Em casos seleccionados a exérese de um só lobo da tiroide é suficiente.

Geralmente só a cirurgia é suficiente para curar o cancro.

Em casos seleccionados deve associar-se terapêutica com iodo radioactivo para destruição de tecido tiroideu restante após a cirurgia.

As principais complicações da cirurgia da tiroide relacionam-se com a  lesão de estruturas próximas da glândula, como as glândulas paratiróides, os nervos laríngeos recorrentes e laringeos superiores. A lesão destes nervos pode condicionar uma alteração da voz e a lesão das glândulas paratiróides pode condicionar uma falta de cálcio no sangue.

Após tratamento os doentes devem ser avaliados regularmente pelo Cirurgião e ou Endocrinologista.

Os doentes sujeitos a tiroidectomia total necessitam de fazer terapêutica com Levotiroxina  (Letter; Thyrax; Eutirox;) para toda a vida em doses que irão sendo ajustados face ao valor do TSH. Poderão também ter que tomar comprimidos de cálcio, se houver lesão das paratiróides.

O seguimento dos doentes é feito realizando exame físico regular, análises, com doseamento de T4, TSH, Tireoglobulina e anticorpos anti-tireoglobulina, e ecografia cervical. A frequência destes exames é definida pelo seu médico.

 

Autor: 
Dr. António Freitas - Cirurgião Geral do Hospital Lusíadas Porto
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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