Cancro da laringe
O cancro da laringe refere-se a um tumor maligno da laringe (cordas vocais). A laringe está localizada acima da traqueia e desempenha um papel importante na respiração, deglutição e fala. Segundo o Registo Oncológico Nacional, em Portugal são diagnosticados cerca de 600 novos casos de cancro da laringe por ano, o que corresponde a uma percentagem de 2 por cento de todos os tumores diagnosticados, sendo o terceiro país da Europa com maior incidência.
A origem do cancro da laringe, como acontece com todos os cancros, ainda não é suficientemente clara. Todavia, ao contrário do que sucede nos outros tipos de cancro, no da laringe são conhecidos alguns factores intimamente ligados ao seu desenvolvimento, os quais podem ser considerados factores causadores.
O desenvolvimento de um tumor maligno na laringe está, na maioria dos casos associado ao hábito de fumar. Inúmeros estudos indicam que no mínimo 90 por cento das pessoas afectadas são fumadoras.
O fumo do tabaco contém substâncias cancerígenas cuja repetida inalação pode provocar a transformação anómala de algumas células da mucosa laríngea. Deste modo, começam a multiplicar-se exageradamente, o que dá origem a um tumor que cresce, invade as estruturas adjacentes e se dissemina para outros tecidos e órgãos afastados, formando tumores secundários metástases).
Além do tabagismo, determinaram-se outros factores de risco, como o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e também a laringite crónica, provocada por infecções agudas repetidas, má utilização da voz ou inalação persistente de ar contaminado por pó ou vapores irritantes.
O diagnóstico precoce é da maior importância, pois o tratamento depende das dimensões e da localização do tumor. Em Portugal o carcinoma das cordas vocais constitui a forma mais frequente do cancro da laringe.
Sintomas
Os sintomas iniciais dependem do sector da laringe onde o tumor se desenvolve.
Este cancro surge frequentemente nas cordas vocais e provoca rouquidão. Se uma pessoa estiver rouca durante mais de duas semanas, deverá consultar o médico.
O cancro noutras partes da laringe provoca dor e dificuldade de deglutição. Nalguns casos, no entanto, antes de qualquer outro sintoma, detecta-se primeiro um volume no pescoço, provocado pela extensão do cancro a um gânglio linfático (metástase).
O tumor na glote costuma manifestar-se através de sintomas precoces, pois a alteração na mobilidade das cordas vocais provoca rouquidão e afonia, inicialmente de maneira intermitente, mas ao fim de algum tempo permanente. Além disso, em alguns casos, provoca uma tosse seca, ardor ou sensação de corpo estranho na garganta e, quando o tumor cresce, dificuldade respiratória e dor na deglutição.
Por outro lado, caso o tumor se situe no espaço supraglótico ou no subglótico, ou seja, por cima ou por baixo das cordas vocais, os sintomas iniciais não são tão claros, pois não se produzem alterações evidentes da voz.
Em caso de cancro supraglótico, as primeiras manifestações são semelhantes as de uma faringite crónica, com sensação de ardor na garganta ou de presença de um corpo estranho no seu interior, o que pode induzir a expectoração - apenas quando o tumor cresce é que surgem dores e alterações da voz.
Nos casos de cancro subglótico, o tumor pode crescer durante muito tempo sem originar problemas na fonação nem na respiração, os quais apenas surgem nas fases mais avançadas, quando invade as cordas vocais e obstrui a passagem do ar para os pulmões.
Caso não seja detectado e tratado a tempo, o cancro da laringe, independentemente da sua localização, costuma disseminar-se por via linfática para os gânglios do pescoço, os quais acabam por aumentar de tamanho.
Nas fases mais avançadas da doença, o doente apresenta um grande cansaço, perda de apetite, emagrecimento e uma deterioração evidente do estado geral. Sem o tratamento adequado, a evolução desta doença é fatal a curto ou médio prazo, sem quaisquer excepções.
Diagnóstico
Para fazer o diagnóstico, o médico observa a laringe através de um laringoscópio (um tubo utilizado para a visualização directa da laringe) e faz uma biopsia (recolhe-se uma amostra de tecido que se examina ao microscópio) do tecido que se suspeita ser canceroso.
Depois o cancro é classificado conforme o seu estadio, de I a IV, tomando como base até onde se propagou.
Tratamento
O tratamento baseia-se em três medidas terapêuticas: a cirurgia, a radioterapia (aplicação de radiações) e a quimioterapia (administração de medicamentos citostáticos que impedem a proliferação das células cancerosas). A escolha ou combinação destes procedimentos terapêuticos depende, acima de tudo, da localização e extensão do tumor.
Para um cancro num estado primário, o tratamento usual consiste em cirurgia ou radioterapia. Quando as cordas vocais são afectadas, a radioterapia costuma ser o tratamento de eleição porque geralmente preserva o tom normal da voz.
Para o cancro num estado avançado, o tratamento usual é a cirurgia, que pode consistir em extirpar parcial ou totalmente a laringe (laringectomia parcial ou total), geralmente seguida de radioterapia.
A ressecção total das cordas vocais deixa a pessoa afectada sem voz. Nestes casos, é possível criar uma nova voz por meio de um de três métodos: a fala esofágica, uma fístula traqueoesofágica ou uma electrolaringe. No caso da fala esofágica, ensina-se a pessoa a recolher ar no esófago enquanto inspira e a expulsá-lo gradualmente para produzir um som.
Uma fístula traqueoesofágica é uma válvula unidirecional que se insere cirurgicamente entre a traqueia e o esófago. A válvula faz entrar ar no esófago enquanto a pessoa inspira e, assim, é produzido som. Se a válvula funcionar mal, os líquidos e os alimentos podem entrar acidentalmente na traqueia.
A electrolaringe é um dispositivo que actua como uma fonte de som quando é colocado junto ao pescoço. Os sons produzidos pelos três métodos são convertidos em palavras como as da fala normal (utilizando a boca, o nariz, os dentes, a língua e os lábios). No entanto, a voz produzida por estes métodos é artificial e é muito mais fraca do que a normal.