Cancro Colorretal: metade da população não conhece os sintomas
De acordo com os dados divulgados, o Cancro Digestivo mata uma pessoa por hora em Portugal, representando 10% da mortalidade do país. Sendo que a adoção de medidas de prevenção adequadas e o diagnóstico precoce poderiam ajudar a reverter este panorama, é sobretudo importante conhecermos as doenças associadas. Neste sentido, quais os tumores que integram este grupo?
Os principais tumores digestivos responsáveis por esta mortalidade são o cancro do cólon e reto, o cancro do estômago, o cancro do fígado e os cancros do pâncreas e do esófago.
Destes, quais os mais frequentes?
O mais frequente é, claramente, o cancro do cólon e reto que é a principal causa de morte por cancro no nosso país, quando se consideram homens e mulheres em conjunto.
Quais os principais fatores de risco associados ao Cancro Digestivo?
Os fatores de risco variam com o tipo de cancro, mas há alguns que são comuns a vários deles, nomeadamente, a obesidade, o tabaco, o consumo excessivo de álcool e a história familiar de alguns tipos de cancro.
Relativamente ao Cancro do Cólon e Reto (ou Cancro Colorretal), sabe-se que, apesar de ser considerado como a principal causa de morte por cancro no nosso país, é também o mais fácil de evitar (sendo o único que é precedido de uma lesão benigna que facilmente poderá ser retirada). O que falha então em matéria de prevenção?
Falta divulgação, em termos do risco que existe e dos métodos de rastreio disponíveis e falta também acesso a esses métodos de rastreio.
No caso deste tipo de cancro, quem corre risco de o desenvolver?
Qualquer indivíduo, homem ou mulher, com 50 anos ou mais está em risco de desenvolver este cancro e deve iniciar rastreio. Quando há história familiar de cancro colo-retal ou adenomas em familiares, sobretudo de 1º grau, ou história familiar de síndromes hereditários associados a um aumento de risco deste cancro, como a síndrome de Lynch, ou quando existe história pessoal de doença inflamatória intestinal, o rastreio pode ter de se iniciar ainda mais cedo.
A que sintomas devemos estar atentos? Quais as suas manifestações clínicas?
Os principais sinais de alarme são a presença de sangue nas fezes ou a emissão de sangue após as dejeções e a alteração dos hábitos intestinais (ter mais ou menos dejeções do que era habitual) ou das características das fezes (fezes em fita, por exemplo). Podem ainda surgir perda de peso, fadiga, dor abdominal relacionada ou que alivia com as dejeções, urgência (necessidade de ir à casa de banho imediatamente quando surge vontade) ou falsas vontades/tenesmo (sensação de que se tem de evacuar, mas sem conseguir, ou de que não se conseguiu evacuar completamente).
Como é feito o diagnóstico? E qual o seu prognóstico?
O diagnóstico deste cancro é quase sempre feito através de uma colonoscopia, que permite visualizar o cancro e obter biopsias para confirmar o diagnóstico. Serão depois necessários outros exames para definir o estádio do cancro. Se o cancro for detetado precocemente, é possível ficar curado. Globalmente, mais de 50% dos doentes com cancro do cólon e reto estão vivos 5 anos depois do diagnóstico.
Embora o tratamento dependa de um conjunto de fatores, como a localização, tamanho e extensão do tumor, que opções terapêuticas se encontram disponíveis? Os tratamentos disponíveis dependem do estádio do cancro e podem incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia e/ou tratamentos endoscópicos.
Relativamente à terapia biológica, e uma vez que esta se tem demonstrado bastante promissora no tratamento de vários cancros, como e quando é utilizada?
A terapêutica biológica consiste na utilização de agentes terapêuticos (anticorpos monoclonais ou outras substâncias) dirigidos a alvos específicos (moléculas ou famílias de moléculas) que interferem no crescimento ou progressão dos tumores. No caso do cancro colo-retal, este tipo de tratamento ainda só demonstrou vantagem no estádio mais avançado, já com metástases (doença à distância do tumor inicial). Nestes casos, pode ser usada para reduzir o volume de doença e permitir cirurgias de intenção curativa, ou para prolongar o tempo de vida em situações em que a cura já não é possível.
Por fim, e retomando o tema “prevenção”, quais os principais conselhos? O que pode ser feito para evitar ou travar o aumento do número de casos diagnosticados?
A principal forma de prevenir o cancro do cólon e reto é o rastreio – os programas de rastreio incluem colonoscopias, que permitem detetar e tratar lesões precursoras, evitando que estas progridam para cancro. Devem também adotar-se estilos de vida saudáveis, evitando a obesidade e o tabaco, mantendo atividade física regular e optando por uma dieta equilibrada, que inclua cereais, frutas e vegetais, com menor quantidade de gorduras, carnes vermelhas e alimentos curados. O consumo de álcool também deve ser limitado.