Autoridades de saúde já têm "uma ideia concreta" da origem do surto
António Tavares, delegado de saúde regional de Lisboa e Vale do Tejo, disse que as provas recolhidas desde sexta-feira apontam para uma origem na região de Vila Franca de Xira, razão de todos os infectados estarem ligados a esta zona.
Para o conhecimento do foco foi determinante “o estudo da direcção dos ventos”, que as autoridades de saúde solicitaram logo no início da investigação. Escusando-se a revelar a origem do surto, uma vez que a Direção Geral da Saúde (DGS) vai fazer uma actualização do caso por volta das 17:00, António Tavares adiantou que ainda hoje deverão ser conhecidos os resultados das análises às bactérias que estiveram em cultura.
Ainda assim, os elementos recolhidos em fábricas, espaços públicos, sistemas de distribuição e habitações foram suficientes para uma primeira identificação do ADN da bactéria. “O facto de estar lá o ADN não significa que as bactérias estejam vivas”, adiantou.
Organização Mundial de Saúde pronta a enviar peritos para Portugal
A Organização Mundial de Saúde (OMS) disse hoje que tem peritos prontos para se deslocarem a Portugal para ajudar a lidar com o surto da doença do legionário que já matou cinco pessoas e infectou outras 235.
"Já identificámos os nossos peritos e eles estão prontos para se deslocarem" [a Portugal], disse à agência Lusa em Genebra o porta-voz da organização, Christian Lindmeier.
O responsável acrescentou que da parte da OMS "não há recomendações especiais, já que as autoridades ainda têm de identificar a fonte do surto", que está concentrado em três freguesias do concelho de Vila Franca de Xira.
Lindmeier reiterou que, caso seja necessário, os especialistas da organização estão prontos para apoiar as autoridades sanitárias portuguesas, que já notificaram a OMS do surto.
O porta-voz da OMS destacou as medidas preventivas já tomadas pelas autoridades portuguesas e apontou que o risco de propagação internacional é mínimo, já que a zona afectada não é muito frequentada por turistas.
Christian Lindmeier lembrou que não ocorreu nenhum contágio "por consumo de água na zona afectada" e frisou que "não existe contaminação directa de pessoa para pessoa" na doença do legionário.
A OMS considerou hoje como “uma grande emergência de saúde pública” o surto da doença do legionário em Portugal.
Empresa “Adubos de Portugal” inspeccionada
O ministro do Ambiente anunciou hoje uma acção inspectiva extraordinária à empresa Adubos de Portugal, em Vila Franca de Xira, para averiguar um eventual crime ambiental. Segundo Jorge Moreira da Silva, a acção inspectiva vai decorrer "nas próximas horas" e será para averiguar “eventual crime ambiental por libertação de microrganismos para o meio ambiente”.
“Foi hoje decidido de manhã desencadear uma acção inspectiva extraordinária relativamente à empresa Adubos de Portugal. Essa acção inspectiva vai ocorrer nas próximas horas, para averiguação de eventual crime ambiental por libertação de microrganismos no meio ambiente”, afirmou o governante, em Leiria, sublinhando, contudo, não ser de “descartar definitivamente outras hipóteses”.
O ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e da Energia advertiu que se está “perante amostras e análises que estão ainda em cultura”, pelo que “os resultados definitivos ainda demorarão algumas horas”.
“Mas tendo em atenção as análises que foram feitas, tanto no sábado, como novamente no domingo, consideramos que um grau de probabilidade mais elevado está associado às torres de refrigeração e, no âmbito das torres de refrigeração, concretamente em relação a esta empresa”, explicou Jorge Moreira da Silva.
O governante sublinhou ainda que “o foco está controlado desde o momento em que se decidiu no terreno que as torres de refrigeração, mesmo sem análises comprovativas que apontassem para a presença de legionella”, fossem encerradas no domingo.
Questionado se a empresa tinha efectuado limpeza de equipamentos, Moreira da Silva respondeu que tem “informação suficiente neste momento”, quer sobre as análises, “quer no que diz respeito à ausência de cuidados relacionados com manutenção”, para considerar que se deve de imediato avançar” com a inspecção extraordinária à Adubos de Portugal.
O ministro referiu que, apesar desta inspecção extraordinária, não se está a “afastar a averiguação” a torres de refrigeração de outras empresas, pois, insistiu, nesta fase não se pode “descartar definitivamente todas as possibilidades”.
De acordo com Jorge Moreira da Silva, as torres de refrigeração encerradas no sábado só serão reabertas depois de análises que assegurem a ausência da legionella e de “um conjunto de acções preventivas”.
“A legislação ambiental é muito clara, [as empresas] têm obrigações precisas sobre aquilo que tem de ser feito, mas, por outro lado, nós estamos perante aquilo que não é uma mera verificação de legislação”, observou, admitindo que se possa estar “perante um crime ambiental que é muito mais que uma mera contra-ordenação ou do mero incumprimento das melhores técnicas disponíveis”.
A acção extraordinária vai ser desencadeada pela Inspecção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território.
A legionella, que provoca pneumonias graves e pode ser mortal, foi detectada na sexta-feira no concelho de Vila Franca de Xira, tendo provocado a infecção em mais de 230 pessoas e a morte de cinco.
Todos os casos, de acordo com a Direcção-geral da Saúde, "têm ligação epidemiológica ao surto que decorre em Vila Franca de Xira".
A doença do legionário transmite-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.
Chuva e descida de temperatura pode ter alterado evolução do surto
O presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera disse hoje que a mudança das condições meteorológicas dos últimos dias, com chuva e descida das temperaturas, "provavelmente alterou" o desenvolvimento do surto de legionella, que prefere temperaturas tépidas.
"A alteração das condições meteorológicas que se têm verificado nos últimos dias provavelmente alterou significativamente as condições de desenvolvimento e transporte [da bactéria legionella]", referiu Jorge Miranda, apontando "a chuva e o abaixamento de temperatura".
Entre os factores que favorecem o desenvolvimento da bactéria legionella está a temperatura da água entre 20°C e 45°C, sendo a óptima entre os 35ºC e 45ºC, conforme refere um documento da Comissão Sectorial para a Água.
O surto de legionella já causou 235 doentes e cinco mortos, estimando-se que todos têm relação com a região de Vila Franca de Xira.
O IPMA é uma das entidades que faz parte do grupo de trabalho que está a acompanhar as acções relacionadas o surto de legionella, bactéria que provoca pneumonias graves e pode ser mortal, e tem fornecido informação sobre as condições meteorológicas registadas desde o início de Outubro, nomeadamente naquela região.
A tarefa do IPMA, desenvolvida em coordenação com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), é "fornecer estimativas da velocidade do vento em superfície e em altitude, para as regiões que têm sido potencialmente estudadas pelo grupo de trabalho de forma a ser possível identificar indirectamente qual a possível fonte da emissão das partículas que contêm legionella", esclareceu o presidente do Instituto.
"Temos fornecido informação relacionada com as condições meteorológicas, com a temperatura, factor também relacionado com a multiplicação das bactérias em meio aquoso", acrescentou Jorge Miranda.
O responsável do IPMA explicou que é importante saber qual a direcção do vento "porque permite relacionar cada caso com a direcção de onde poderá ter havido o transporte da legionella", mas também a intensidade "porque permite saber a distância entre a fonte e as pessoas que são afectadas" e a variação em altitude, "porque condiciona a forma como o transporte é feito".
Jorge Miranda disse ainda que, à medida que são transportadas, as gotículas podem cair, descer na atmosfera, e atingir a superfície, ou podem evaporar-se, situações em que a legionella deixa de representar perigo.
A Doença do Legionário transmite-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.