Ausência de neurotransmissor provoca perturbações semelhantes às do autismo
"Verificámos que a perda do recetor 'mGluR5', especificamente nos neurónios parvalbuminérgicos de ratinho, durante o desenvolvimento pós-natal, alterava as funções inibitórias normalmente desempenhadas por esses neurónios na rede neuronal", disse um dos autores do trabalho, o cientista português António Pinto-Duarte.
A consequência é o aparecimento de "defeitos comportamentais semelhantes às verificadas em doenças como a esquizofrenia e o autismo" e que incluem "comportamentos repetitivos e problemas de socialização", explicou, em resposta escrita a partir dos EUA.
Investigador da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD), António Pinto-Duarte faz parte do grupo de cientistas desta instituição que, juntamente com especialistas do Salk Institute, trabalharam neste estudo, publicado na revista Molecular Psychiatry, especializada em psiquiatria.
O estudo foi efetuado em ratinhos e centrou-se na identificação do recetor que, faltando num tipo específico de neurónios, leva a alterações semelhantes àquelas observadas em doenças relacionadas com o desenvolvimento anormal do sistema nervoso.
Esta descoberta permitiu, segundo os seus autores, "reforçar a ideia de que a configuração da rede neuronal pode ser afetada no período pós-natal, e não apenas durante a gravidez, confirmando a particular vulnerabilidade e suscetibilidade desse período a fenómenos patofisiológicos".
O resultado do trabalho agora publicado "é relevante, não apenas por identificar um novo alvo terapêutico, mas também por servir de motivação a estudos futuros", que possam permitir compensar esse défice através de estratégias farmacológicas ou por terapia genética, salientou António Pinto-Duarte.
A importância do recetor, denominado mGluR5, tinha já sido demonstrada por outros trabalhos científicos, através das consequências relacionadas com a sua eliminação total no cérebro.
No entanto, explicou o investigador, "até agora, ninguém tinha estudado a sua função específica numa classe de células nervosas inibitórias denominadas 'neurónios parvalbuminérgicos', que se pensa serem cruciais para os mecanismos cognitivos".