Associação de Autismo de Viseu em risco de parar
“Sempre foi uma associação autossustentável e que cumpriu com as suas obrigações. Este ano, pela primeira vez, no mês de agosto, pagámos com atraso a TSU e sentimos que estávamos a bater no fundo. E temos dívidas com alguns fornecedores e técnicos, o que nunca aconteceu”, explicou à agência Lusa.
Se estes problemas financeiros não forem ultrapassados, podem ficar em causa os apoios e as terapias que a Associação Portuguesa para as Perturbações de Desenvolvimento e Autismo (APPDA) de Viseu disponibiliza a cerca de 140 crianças, jovens e adultos com autismo e respectivas famílias.
Criada em 1998, a associação disponibiliza terapias comportamentais, treino de competências sociais, terapia da fala, equitação terapêutica, consultas de psicologia e psiquiatria.
Segundo Prazeres Domingos, a APPDA sempre teve de organizar muitos eventos e fazer angariação de fundos, mas conseguia ter as contas em dia.
“Os pais, que são os nossos clientes, pagam as terapias. Os que podem pagam-nas por inteiro e aqueles que têm dificuldades pagam preços bastante mais baratos”, contou.
A responsável disse que não pode ser pedido um maior esforço aos pais, porque, apesar de as terapias variarem entre dois e cinco euros por hora, “com elas todas juntas, no final do mês, há pais a pagar 400/500 euros”.
“O autismo exige uma intervenção intensiva e de muitas horas, se queremos obter resultados, não é uma hora de terapia por semana que faz a diferença. Os pais têm de fazer várias horas e várias terapias se querem obter resultados”, explicou.
A APPDA de Viseu não recebe um apoio financeiro regular da Segurança Social e sobrevive graças às quotas dos associados, a peditórios e donativos de particulares e empresas e a apoios pontuais de instituições públicas, como o Instituto Nacional para a Reabilitação e a Câmara de Viseu.
“A comunidade tem sido muito solidária, caso contrário já não estávamos a trabalhar há muito tempo. No peditório do ano passado, as pessoas foram bastante solidárias, mas não chegou”, contou.
Isto porque, segundo Prazeres Domingues, a associação tem cada vez mais crianças e “há cada vez mais famílias com menos possibilidades de pagar” as terapias.
“Lançámos a campanha ‘apadrinhe uma das nossas crianças’ e temos crianças que só conseguem fazer as terapias porque alguém as paga, sejam empresas, sejam pessoas singulares”, contou.
A APPDA tem tentado obter um apoio regular da Segurança Social, mas em vão.
“Fazemos uma desinstitucionalização das crianças, um treino para a autonomia, algo que não é tipificado na resposta deles. Estamos à espera que um dia arranjem forma de nos apoiar”, afirmou.
A Lusa tentou um comentário da Segurança Social, mas não obteve qualquer resposta.
Prazeres Domingues deixou um pedido de ajuda, convidando as pessoas a conhecerem o trabalho da associação e a consultarem as suas contas.
“Se as pessoas deixam de ir tomar um café para dar um euro à nossa instituição têm direito de saber em que é que ele é gasto”, considerou, explicando que a associação trabalha à base de voluntariado e só os técnicos recebem ordenado.
Para novembro, está previsto um novo peditório nas grandes superfícies.