Ansiedade
A ansiedade generalizada é uma das perturbações mentais e comportamentais mais frequentes, afectando cerca de 1/4 dos doentes assistidos em ambulatório, e que origina elevados custos sanitários e sociais. Os sintomas predominantes são a expectativa apreensiva ou preocupação exagerada, inquietação, irritabilidade, insónia, astenia e dificuldade de concentração. O início é insidioso e evolui geralmente para a cronicidade.
Já a ansiedade social caracteriza-se pelos sintomas ansiosos ocorrerem em situações nas quais a pessoa é observada pelos outros, como por exemplo representar, ou mesmo comer ou falar. Os sintomas surgem durante ocorrências sociais e cessam quando o indivíduo deixa de estar exposto.
A terapêutica para estas perturbações de ansiedade associa geralmente a psicoterapia cognitivo-comportamental ao tratamento farmacológico através de um conjunto de fármacos, designados por ansiolíticos, mas também a alguns antidepressores, nomeadamente antidepressivos tricíclicos (ADTs), inibidores selectivos da recaptação da serotonina (ISRSs), e inibidores selectivos da recaptação da serotonina (ISRSNAs).
A utilização isolada ou conjunta com ansiolíticos dos medicamentos antidepressores resulta não só de alguns destes terem marcada actividade ansiolítica, mas também do facto das duas perturbações mentais ou comportamentais serem frequentemente co-existentes. Uma recente revisão sistemática revelou que 30 a 60 por cento dos doentes com perturbações mentais ou comportamentais é tratada simultaneamente com ansiolíticos e antidepressores.
Dos ansiolíticos as benzodiazepinas são o subgrupo terapêutico mais utilizado no tratamento da ansiedade generalizada devido à sua boa tolerabilidade, rápido início de acção e boa aceitação por prescritores e utilizadores. Diversos estudos têm demonstrado a eficácia das benzodiazepinas no tratamento da ansiedade generalizada obtendo resposta clínica satisfatória em cerca de 40 por cento dos doentes, após 6 semanas de tratamento. No entanto uma proporção significativa de doentes sofre recaídas após suspensão do tratamento, requerendo terapêutica mais prolongada.
As reacções adversas mais frequentemente associados ao uso destes medicamentos são sonolência, descoordenação motora, alteração da memória, confusão, depressão, vertigem, perturbações gastrointestinais (obstipação, diarreia, vómitos e alterações do apetite) e perturbações cardiovasculares.
As benzodiazepinas, particularmente as de curta duração, podem induzir dependência física e psíquica e estão contra-indicadas ou devem ser usadas com precaução nos idosos e em crianças por poderem desencadear reacções parodoxais. A suspensão abrupta do tratamento pode originar síndrome de privação, principalmente com as benzodiazepinas de acção curta e alta potência.
Por outro lado, a doença do pânico consiste num conjunto de manifestações somáticas de ansiedade com início súbito e de curta duração podendo evoluir para quadros de agorafobia. Um ataque de pânico aumenta rapidamente de intensidade e a pessoa sente-se em perigo ou medo intenso de que alguma coisa grave vai suceder. Frequentemente a pessoa é acometida de ataque de pânico sem nenhum motivo aparente. Os sintomas típicos são a sensação de asfixia, medo, taquicardia, tremores, vertigens e perda de controlo. Em geral, a avaliação clínica não revela qualquer doença física e é explicado ao doente que não tem nada, que se trata de ansiedade.
O tratamento da doença do pânico deve ser sempre instituído o mais cedo possível e a orientação a seguir deve resultar da avaliação do caso e discutida com o doente. Em geral, há a necessidade de recorrer a medicação para interrupção do condicionamento dos sintomas, embora tenha que ser complementada com intervenção psicoterapêutica, que poderá ser cognitivo-comportamental, ensino de técnicas de relaxamento, com o objectivo de o doente alcançar o auto-controlo da situação. A maioria dos casos evolui para a remissão, no entanto, noutros casos, existe a persistência de sintomas residuais e a necessidade de manter tratamento.
Por fim, o stress pós-traumático é uma perturbação por ansiedade causada pela exposição a uma situação traumática muito incómoda, na qual a pessoa experimenta mais tarde repetidamente a situação traumática.
As situações que são uma ameaça para a vida ou que podem causar lesões graves podem afectar as pessoas muito depois de terem ocorrido. O medo intenso, o abandono ou o terror podem obcecar uma pessoa. A situação traumática volta a ser experimentada em repetidas ocasiões, geralmente como pesadelos ou imagens que vêm à memória. A pessoa evita persistentemente coisas que lhe recordem o trauma. Às vezes os sintomas só começam muitos meses e inclusive anos depois do acontecimento traumático. A pessoa experimenta uma diminuição da sua capacidade geral de reacção e sintomas de hiperactividade (como a dificuldade para conciliar o sono ou assustar-se com facilidade). Os sintomas depressivos são frequentes.
Este problema afecta pelo menos 1 por cento da população uma vez na vida, contudo os veteranos da guerra e as vítimas de violações ou de outros actos violentos, tenham maior risco de sofrer desta situação, havendo por isso entre esta população uma maior incidência. O stress pós-traumático crónico não desaparece, mas muitas vezes torna-se menos intenso com o tempo, inclusive sem tratamento, embora algumas pessoas fiquem indefinidamente marcadas por esta perturbação.
O tratamento do stress pós-traumático inclui terapia do comportamento, fármacos (antidepressivos e/ou ansiolíticos) e psicoterapia. Na terapia do comportamento, expõe-se a pessoa a situações que podem desencadear recordações da experiência dolorosa. Depois de um aumento inicial do mal-estar, geralmente a terapia comportamental diminui o sofrimento da pessoa.