Análise de sangue permite detectar risco de suicídio
Investigadores da Universidade John Hopkins, em Baltimore, acreditam que uma análise ao sangue poderá em breve tornar a prevenção do suicídio mais eficaz, revela o iOnline. Em causa está a descoberta de uma alteração química que parece estar presente no cérebro da maioria das pessoas que comete suicídio ou que manifesta pensamentos ou tentativas suicidas. Mais do que levar a discriminação ou a gerar receio, o responsável pela investigação Zachary Kaminsky está convencido de que esta ferramenta pode abrir portas à medicina personalizada em psiquiatria e salvar vidas. "A maioria das pessoas que comete suicídio fala sobre isso em antecipação, por isso o que temos é uma hipótese de intervir", explicou ao i o investigador, adiantando contudo que os testes seriam sempre realizados por indicação médica.
A descoberta foi publicada esta semana na revista médica American Journal of Psychiatry. Kaminsky explica que o estudo começou há dois anos e desde então seguiram as pistas que foram surgindo. No centro dos trabalhos estava desde o início uma zona do cérebro central na resposta ao stress, um assunto relevante no estudo do suicídio uma vez que as estatísticas apontam para que 90% das pessoas que morrem desta maneira têm um diagnóstico de depressão crónico, em que a capacidade de lidar com o stress é uma das causas a montante.
A partir daí, a equipa debruçou-se sobre um gene que actua nessa zona do cérebro e parece ter um papel central na forma como o ser humano controla pensamentos negativos e comportamentos impulsivos. Esse gene, SKA2, já tinha sido apontado como essencial para que as hormonas que são libertadas em situações de stress entrem no núcleo das células sem comprometer as suas funções, o que sugere um efeito protector.
O facto de já terem sido encontradas anomalias na forma como hormonas como o cortisol são libertadas nas células em vítimas de suicídio fez com que os investigadores seguissem este caminho. Ao testar mutações neste gene, descobriram que uma estava associada a níveis reduzidos de actividade do SKA2 em doentes mentais, que compararam com pessoas saudáveis. Mas foi ao analisar os resultados que perceberam que afinal poderia bastar um exame ao sangue e não uma análise genética para fazer a diferença: verificaram que uma alteração química parecia reduzir a actividade do gene mesmo quando a mutação não existia. Essa modificação corrompe o gene, um processo em genética conhecido como metilação do ADN e que, sendo essencial no desenvolvimento tem sido associado a doenças como cancro.