Alterações subclínicas da tiróide
A disfunção subclínica da tiróide caracteriza um conjunto, quase sempre sem sintomas, de alterações da tiróide diagnosticadas pelo exame imagiológico (mais frequentemente a ecografia) ou pelo estudo laboratorial da função tiroideia
Podemos incluir na disfunção subclínica da tiróide os nódulos não palpáveis (incidentalomas da tiróide),o hipertiroidismo subclínico e o hipotiroidismo subclínico.
Incidentalomas da tiróide
São nódulos não palpáveis da tiróide, identificados de forma ocasional e fortuita, através de exames imagiológicos do pescoço (ecografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética) realizados, quase sempre, com outras indicações clínicas que não a doença da tiróide.
Os nódulos não palpáveis da tiróide são comuns, mais frequentes com a idade e podem ser identificados pela ecografia em 30 a 50 por cento da população em geral. Podem ter dimensões variáveis sendo habitualmente de pequenas dimensões ou seja com diâmetro inferior a 10 mm.
O estudo citológico dos nódulos não palpáveis só está recomendado se tiverem um diâmetro superior a 10 mm, se houve irradiação prévia da cabeça ou pescoço, se há familiares com carcinoma medular da tiróide ou existem gânglios cervicais clínica ou suspeitos através de ecografia.
Normalmente, a presença de nódulos da tiróide com diâmetro inferior a 10 mm, na ausência dos factores de risco mencionados, não tem grande importância clínica, podendo ser recomendada apenas uma vigilância clínica periódica.
Hipertiroidismo subclínico
O diagnóstico do hipertiroidismo subclínico caracteriza-se pela presença de TSH suprimida (abaixo do limite inferior do normal) com T3 livre e T4 livre dentro do normal. Frequentemente a T3 livre e a T4 livre situam-se na metade superior do normal.
A causa mais frequente de hipertiroidismo subclínico é a toma de uma dose diária excessiva de levotiroxina. Outras causas frequentes são: adenoma hiperfuncionante da tiróide, doença de Graves em início ou com evolução clínica ligeira, tiroidite do pós-parto, tiroidite subaguda e ingestão de produtos com iodo.
Habitualmente, a maioria dos indivíduos com hipertiroidismo subclínico não refere sintomas. Em alguns há a presença de sintomas subtis de hipertiroidismo, principalmente quando a T3 livre e T4 livre se encontram próximo do limite superior da normalidade.
Dois grupos populacionais merecem referência particular: a mulher após a menopausa e as pessoas com idade superior a 65 anos. O hipertiroidismo subclínico pode constituir um factor de risco para a osteoporose na mulher pós-menopáusica que não faz tratamento hormonal de substituição, apesar de não estar documentado um aumento do número de fracturas. Nos indivíduos com idade superior a 65 anos e hipertiroidismo subclínico a principal preocupação é o aumento do risco cardiovascular e nomeadamente de arritmias.
No tratamento do hipertiroidismo subclínico não tem sido fácil estabelecer um consenso entre os especialistas. Quando tem origem na toma de uma dose excessiva de levotiroxina é unânime a recomendação de proceder a um ajuste mais perfeito da dose a administrar. Nas outras situações será sempre conveniente fazer, antes de uma eventual decisão terapêutica, um período de seguimento com repetição dos doseamentos, uma vez que, em 50 por cento dos doentes com níveis suprimidos da TSH, há normalização espontânea da TSH sem intervenção terapêutica.
Igualmente importante é determinar a causa do hipertiroidismo pois algumas situações são transitórias e apenas requerem tratamento sintomático. A intervenção terapêutica reúne consenso quando ocorre em indivíduos de idade avançada, com sintomas frequentemente de natureza cardiovascular e na dependência de disfunções tiroideias que normalmente não têm evolução espontânea favorável (nódulo hiperfuncionante, bócio multinodular tóxico).
Hipotiroidismo subclínico
O que caracteriza o hipotiroidismo subclínico é a associação do aumento da TSH com a presença de níveis normais da T4.
O hipotiroidismo subclínico é normalmente assintomático (sem sintomas) e o diagnóstico é feito em doseamentos hormonais de rotina com ou sem associação a vagos sintomas clínicos. No exame clínico a tiróide pode não ser palpável ou ter ligeiro aumento do volume.
As causas mais frequentes do hipotiroidismo subclínico são a doença auto-imune da tiróide e o tratamento insuficiente do hipotiroidismo. As outras causas, menos frequentes, são: tratamento do hipertiroidismo (durante e após), tiroidite do pós-parto, tratamento com amiodarona, citoquinas, iodo e lítio.
A frequência da tiroidite auto-imune é elevada. A idade, o sexo feminino e a presença de anticorpos antitiroideus estão associados com a maior prevalência do hipotiroidismo subclínico e com a sua evolução para hipotiroidismo. A progressão anual para hipotiroidismo clínico é de cerca de 5 por cento na mulher com anticorpos antitiroideus positivos e TSH elevada.
A necessidade de fazer o rastreio do hipotiroidismo subclínico tem sido tema de debate e controvérsia. É hoje consensual fazer o rastreio em todas as mulheres após os 50 anos de idade. Também se deverá fazer na mulher grávida que apresenta bócio, títulos elevados de anticorpos antitiroideus, outras doenças auto-imunes e história familiar de doença da tiróide ou de outras doenças auto-imunes.
As recomendações terapêuticas têm sido avaliadas em função dos seus reais benefícios.