Estudo pioneiro em Portugal

Ajudar alcoólicos a recuperar funções cognitivas afectadas

Um projecto inédito em Portugal está a ajudar alcoólicos a recuperar as faculdades neuropsicológicas perdidas devido ao consumo, através de uma aplicação móvel que os estimula cognitivamente, demonstrando que estas perdas são reversíveis, o coordenador do estudo.

Este trabalho intitulado “Reabilitação neuropsicológica em alcoólicos com recurso a aplicações móveis” permitiu perceber que é possível reabilitar pessoas dependentes do álcool através de sessões de estimulação cognitiva.

O estudo está a ser desenvolvido pelo mestrado de Neuropsicologia Aplicada da Escola de Psicologia e Ciências da Vida (EPCV) da Universidade Lusófona em parceria com o Instituto S. João de Deus – Casa de Saúde do Telhal.

Segundo Paulo Lopes, o estudo consistiu em fazer uma avaliação neruopsicológica, em todos os doentes internados, tendo sido escolhidos aleatoriamente dois grupos, um que entrou no projecto da estimulação cognitiva e outro que foi sujeito ao tratamento convencional.

A estimulação cognitiva é feita com recurso a uma aplicação móvel (mHealth), cujo modelo já existia noutros países mas com utilizações pontuais, explicou Paulo Lopes.

Portugal é até agora o país que faz uso deste programa de forma mais alargada e abrangente: na Casa de Saúde do Telhal foram avaliadas, desde 2011, 185 pessoas, das quais 83 usufruíram do programa de estimulação cognitiva.

Os principais resultados demonstram que estatisticamente o grupo estimulado “melhorou significativamente” em relação ao outro grupo sujeito apenas ao tratamento convencional.

A razão para isto tem a ver com o facto de a zona cerebral mais afectada pelos consumos ser “a parte frontal do cérebro, uma área importante em termos de coordenação de actividades motoras, do pensamento, da resolução de problemas, é a área do cérebro tida como a parte executiva”, explicou.

O programa de estimulação consiste em jogos psicológicos, aplicados a ‘tablets’ ou telemóveis, que treinam as funções cognitivas e permitem recuperá-las.

“São dez sessões de 50 minutos ao longo de três semanas. As sessões são padronizadas, as aplicações são desenhadas e construídas por nós. Nessas aplicações temos tarefas para fazer: ver imagens, agrupar por pares, escolher as imagens correctas. São jogos para treinar a rapidez, a memória, a velocidade de processamento, a percepção e a linguagem”, disse o responsável.

O que se verificou no grupo estimulado foi uma maior capacidade de adaptação a situações adversas, maior controlo sobre si próprio, capacidade de resistir a um impulso e melhores tomadas de decisão.

Actualmente o programa já está a ser aplicado a todos os doentes internados na Casa de Saúde do Telhal e está a iniciar-se em duas comunidades terapêuticas - Caritas Diocesanas de Beja e Ares do Pinhal – e num programa de substituição opiácea (também na associação Ares do Pinhal).

“Neste momento já temos uma amostra de alcoólicos, de toxicodependentes e toxicodependentes em substituição opiácea, em que 80 foram avaliados e 12 fizeram a estimulação cognitiva”.

Na mesma comunidade terapêutica (Ares do Pinhal) há 45 doentes em avaliação, 18 com estimulação cognitiva, disse o responsável, que não soube precisar o número de doentes actualmente em avaliação na Cáritas Diocesana.

O programa está agora a começar a ser testado com idosos, numa parceria com a Junta de Freguesia de Benfica.

As conclusões deste estudo serão apresentadas nos dias 14 e 15 de Abril, no XII Congresso de Psiquiatria do Instituto S. João de Deus.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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