Adultos com esquizofrenia melhoram desempenho social
Doentes com esquizofrenia inseridos num programa de formação em habilidades de conversação melhoraram significativamente o desempenho pessoal e social, o modo como lidam com a ansiedade e com o stresse, assim como a noção de autoeficácia (juízo que fazem sobre a capacidade de realizarem actividades em situações desconhecidas, passíveis de conterem elementos ambíguos ou imprevisíveis).
Estes resultados foram obtidos no âmbito de um estudo conduzido pelo professor da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Carlos Melo-Dias, que envolveu 28 adultos em internamento numa unidade de saúde mental de Coimbra (15 dos quais participantes no grupo experimental, de onde foram extraídas as conclusões), com idades entre os 20 e os 72 anos e com um tempo de duração média da doença igual ou superior a dez anos.
Durante a investigação, os doentes participaram em 12 sessões de formação, em seis habilidades diferentes: “Observar, ouvir falar e comunicação não-verbal”, “Escuta activa e comentários de escuta”, “Falar de um tema (iniciar e manter uma conversa), “Terminar uma conversa”, “Falar ao telefone” e “Falar com um desconhecido”.
Procurou-se, desta forma, “facilitar a passagem do ambiente controlado, previsível e seguro da clínica hospitalar para o ambiente imprevisível da comunidade”, explica o professor Carlos Melo-Dias.
Como consequência, três meses após o estudo (com os doentes já em casa), cerca de 25% dos participantes no programa de formação obtiveram acima de 90 pontos (num máximo de 100) na escala de desempenho pessoal e social (preenchida pelo cuidador ou familiar). Um resultado que, para o investigador Carlos Melo-Dias, “é muito interessante em termos de funcionamento de cada um destes participantes no regresso ao seu ambiente ‘natural’, onde terão aquele que será o seu papel e a sua participação sociofamiliar”.
Também 25% dos participantes (grupo experimental) registaram uma diminuição da vulnerabilidade ao stresse, “indicando que a participação na formação influenciou a forma e estratégia de lidar e/ou resolver situações de relação interpessoal”, além de uma “melhoria no nível de autoeficácia (apreciação das suas próprias capacidades)”, constata o professor da ESEnfC.
Os resultados deste estudo foram, recentemente, apresentados na Universidade Católica Portuguesa - Instituto de Ciências da Saúde (Porto), aquando da defesa da tese de doutoramento do professor Carlos Melo-Dias, intitulada “Habilidades de conversação em adultos com esquizofrenia”.
Carlos Melo-Dias coordena o projecto PBE-MENTAL - Prática Baseada na Evidência em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, registado na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, da ESEnfC.