Ordem dos Nutricionistas recomenda

Adopção da Dieta Mediterrânica e a redução do consumo de sal

Um dos primeiros estudos que relaciona a doença coronária com a nutrição foi realizado em coelhos e data de 1908, os seus autores sugerem que a elevada ingestão de colesterol promoverá a arteriosclerose. Contudo, a compreensão das potenciais propriedades cardio-protectoras através da nutrição é relativamente recente, observando uma evolução no que respeita ao foco da intervenção nutricional.

As primeiras experiências enfatizavam a redução da gordura na alimentação com o objectivo de prevenir a doença cardíaca, reduzindo o colesterol no sangue. Porém, os resultados dos ensaios focados exclusivamente na redução da gordura na dieta foram decepcionantes, pelo que estudos posteriores alertam para a necessidade de uma abordagem nutricional completa na qual se deverá incorporar recomendações para a ingestão de gordura.

A adopção da Dieta Mediterrânica, com especial enfoque no consumo de produtos hortícolas, fruta, cereais integrais e azeite, tem demonstrado a redução de episódios cardiovasculares em maior número do que as dietas somente de baixa ingestão de gordura, segundo um estudo de revisão publicado em 2014 no American Journal of Medicine.

Neste artigo de revisão de vários estudos, destacamos a referencia ao estudo randomizado espanhol PREvención con Dieta MEDiterránean (PREDIMED), que avaliou, entre 2003 a 2012, 7.447 homens e mulheres em Espanha com maior risco de doença cardiovascular, ou seja, com diabetes tipo 2 ou com 3 ou mais factores de risco cardiovasculares, mas sem evidência de doença cardiovascular. Os participantes foram randomizados para uma de três dietas: uma dieta de estilo mediterrânico, suplementada com azeite, uma dieta de estilo mediterrânico suplementada com frutos secos oleaginosos, ou um grupo de controlo que foi aconselhado a seguir uma dieta com baixo teor de gordura. No que respeita à ingestão total de gordura os autores não restringiram naqueles que praticavam a dieta mediterrânica, todavia a fonte de gordura era predominantemente proveniente do peixe, ácidos gordos n-3, e de origem vegetal, ácidos gordos n-6. O grupo da dieta com baixo teor de gordura foi aconselhado a reduzir todos os tipos de gordura, incluindo azeite e frutos secos oleaginosos.

Ao fim de cinco anos os investigadores puderam, preliminarmente, concluir que a combinação de acidente vascular cerebral, enfarte do miocárdio ou morte por causa cardiovascular, foi reduzida em 30% no grupo da dieta mediterrânea suplementada com azeite, e 28% no grupo da dieta mediterrânea suplementada com frutos secos oleaginosos em comparação com o grupo de controlo, da dieta com baixo teor de gordura.

Vários investigadores concluem que a dieta mediterrânica é eficaz na prevenção das doenças cardiovasculares, dieta esta caracterizada pela elevada ingestão de fruta, produtos hortícolas, especialmente couves de folha verde escura, leguminosas, cereais integrais, frutos secos oleaginosos, consumo moderado de produtos lácteos, peixe e carnes, opção do azeite como gordura de eleição, e consumo moderado de álcool.

Em Portugal, e apesar de a mortalidade por Acidente Vascular Cerebral (AVC) ter descido 46% na última década, o nosso País continua a estar no topo da tabela dos países europeus em que a mortalidade por AVC é maior do que a por enfarte do miocárdio. Com a crise económica que o País atravessa e os cortes na área da Saúde, os profissionais de saúde receiam que a tendência de melhoria destes dados se possa inverter pelo que o apelo à prevenção, assume uma maior importância. Além destes factores, não podemos descurar que os portugueses têm uma elevada ingestão de sal, o dobro do recomendado, ou seja, em média cada português ingere 10,7 gramas de sal enquanto que as recomendações internacionais estabelecem um limite máximo de 5,0 gramas de sal por dia.

A Ordem dos Nutricionistas aconselha a prática de uma alimentação baseada na dieta mediterrânica - rica em fruta, produtos hortícolas, , leguminosas, cereais integrais, azeite, como gordura de eleição, e frutos secos oleaginosos – para a prevenção da doença coronária, a par de uma menor ingestão de sal e da prática regular de actividade física.

Para Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas “É necessário minimizar os fatores de risco da doença cardiovascular. A adopção de uma alimentação equilibrada, variada e completa, baseada na dieta mediterrânica, com baixo teor de sal, pode constituir um factor essencial para a prevenção de doenças. A possibilidade de se realizarem refeições variadas e apetecíveis com base nesta dieta, assim como o uso de especiarias e ervas aromáticas para reduzir o sal nos alimentos irá levar certamente a que muitos portugueses façam verdadeiras descobertas gastronómicas.”

Fonte: 
LPM Comunicação
Nota: 
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