Terapias não convencionais

Acupuntura: Ferramenta de apoio no controlo sintomático em oncologia

Atualizado: 
13/04/2020 - 10:28
A utilização simbiótica de terapias não convencionais e convencionais é um campo promissor de investigação para melhorar a qualidade de vida e sintomatologia adversa nos doentes oncológicos.

O Cancro, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é a principal causa de morte nos países desenvolvidos e a segunda principal causa de morte nos países em vias de desenvolvimento (WHO, 2008).

Na União Europeia, a previsão realizada pela International Agency for Research on Cancer (IARC), e tendo como base apenas o envelhecimento populacional, determina um aumento dos novos casos de cancro em 13,7%. As previsões para Portugal são semelhantes e apontam para um acréscimo de 12,6% (DGS, 2013).

Em 2030 a estimativa da carga global do cancro é de aproximadamente 21.4 milhões de novos casos diagnosticados e 13.2 milhões de mortes, o que traduz um aumento de 69% e 72%, respetivamente, em 22 anos (WHO-IARC, 2010).

A DGS (Direção-Geral da Saúde, 2013) alerta para o crescimento muito significativo, em todas as Administrações Regionais de Saúde (ARS), do consumo de medicamentos usados no tratamento e sintomatologia do cancro. Segundo Araújo et al (2009) os dados relativos a gastos diretos com o tratamento do cancro em Portugal referente a 2006 rondavam os 1.320 milhões de € e que demonstram que os custos indiretos podem representar cerca de 70%-85% dos custos totais do cancro, sendo que 32% da despesa total do tratamento do cancro esteja relacionada com prescrição de medicamentos. Como custos indiretos se refletem as implicações dos tratamentos diretos como sejam efeitos secundários dos tratamentos; náuseas, vómitos, incapacidades, dor oncológica; implicações emocionais, sociais e psicológicas decorrentes da situação clinica, assim como outros dilemas que os doentes são confrontados a enfrentar perante o facto de padecerem de um cancro.

Esta informação é importante para definir prioridades na prevenção, gestão e tratamento do cancro (Roreno, 2013). Uma vez que se reconhecesse as implicações que estas patologias provocam no individuo, família e comunidade (Costa, 2010), é imprescindível que se desenvolvam estratégias ao nível do processo de cuidar.

Este facto tem contribuído para que a preocupação com a qualidade de vida do doente seja uma premissa a ser respeitada e garantida. Neste sentido a melhoria contínua da qualidade dos cuidados prestados ao doente oncológico, saber científico e da profissão tem sido uma das preocupações da prática de enfermagem nos últimos anos (Silva & Moreira, 2010).

Atualmente tem surgido na área da saúde a vertente integrativa ou complementar que visa a utilização simbiótica de terapias não convencionais com as convencionais no tratamento de cancro, visando como objetivo final melhorar a qualidade de vida do doente, através da redução de sintomatologia secundária aos tratamentos convencionais disponíveis. Nos estados Unidos da América existe já desde 2000 um ramo da Medicina Integrativa que usa terapias alternativas e complementares baseadas em evidências de forma integrada com a medicina convencional (Siegel & Barros, 2013).

Acupuntura como ferramenta coadjuvante de amenização de sintomas
Acupuntura é definida no artigo 2 da portaria n.º 207-F/2014 de 8 de Outubro do Diário da Republica como sendo uma a terapêutica que utiliza métodos de diagnóstico, prescrição e tratamentos próprios assentes em axiomas e teorias da acupuntura, utilizando a rede dos meridianos, pontos de acupuntura e zonas reflexológicas do organismo humano, com o fim de prevenir e tratar as desarmonias energéticas, físicas e psíquicas.

A associação simbiótica entre as terapias não convencionais, como a acupuntura e as terapias convencionais para tratamento oncológico tem sido objeto de vários estudos. A utilização desta terapia não convencional, tem sido utilizada para aliviar sintomatologia adversa como sejam as náuseas, vómitos, dor oncológica, anorexia, desidratação, alterações metabólicas, eletrolíticas, aumento dos quadros de ansiedade e depressão, xerostomia, fotofobia, insónia (Tonezzer, Tagliaferro, Cocco & Marx, 2012; Chien, Liu & Hsu, 2013).

Chien, Liu & Hsu (2013) defendem que a área da acupuntura oncológica tem-se tornado uma área de investigação promissora, porque os doentes oncológicos, tem procurado a acupuntura para controlo de sintomatologia.

Os efeitos da acupuntura têm sido explicados através de teorias associadas a processos de modulação neuronal, endócrinos e imunológicos (O'Regan & Filshie, 2010; Chien, Liu & Hsu, 2013) sugere-se que a acupuntura faz modelação neurológica controlando assim os efeitos adversos das terapêuticas oncológicas.

Kuwajima (2009) observou que 51,2 % dos doentes oncológicos, estudados, utilizavam alguma terapia não convencional e que aproximadamente 9% dos pacientes com cancro utilizam a Acupuntura. Dos que utilizam a Acupuntura, aproximadamente 71% procuraram esta terapia após o diagnóstico e que a utilizavam em concomitância com os tratamentos convencionais.

Em 1996 a OMS elaborou um relatório sobre as aplicações da acupuntura na saúde, segundo este relatório a acupuntura não possui estudos que comprovem eficácia no tratamento do cancro, mas possui ação ao nível da amenização de sintomas de reações adversas da quimioterapia, radioterapia; dor oncológica e leucocitose (WHO, 2002).

BIBLIOGRAFIA:

  • Araújo, A., & et al. (2009). Custo do Tratamento do Cancro em Portugal. Acta Med Port, pp. 525-536.
  • Chien, T., Liu, C., & Hsu, C. (2013). Integrating acupunture into cancer care. 234.
  • Costa, R. (2010). Luta Contra o cancro e oncologia em Portugal. Estruturação e normalização de uma área científica (1839-1974). Tese de Doutoramento, Universidade do Porto. Faculdade de Letras. Departamento História e de Estudos politicos e Internacionais.
  • DGS, D. (2013). PORTUGAL: doenças oncológicas em números-2013. Lisboa: DGS.
  • Kuwajima, S. (2009). A Acupuntura na Oncologia. UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES.
  • Ministério da Saúde e da Educação. (8 de Outubro de 8 de Outubro de 2014). 1.ª série — N.º 194. Portaria n.º 207-F/2014. Diário da Républica.
  • O´Regan, D., & Filshie, J. (2010). Acupunture and cancer. Autonomic neurosciènce.
  • RORENO, R. (Dezembro de 2013). Projecções de incidência de cancro região Norte 2013, 2015, 2020. (I. P. E.P.E., Ed.)
  • Siegel, P., & Barros, N. (2013). Por que as Pesquisas em Oncologia Integrativa são Importantes? Revista Brasileira de Cancerologia, 249-253.
  • Silva, M., & Moreira, M. (2010). Desafios à sistematização da assistência de enfermagem em cuidados paliativos oncológicos: uma perspectiva da complexidade. Rev. Electr. Enf. [Internet], 483-490.
  • Tonezzer, T., Tagliaferro, J., Cocco, M., & Marx, A. (2012). Uso da Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea Aplicado ao Ponto de Acupuntura PC6 para a Redução dos Sintomas de Náusea e Vômitos Associados à Quimioterapia Antineoplásica. Revista Brasileira de Cancerologia, 7-14.
  • WHO, W. (2008). The Global Burden of Disease:2004. WHO.
  • WHO, W. I. (2010). Globocan 2008: Cancer Incidence, Mortality and Prevalence Worldwide. (WHO-IARC, Ed.) Obtido em 14 de Dezembro de 2014, de http://globocan.iarc.fr
  • World Health Organization. (2002). Acupuncture : review and analysis of reports on controlled clinical trials - See more at: http://apps.who.int/iris/handle/10665/42414#sthash.S2Tx18v0.dpuf. Obtido em 16 de dezembro de 2014, de http://www.who.int/iris/handle/10665/42414#sthash.S2Tx18v0.dpuf


Cristina Raquel Batista Costeira- Enfermeira no IPOCFG, E.P.E. - Cirurgia Internamento


Nelson Jacinto Pais- Enfermeiro Graduado no IPOCFG, E.P.E. - Unidade de Dor

Autor: 
Enfermeira Cristina Raquel Batista Costeira - Enfermeira no IPOCFG - E.P.E. Cirurgia Internamento e Enfermeiro Nelson Jacinto Pais - Enfermeiro Graduado no IPOCFG - E.P.E. Unidade de Dor
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock