Acerca da Gaguez: uma perturbação de fala ou de comunicação?
Segundo a American Speech and Hearing Association [ASHA (sd)], muitas crianças entre os 2 e os 6 anos podem passar por momentos de disfluência, que duram menos de 6 meses (ou disfluência de desenvolvimento). No caso de ultrapassar este tempo, podemos estar perante um caso de gaguez e será necessário a intervenção de um Terapeuta da Fala.
De acordo com Largo (2011), “...mesmo com todos os grandes avanços científicos assentes na tentativa de explicar tudo, a disfluência, vulgo gaguez, parece resistir estoicamente a qualquer tentativa de explicação simples e concreta”. Não há uma causa única de gaguez, apesar de existirem alguns fatores de risco, como historial na família ou dificuldades emocionais da criança.
Se o discurso que a criança mantém preocupa a família, os educadores/professores e tem um impacto na sua comunicação, na forma como a criança se relaciona com os outros (isolando-se ou recusando a falar, por exemplo), então é recomendado que recorra a um Terapeuta da Fala.
O Terapeuta da Fala deve ajudar os pais a perceber e avaliar se a criança está a passar por uma fase de disfluência de desenvolvimento ou se se trata, de facto, de um caso de gaguez que implique a manutenção de terapia sistemática. Assumindo que a “remediação” da gaguez não passa apenas pela fala alterada da criança, a intervenção deve centrar-se em perceber os tipos de disfluência presentes, como a criança reage quando gagueja, como tenta ultrapassar as dificuldades, como afeta a forma quando brinca ou se relaciona com os outros e se afeta também o seu desempenho escolar.
Quanto à intervenção junto da família e demais interlocutores, o Terapeuta da Fala pode ensinar como responder ou reagir quando a criança gagueja, o que fazer para melhorar a forma como a criança se sente quando fala ou as modificações que podem adotar nos estilos comunicativos. Como exemplo, os pais, aos ficarem ansiosos num momento disfluente, tendem a alterar a sua expressão facial e a criança aumenta a probabilidade de gaguejar nestes momentos. Algumas modificações comunicativas, como evitar pedir para falar mais devagar, não responder pela criança ou tentar adivinhar as palavras que quer dizer, poderão ajudar a tornar o momento comunicativo menos tenso e melhorar a fluência da fala da criança naquele momento.
Para além da intervenção em crianças, o Terapeuta da Fala também intervém junto de adolescentes e adultos, ajudando na gestão da gaguez em situações do foro escolar, profissional ou social (ex. falar ao telefone ou fazer um pedido num restaurante).
Através da Associação Portuguesa de Gagos (APG) pode obter mais detalhes sobre testemunhos, eventos e outras informações que considere relevantes.
Bibliografia:
ASHA (sd). Stuttering. Retirado de https://www.asha.org/public/speech/disorders/stuttering/
Associação Portuguesa de Gagos [APG]. Página de Internet em http://www.gaguez-apg.com/Largo, B. (2011), Disfluência Infantil: do senso comum para o bom senso. Comunicativa, 3,4-7.