Desfrutar do sol com segurança

70% dos melanomas podem ser evitados

Atualizado: 
06/08/2019 - 11:03
Em Portugal são diagnosticados, todos os anos, cerca de mil novos casos de cancro de pele, muitas vezes associados a maus hábitos de exposição solar. A OMS estima que 70% dos melanomas podem ser evitados tendo alguns cuidados. Com a ajuda da oncologista Rita Teixeira de Sousa, saiba como desfrutar do sol sem riscos.
Homem e mulher sentados à beira mar

O melanoma é o tipo de cancro de pele mais perigoso e que tem origem nas células que produzem melanina – a substância responsável pela cor da pele. “No seu estado normal, as células da pele crescem e dividem-se em novas células que são formadas à medida que vão sendo necessárias, num processo denominado de regeneração celular”, começa por explicar Rita Teixeira de Sousa, oncologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte e Hospital Lusíadas Lisboa.

Quando envelhecem ou são danificadas, estas células morrem naturalmente. O problema surge quando elas perdem o mecanismo de controlo e sofrem alterações no seu genoma. “Tornam-se cancerígenas e multiplicam-se de forma descontrolada, resultando na formação do cancro”, esclarece a especialista adiantando que ao contrário do que acontece com as células normais, “as células tumorais têm a capacidade de se dissiminar para outras localizações”, atingido sobretudo o cérebro, pulmões ou fígado.

Apesar de existirem três tipos principais de cancro de pele, o melanoma é considerado o mais raro e também mais agressivo.

“O carcinoma basocelular é a forma mais comum, mas também a menos perigosa deste tipo de cancro. Pode surgir de uma lesão saliente e com coloração ou como uma ferida que persiste em não cicatrizar”, explica. Quando não tratado, este tipo de cancro pode atingir tecidos mais profundos.

O segundo tipo mais comum de cancro de pele é o carcinoma espinocelular, surgindo em áreas da pele muito exposta ao sol – cara ou couro cabeludo. “Pode ulcerar e localmente pode ser muito invasivo, pelo que deve ser excisado com margens de segurança”, acrescenta.

Por fim, o melanoma pode atingir qualquer faixa etária e qualquer pessoa, independetemente da sua cor de pele. Quando detetado numa fase inicial, pode ser tratado.

Embora seja possível identificar alguns fatores de risco, as causa das doença ainda não foram estabelecidas.

 “O risco de aparecimento de cancro de pele/melanoma está relacionado com o padrão e duração de exposição solar, mas pode ocorrer tanto em pessoas com exposição contínua como intermitente, pelo que são essenciais cuidados adicionais”.

Por outro lado, alguns tipos de pele são mais sensíveis à exposição UV. Peles claras (sobretudo com sardas) e pessoas com olhos claros são as que mais riscos correm.

A idade, a história familiar ou a imunossupressão constam ainda da lista de fatores favoráveis ao desenvolvimento de cancro.

“Porém, é importante salientar que qualquer pessoa pode desenvolver este tipo de cancro, até mesmo pessoas com tons de pele mais escuros”, reforça


"Com o acumular de danos, a pele torna-se mais frágil e propensa ao desenvolvimento de melanoma", sublinha a oncologista 

Os sinais a que deve estar atento

O melanoma pode desenvolver-se a partir de sinais que já existem no corpo, pelo que a especialista afirma ser imprescindível fazer uma vigilância adequada dos mesmos, procurando alguma alteração quer em termos de tamanho, forma, cor ou textura.

O aparecimento de crostas, comichão ou hemorragia podem indicar a doença.

“O cancro de pele pode-se apresentar de várias formas. Enquanto alguns carcinomas podem apresentar todos os sintomas, outros podem apenas ter uma ou duas características incomuns”, ressalva Rita Teixeira de Sousa.

De modo a avaliar possíveis alterações, deve recorrer sempre à ferramenta “ABCDE”: A – Assimetria; B – Bordo irregular; C – cor (há variação de uma região para a outra ou alternar de um tom escuro para um tom mais claro); D – Diâmetro (tamanho superior a 6 mm) e E – evolução (alteração do seu aspeto).

O diagnóstico partirá da observação de lesão suspeita, confirmando-se o resultado com recurso a biópsia.

A excisão do tumor é o passo seguinte. No entanto, “mesmo que a lesão seja totalmente excisada, é necessária nova intervenção cirúrgica posterior, para retirar pele à volta, de forma a ser obtida uma margem de segurança, que evita uma recidiva local do melanoma”, explica a oncologista.

Radioterapia, quimioterapia, terapêutica dirigida ou imunoterapia são consideradas quando a doença já se encontra numa fase mais avançada.

“Felizmente, o tratamento do melanoma tem evoluído muito nas últimas décadas, nomeadamente com o aparecimento de terapêutica alvo para um subtipo de melanoma (melanoma com a mutação BRAF) ou com a imunoterapia, cujos dados obtidos têm revelado cada vez maior eficácia no controlo do tumor” revela Rita Teixeira de Sousa.

Este tratamento veio aliás mudar o paradigma do tratamento do melanoma. “O cancro adapta-se, tendo diversos mecanismos para fugir ao controlo do sistema imunitário. Com a imunoterapia é possível reeducar o sistema imunitário, de modo a que este reconheça o cancro como elemento estranho induzindo uma resposta anti-tumoral”, explica a especialista.

Com este tratamento, para além de ser possível controlar a progressão da doença, é possível aumentar a qualidade de vida dos doentes.

No entanto, e em última análise, a prevenção continua a ser a melhor forma de diminuir a incidência do melanoma. “Embora se verifiquem alterações positivas de comportamento por parte dos portugueses é essencial continuar a apostar na consciencialização para os perigos da exposição solar incorreta e excessiva, e sensibilizar as pessoas a vigiarem os seus próprios sinais”, afirma a especialista.

O uso de chapéu de sol, o uso regular de protetor solar com fator de proteção adequado ao tom de pele, evitar a exposição solar na horas de maior calor e manter a hidratração ao longo do dia são os principais conselhos para esta época do ano. “As pessoas desejam desfrutar de um bom dia de praia ou na piscina, passear no campo e apostar em atividades ao ar livre sem preocupações. Podem fazê-lo, mas recomenda-se que adotem medidas de segurança”, reforça Rita Teixeira de Sousa, oncologista. 

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay