Trabalhadores com VIH

40% mais possibilidades de cumprir tratamentos do que desempregados

Estudo da Organização Internacional do Trabalho diz que integração é fundamental para que os doentes mantenham a adesão aos medicamentos anti-retrovirais, tanto por questões financeiras como psicológicas.

Trabalhar parece ser um factor determinante para facilitar o acesso e adesão das pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) aos tratamentos anti-retrovirais, indica um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), feito a propósito do Dia Mundial da Sida que se assinala no domingo.

De acordo com o documento The Impact of Employment on HIV Treatment Adherence (O impacto do emprego na adesão ao tratamento do VIH), os doentes com emprego têm uma possibilidade 40% superior de aceder aos medicamentos e de cumprirem os tratamentos.

Para chegar a esta conclusão o relatório analisou 23 estudos diferentes sobre o tema que contaram com um total de 6674 pessoas com VIH. A informação foi complementada com vários inquéritos e entrevistas feitos por telefone. Foram analisados dados de países de baixos, médios e altos rendimentos de África, Ásia e América do Norte. Só dois dos estudos são de países europeus: um do Reino Unido e outro de França.

A OIT diz que o trabalho proporciona, entre outras coisas, condições financeiras para que os doentes consigam pagar tudo aquilo que está relacionado com os tratamentos, isto é, não só os medicamentos, mas também as deslocações aos serviços de saúde e uma alimentação saudável.

“Ao mesmo tempo que o acesso aos tratamentos aumentou extraordinariamente nos anos mais recentes, assegurar que as pessoas que vivem com VIH conseguem manter protocolos de tratamento continua a ser um desafio. Fica claro com este relatório que o emprego, e o papel concreto do local de trabalho, são vitais para se atingir o objectivo de conseguir ter 15 milhões de pessoas a viver com VIH a receberem tratamento em 2015, diz Alice Ouédraogo, responsável pela área da sida na OIT.

 

Discriminação em Portugal no local de trabalho

O trabalho surge uma semana depois de ter sido publicado em Portugal um outro documento que indica que quase um quarto das pessoas infectadas com VIH/SIDA, inquiridas num estudo, disse ter sido excluído da família; e metade dos participantes foi forçada a mudar de casa e perdeu uma oportunidade de trabalho por “viver com vírus”.

O Stigma Index Portugal, que analisou pela primeira vez o estigma que existe no país relativamente às pessoas infectadas com VIH, inquiriu 1474 pessoas com VIH de vários grupos vulneráveis.

Questionados sobre os tipos de exclusão que sofreram, 24,7% dos inquiridos disseram ter sido afastados de “actividades com familiares”, 23,3% de “actividades religiosas ou dos lugares de culto” e 20,1% de “encontros ou actividades sociais”, indicam os dados. Sobre as consequências da discriminação nos últimos 12 meses, 25% dos participantes foram forçados a mudar o local de residência ou impedidos de arrendar casa e 25% viram ser-lhes recusada ou negada uma oportunidade de trabalho. Houve ainda 14,4% das pessoas que disseram que lhes mudaram as tarefas no trabalho.

Sobre a situação laboral, a maioria dos inquiridos (608) está desempregada, 318 estão empregados a tempo inteiro por conta de outrem, 233 estão reformados, 175 fazem “biscates ou trabalhos precários por conta própria”, 58 são empregados a tempo inteiro por conta própria, 52 empregado em part-time por conta de outrem e 30 são estudantes.

O estudo é um projecto internacional e em Portugal foi coordenado pelo Centro Anti-Discriminação, com a associação SER+ e o Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA, tendo sido financiado pelo Programa ADIS-SIDA. Os locais de entrevistas foram os hospitais e centros hospitalares de Lisboa, Porto, Setúbal e Faro, os distritos em que a prevalência dos casos notificados até 31 de Dezembro de 2011 era superior a 5%.

Fonte: 
Público Online
Nota: 
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