28 de Julho: Dia Mundial das Hepatites
A hepatite é uma infecção no fígado e pode ser provocada por bactérias, por vírus, entre os quais estão os seis tipos diferentes de vírus da hepatite (A, B, C, D, E e G). Também o consumo de produtos tóxicos como o álcool, medicamentos e algumas plantas podem provocar hepatite.
Existem vários tipos de hepatites e a gravidade da doença é variável em função disso e também dos danos já causados ao fígado quando a infecção é descoberta. Assim, dependendo do seu tipo a hepatite pode ser curada de forma simples, apenas com repouso, ou pode exigir um tratamento mais prolongado e complicado, podendo não levar à cura completa. Apesar de em muitos casos se conseguir controlar a evolução da doença, uma hepatite pode tornar-se crónica e pode evoluir para uma lesão mais grave no fígado (cirrose) ou para o carcinoma hepático (cancro do fígado) e em função disso provocar a morte. Contudo, deste que detectadas atempadamente, as hepatites crónicas podem ser acompanhadas, controladas e mesmo curadas.
Existem ainda as hepatites auto-imunes que são no fundo uma espécie de uma perturbação do sistema imunitário, que sem que se saiba ainda porquê, desenvolvem auto-anticorpos que atacam as células do fígado, em vez de as protegerem.
Segundo dados da SOS Hepatites existem “cerca de 500 a 550 milhões de pessoas infectadas no Mundo, sendo que 1 em cada 12 pessoas no Mundo é portadora de Hepatite B e/ou C, e a maioria desconhece este facto”. Isto porque a doença é “completamente assintomática”, explica Emília Rodrigues, presidente da Associação.
Em Portugal “continuamos a não ter dados concretos de quantos infectados existem. A Organização Mundial de Saúde estima que 1,5% da população portuguesa está infectada com o vírus da hepatite C. Esta percentagem dá-nos uma média de 150 mil pessoas”, diz a presidente.
Factores de risco
O principal factor de risco para contrair a infecção é a partilha de objectos pessoais. “Corta unhas e alicates das unhas, as giletes, as escovas de dentes e todos os objectos passíveis de fazer sangue não se partilham. O sexo com preservativo sempre!”, esclarece Emilia Rodrigues.
Por outro lado, uma pessoa que:
- Esteve na Guerra do Ultramar e da Índia
- Deu ou recebeu sangue antes de 1992/1993
- Foi operado antes de 1992/1993 (mesmo em pequena cirurgia - "pontinhos")
- Foi mãe
- Fez abortos
- Tem os valores ALT, AST e Gama GT alterados,
- Consome (consumiu) drogas inaláveis/injectáveis (mesmo que só 1 vez)
- Tem (teve) múltiplos parceiros sexuais
- Faz (fez) sexo sem preservativo
- Tem tatuagens e/ou piercings
Deve procurar o médico de família e solicitar o rastreio.
O estigma ainda persiste
A hepatite é geralmente ignorada, estigmatizada e mal entendida. Apesar de mais conhecida e de a população estar mais consciencializada para a prevenção desta infecção, a hepatite ainda é uma doença tabu. Emília Rodrigues refere que, “embora hoje haja mais conhecimento o estigma continua e ainda se pode utilizar a frase da SOS Hepatites: ‘Não querer saber é pior do que desconhecer’”.
Para consciencializar e influenciar mudanças reais na prevenção da doença e no acesso ao exame e tratamento a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu a celebração do Dia Mundial das Hepatites. Infelizmente, lamenta Emília Rodrigues, “a OMS alterou a data de celebração de 19 de Maio para 28 de Julho o que torna complicado a comemoração do Dia, uma vez que é tempo de férias”. Porém, à semelhança do que aconteceu no passado transacto a SOS Hepatites comemora o Dia Mundial das Hepatites na praia. “Hepatite: Pense de Novo” é o lema da campanha mundial de 2014. “Este ano estamos na Costa da Caparica durante todo o dia com aulas de ginástica, música, entrega de folhetos e brindes. Vamos ter também a presença de várias figuras públicas que nos apoiam neste Dia”, informa a responsável que defende a realização de “campanhas, campanhas, campanhas… a falar nas hepatites desmistificando-as e alertando a população para os meios de contágio”.
Dificuldades socioeconómicas dos doentes
O acesso à terapêutica inovadora é, neste momento, a principal dificuldade sentida pelos doentes. Emília Rodrigues conta que também têm reclamações de doentes por falta de medicação tripla e da convencional, apesar de estarem disponíveis em Portugal os mesmos tratamentos que em qualquer outro país.
Contudo, também a questão social e familiar é difícil para os doentes com hepatite C. “Temos que pensar que cada doente de hepatite tem junto a si, no mínimo, dois afectados pela doença. Os cônjuges e os filhos são quem mais sofre com toda a ‘problemática’ do portador. O desgaste psicológico da doença acrescido à falta de medicação, à progressão da doença e a degradação física do doente, deprime não só o portador mas também a família”, conta a responsável, acrescentando que “a nível social muitos dos portadores escondem a sua real situação com medo do desemprego, do afastamento dos amigos, e algumas vezes da própria família”.
SOS Hepatites
A SOS Hepatites desenvolve ao longo do ano várias acções de sensibilização junto das escolas, Juntas de Freguesia, Santas Casa da Misericórdia. Realiza Workshops, está presente em reuniões científicas nacionais e internacionais e realiza anualmente um Congresso. Assinala o Dia Mundial das Hepatites e enquanto membro da European Liver Patients Association (ELPA) e da World Hepatitis Alliance (WHA) está presente nas reuniões que estas organizações desenvolvem ao longo do ano.
Em jeito de conclusão, Emília Rodrigues deixa a mensagem: “As hepatites, embora silenciosas, podem MATAR sem que tenhamos qualquer sintoma. Vamos solicitar o rastreio junto dos nossos médicos de família e preservar a nossa saúde. Podemo-nos salvar e ajudar quem amamos”.