Muito frequentes, pouco valorizadas

1 milhão de portugueses sofre de doenças da tiroide

Atualizado: 
25/05/2015 - 16:17
As doenças da tiróide, apesar de muito frequentes, são ainda pouco conhecidas e valorizadas. Segundo os últimos dados estas doenças afectam cerca de 1 milhão de portugueses e mais de 300 milhões de pessoas por toda a Europa.

Todos os anos se assinala, a nível mundial, o dia e a semana da tiróide cujo objectivo é promover o conhecimento da doença que afecta cerca de 1 milhão de portugueses e mais de 300 milhões de pessoas por toda a Europa.

A tiróide é uma glândula endócrina, localizada na base do pescoço, atrás da traqueia. Trata-se de uma glândula que produz as hormonas tiroideias, T3 e T4, que têm um importante papel na manutenção da homeostasia energética do meio interno, na estimulação do metabolismo e actividades celulares e no crescimento e diferenciação.

Apesar de muito frequentes, as doenças da tiróide são ainda pouco conhecidas e valorizadas, daí a importância de se falar destas doenças que afectam maioritariamente as mulheres (8 vezes mais mulheres do que homens), grávidas e crianças.

As principais doenças da tiróide incluem a função da glândula – disfunção tiroideia – e as doenças relacionadas com alterações morfológicas da glândula – bócio e atrofia. Ou seja, as disfunções tiroideias podem dividir-se em hipertiroidismo (hiperfunção) e em hipotiroidismo (hipofunção).

“A prevalência do hipotiroidismo clínico é de aproximadamente 0.3%. As formas sub-clínicas (TSH elevado com hormonas tiroideias normais) podem atingir 4.3%. já a prevalência do hipertiroidismo clínico é de aproximadamente 0.5%. As formas sub-clínicas (TSH baixo com hormonas tiroideias normais) podem atingir 0.7%”, refere Luís Raposo, coordenador do Grupo de Estudos da Tiróide da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM).

Segundo o especialista, “a patologia nodular da tiróide é muito frequente, em particular no sexo feminino, embora o risco de malignidade dos nódulos da tiróide seja relativamente baixo (cerca de 5%)”.

A incidência do cancro da tiróide tem vindo a aumentar em todo o mundo e Portugal não é excepção. Na opinião do coordenador, “a maior capacidade diagnóstica poderá ser um factor importante, embora a maior parte do aumento seja alcançado à custa do cancro de muito baixo risco (microcarcinoma). Por outro lado, o cancro da tiróide tem em geral um comportamento pouco agressivo e um tratamento eficaz, apresentando por isso muito bom prognóstico”.

Factores de risco

Os antecedentes familiares da doença tiroideia associam-se a maior risco de doença tiroideia.

A tiroidite crónica auto-imune é a principal causa de hipotiroidismo. Trata-se, segundo Luís Raposo, “de uma doença relativamente frequente no sexo feminino e que pode atingir 1 em cada 10 mulheres. Já o hipertiroidismo pode ser provocado mais frequentemente pela Doença de Graves e pelo bócio nodular tóxico”.

O diagnóstico precoce é importante em medicina porque pode alterar o prognóstico - a tiróide não será excepção. Porém, Luís Raposo não aconselha o rastreio da disfunção tiroideia e/ou da patologia nodular na população em geral.

Já por outro lado, o especialista defende “uma maior e melhor informação em particular sobre tiroidite auto-imune e a patologia nodular da tiróide, atendendo à elevada prevalência destes dois problemas”

Até porque, como em todas as áreas do conhecimento médico a Tiroidologia também evoluiu nos últimos anos sendo hoje mais sólidos os conhecimentos de fisiologia e fisiopatologia da tiróide. “A abordagem diagnóstica da doença tiroideia também sofreu grandes avanços com a utilização generalizada da ecografia tiroideia e da citologia guiada por ecografia”, refere Luís Raposo, sublinhando que, os progressos da biologia molecular alcançados nesta área também parecem prometedores e o tratamento do cancro da tiróide tem vindo a ser optimizado através da maior disponibilidade de centros especializados.

Estatísticas

De acordo com as estimativas da GLOBOCAN 2012 para Portugal a taxa de incidência de cancro da tiróide é cerca de 3 vezes maior no sexo feminino do que no sexo masculino (4.6 versus 1.6/100 000). Ainda de acordo com estas estimativas a taxa de mortalidade é de 0.3/100 000 em ambos os sexos.

Já de acordo com o Registo Oncológico Nacional 2007 a taxa de incidência de cancro da tiróide é cerca de 4 vezes maior no sexo feminino (13.4 versus 3.3/100 000).

A região norte parece ter maior incidência deste tumor, segundo os dados 2006-2008 de vários Registos Oncológicos Regionais (ROR) e que poderá ser devida a mais diagnóstico da doença.

 

ROR

Mulher

Homem

Norte - RORENO

22.1

4.6

Centro

11.6

2.8

Sul

10.1

2.5

Açores

10.8

2.6

 

No que diz respeito à mortalidade por cancro da tiróide, de acordo com dados do INE para o período 2004-2012 a taxa é semelhante em todo o país e aproximadamente de 0.3/100 000 em ambos os sexos. A sobrevivência aos 5 anos por cancro da tiróide tem vindo a aumentar em ambos os sexos no RORENO e no sexo feminino no ROR sul. A sobrevivência é em geral superior a 96%.

Grupo de Estudos da Tiróide

O Grupo de Estudos da Tiróide (GET) tem uma orientação multidisciplinar integrando um vasto grupo de profissionais de várias áreas do conhecimento médico: endocrinologia/tiroidologia, cirurgia endócrina, medicina nuclear, anatomia patológica, patologia clínica, biologia molecular. Tem como missão o aprofundamento do conhecimento na área da Tiroidologia através de: investigação clínica, epidemiológica e básica; organização de reuniões periódicas sobre temas da tiroidologia; colaboração em todas as actividades da SPEDM; acções de formação junto de profissionais de saúde, doentes e público em geral; publicação de informação relevante sobre a tiroidologia; parcerias com centros de investigação (IPATIMUP e ISPUP); representação em sociedades nacionais e internacionais; colaboração com a DGS na elaboração de Normas de Orientação Clínica da área.

Tem desenvolvido investigação na área da tiroidologia, com destaque para os trabalhos sobre o aporte iodado na população portuguesa e poduzido material de apoio para o doente com patologia tiroideia sob a forma de folhetos temáticos disponíveis no site do GET.

Por expressa opção do autor, o texto não respeita o Acordo Ortográfico

Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
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