Dores de barriga

Uso de probiótiocos abre possibilidades terapêuticas e preventivas na dor abdominal funcional da criança

A prevalência da dor abdominal funcional em idade pediátrica tem um peso significativo nas consultas de gastroenterologia pediátrica e nas consultas de pediatria em geral. Em 25% dos casos é a dor abdominal que levam os pais a procurar um médico, mas nem sempre são motivo de alarme. Muitas vezes, o tratamento passa por gerir a ansiedade dos pais e da criança e também atuar ao nível da microbiota intestinal, explica a Rosa Lima, gastroenterologista pediátrica do Centro Hospitalar e Universitário do Porto.

“Geralmente na dor abdominal funcional não precisamos de ser invasivos em termos de exames médicos, até porque podemos estar a preocupar os pais e a criança, o que pode perpetuar ainda mais o quadro. A dor abdominal funcional está relacionada com alterações do eixo intestino-cérebro do qual participa a microbiota intestinal”, afirma a especialista.  

Rosa Lima explica que no nosso intestino existem triliões de microrganismos, a que se dá o nome de microbiota intestinal e onde bactérias benéficas e nocivas competem entre si. Os desequilíbrios neste ecossistema podem provocar doenças. “Se nós conseguirmos modelar a microbiota intestinal, por exemplo com probióticos, podemos controlar a doença”, sublinha. Acrescenta ainda que o tratamento, para ser bem-sucedido, deve também ter em conta a dimensão biopsicossocial da criança. 

Quando procurar um médico 

Para fazer um correto diagnóstico, “importa saber as características da dor, se a criança está bem, se tem tido uma evolução ponderal adequada, se é uma criança saudável fora dos períodos da dor”. Associados à dor podem estar outros sinais e sintomas como problemas de defecação (obstipação ou diarreia), vómitos ou regurgitação. 

Acrescenta, no entanto, que “há um conjunto de sinais aos quais devemos estar atentos no sentido de perceber se estamos perante um quadro funcional ou de doença orgânica”. Explica que a dor funcional se localiza, geralmente, na região à volta do umbigo, enquanto outros quadros de dor podem estar noutras localizações e obrigam a considerar outros diagnósticos. “Entre os sintomas que devem levar a uma consulta no médico estão os vómitos persistentes (por vezes acompanhados de sangue), dor perianal, perda de peso e febre. “Se com a dor abdominal existem também estes sintomas, estes têm de ser investigados de forma mais exaustiva por um médico”, salienta. 

Entre os fatores que podem interferir com a dor e com a forma como a criança a perceciona estão a alimentação, a ansiedade, o uso excessivo de antibióticos (desequilibram a microbiota, causam diarreia), o divórcio parental ou o bullying. Às vezes as crianças expressam situações angustiantes através da dor. Daí que seja importante ter em conta estes fatores na análise clínica e no tratamento.  

Quanto aos probióticos – organismos vivos que quando administrados na dose adequada conferem benefícios à saúde do hospedeiro – refere que os Lactobacillus reuteri, os Bifidobacterium infantis e o Lactobacillus rhamnosus demonstraram, em diversos estudos, eficácia na redução do risco e no tratamento de distúrbios de dor funcional em pediatria. “Tendo em conta que existe uma relação entre a microbiota intestinal e os distúrbios gastrointestinais funcionais na criança, o uso de probióticos abre possibilidades terapêuticas e preventivas interessantes”, remata a médica. 

Fonte: 
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Nota: 
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