Uso de máscaras nas ruas deve cair a meio de setembro, mas especialistas defendem a sua antecipação
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O virologista Pedro Simas, um dos especialistas que sempre defendeu que a última fase de desconfinamento deveria ter ocorrido mais cedo, considera que este “devia estar condicionado ao efeito da vacinação na população portuguesa” e não “à percentagem de vacinação, apesar de haver um efeito entre a vacinação e o número de casos graves”.
Segundo o especialista o Governo tem sido prudente nesta matéria, mas já se devia ter avançado com outras medidas de desconfinamento, além do fim da imposição do uso de máscara na rua. “Uma pessoa [que] está vacinada e tem um contacto com uma pessoa que é positiva não deveria ficar em quarentena. Se não tem sinais clínicos e, ao fazer um teste PCR, é negativo, não tem que ficar em quarentena preventiva. Isso devia ser revisto”, disse ao Eco.
No entanto, Pedro Simas alerta para o que está a acontecer em outros países que desconfinaram mais cedo e onde surgiu um aumento de casos. Segundo o especialista, devemos observar e não desconfinar completamente.
O professor e investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT-UNL), Tiago Correia, argumenta no mesmo sentido, mas considera que a questão “deve ser vista por vários ângulos”.
Entre eles “a eficácia de medidas às quais a população já não adere”. “É relativamente consensual que é mais prejudicial do que benéfico ter medidas de obrigatoriedade que não são cumpridas, porque causa descrédito às autoridades. Se a maioria da população deixar de cumprir, deixa também de ser eficaz”, explica ao Eco.
Por outro lado, diz concordar “em parte” com o facto de o Governo fazer depender o desconfinamento do processo de vacinação. Mas sendo as vacinas eficazes a circulação do vírus não vai produzir doença com intensidade igual à do passado, daí que considere que, por esse ponto de vista, o uso obrigatório de máscara em espaços públicos “devia cair”.
Já o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, que integra a comissão técnica de vacinação contra a Covid-19, mais prudente, chama a atenção para a necessidade de, mesmo em espaços abertos, “haver bom senso” após deixar de ser obrigatório o uso de máscara na via pública.
Este especialista apela a um desconfinamento gradual estando “constantemente a acompanhar o que é que se está a passar nos hospitais”.
“Hoje em dia, sou daqueles que concordam que não tem assim tanta importância o número de infeções como tem o número de doentes a necessitarem de hospitalização“, afirma.