SPEO e ADEXO apontam cinco prioridades para “recalibrar a balança” na gestão da obesidade em Portugal
Este documento apresenta um conjunto de recomendações e estratégias e aponta cinco prioridades para melhorar a forma como a obesidade é gerida em Portugal, que passam por:
- Promover uma abordagem holística e digna no tratamento da obesidade - do ónus individual é urgente passar para uma visão partilhada de saúde pública, no qual todos têm um papel a desempenhar;
- Mobilizar recursos para garantir a formação especializada dos profissionais de saúde;
- Criar um programa de consultas de obesidade nos cuidados de saúde primários;
- Viabilizar a comparticipação do tratamento farmacológico da obesidade, garantindo equidade;
- Criar mecanismos de combate ao estigma e descriminação associados a esta doença.
A pandemia da covid-19 tornou ainda mais evidente a necessidade de prevenir e tratar a obesidade - vários estudos relacionam a obesidade com casos mais graves de infeção pelo novo coronavírus, maior necessidade de internamento hospitalar e tratamento mais intensivo. Em agosto, uma análise de dados de 399 mil doentes publicada na revista Obesity Reviews, concluiu que pessoas que vivem com obesidade têm um risco 46% mais elevado de contraírem o vírus SARS-CoV-2.
O mesmo estudo concluiu que o risco de quem vive com obesidade vir a necessitar de tratamento hospitalar é 113% superior. É também 74% mais provável que estas pessoas precisem de internamento nos cuidados intensivos, com uma maior probabilidade (48%) de morte. Os especialistas que elaboraram esta análise manifestam também preocupação relativamente a uma eventual menor eficácia das vacinas contra a covid-19 em pessoas com obesidade.
Assim, de todas as doenças consideradas como fatores de risco para a covid-19, a obesidade é a mais comum, tendo em conta a prevalência a nível mundial (e também no nosso país): 650 milhões de adultos em todo o mundo segundo números da Organização Mundial de Saúde de 2016 e 1,5 milhões em Portugal (Inquérito Nacional de Saúde 2019).
Paula Freitas, presidente da SPEO, explica que este documento é lançado hoje porque “ignorar os riscos associados à obesidade, sobretudo no contexto desta pandemia, é contribuir para um país mais doente, vulnerável e assimétrico, incapaz de travar a progressão desta doença crónica e das suas consequências. Consequências que impactam não só a esfera individual, mas também as famílias, sistemas de saúde, economias e o progresso social, comprometendo a saúde das próximas gerações”.
Já Carlos Oliveira, presidente da ADEXO, relembra que “Portugal foi pioneiro no reconhecimento da obesidade enquanto doença crónica e problema de saúde pública em 2004. Mas precisamos de fazer mais. Urgentemente. A resposta eficaz na luta contra a obesidade depende de todos nós. Sem prevenção e sobretudo sem tratamento a obesidade vai representar uma barreira à equidade socioeconómica e ao progresso do país.”
Neste Dia Mundial da Obesidade 2021 a SPEO e ADEXO salientam ainda que a obesidade tem um enorme impacto na saúde física, mas não está dependente apenas do estilo de vida: problemas psicológicos, hormonais, distúrbios do sono, genética, acesso a cuidados de saúde e acontecimentos da vida, como a menopausa, cessação tabágica e até o recente confinamento podem levar a alterações de peso difíceis de controlar. É, por isso, necessário e urgente envolver toda a sociedade e aproveitando a experiência e lições do passado, fazer diferente e encontrar estratégias e respostas eficazes para conter e reverter a prevalência desta doença crónica. É tempo de recalibrar a balança na luta contra a obesidade.