Simpósio da Fundação Champalimaud explora o cancro como ecossistema
“Sabemos hoje que os tumores são mais do que apenas um aglomerado de células anormais”, afirma Ana Luísa Correia, co-Chair do Simpósio Champalimaud 2024 e investigadora principal do Laboratório de Dormência e Imunidade do Cancro na FC. “São na realidade populações celulares extremamente dinâmicas, que estão intrinsecamente ligadas ao resto do nosso corpo através de vasos, nervos, células imunitárias e hormonas. Estas ligações permitem que os tumores exerçam efeitos de longo alcance na sua progressão. Um tumor é como um bairro problemático de uma cidade: embora as condições locais determinem o que ali acontece, a área está também em constante comunicação com o resto da cidade”.
Tal como os bairros urbanos dependem de sistemas interligados – auto-estradas, redes eléctricas e pessoas – os tumores dependem do apoio externo dos sistemas do corpo: vasos sanguíneos (para nutrientes e oxigénio), sistema imunitário (muitas vezes manipulado pelos tumores para evitar serem detetados), sistemas nervoso e endócrino para crescerem, sobreviverem e se espalharem. Como salienta Correia, “para intervir eficazmente, temos de compreender melhor a forma como os tumores interagem com o corpo como um todo”.
A perspetiva ecológica também serve para perceber o aparecimento de metástases. “Tal como as comunidades humanas migram quando os recursos se tornam escassos, os tumores espalham-se para novos habitats quando o seu ecossistema local deixa de os sustentar”, explica Carlos Minutti, co-Chair do Simpósio e investigador principal do Laboratório de Imunorregulação na FC. “Esta complexidade é ainda influenciada por factores como a idade do doente, o sexo, a composição do seu microbioma e as influências externas como a dieta e o stress”.
Klaas van Gisbergen, investigador principal do Laboratório de Imunidade dos Tecidos na FC, explica o objetivo mais vasto do simpósio: “Este evento irá aprofundar a nossa compreensão da biologia complexa do cancro, tanto a nível local como sistémico. O nosso objetivo é desenvolver uma visão mais integrada da oncologia, que melhore a qualidade de vida dos doentes e reduza a mortalidade. Acreditamos firmemente que enfrentar este desafio multidimensional exige uma colaboração interdisciplinar e tecnologias avançadas, desde a edição genética e a análise de célula única até à biologia dos tecidos e as mais modernas abordagens computacionais”.
O CRSy24 reúne cientistas de renome internacional e mais de 270 participantes de 12 países vão apresentar os últimos avanços na investigação das interações cancro-corpo, promovendo a colaboração entre as comunidades de investigação básica e clínica. Para além de um vasto programa de palestras, o CRSy24 inclui sessões de posters, oportunidades de networking e atividades sociais.