Projeto de investigação recebe meio milhão de euros para inovar no tratamento da doença coronária
Mais especificamente, o consórcio, que envolve também a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e a Universidade do Minho (UMinho), vai centrar-se nas oclusões coronárias crónicas totais (CTO, na sigla inglesa), que são encontradas em cerca de 18 a 35% dos pacientes com doença coronária estável.
As oclusões coronárias crónicas totais caracterizam-se pela obstrução completa (100%) das artérias coronárias, responsáveis pelo fornecimento de oxigénio e nutrientes ao coração. A oclusão destas artérias pode impedir o coração de funcionar normalmente e condicionar o aparecimento de sintomas de insuficiência cardíaca e angina de peito.
Por isso, sublinha a coordenadora do projeto, Maria João Vidigal, «o sucesso do tratamento das CTO reflete-se na qualidade de vida e sobrevivência dos doentes com doença coronária». Atualmente, a terapêutica preferencial, esclarece, «de acordo com as recomendações internacionais sempre que associadas a sintomas e isquemia, é a revascularização percutânea (efetuada através de cateterismo cardíaco) ou cirúrgica, quando possível. No entanto, estudos já realizados, neste contexto, não conseguiram corroborar claramente as vantagens deste procedimento sobre a terapêutica médica otimizada».
Assim, o grande objetivo do projeto, com a duração de dois anos, é «investigar, desenvolver e validar novos biomarcadores na área da imagem molecular que permitam a estratificação do risco, bem como o tratamento apropriado dos doentes CTO. Trata-se de um projeto inovador na área da saúde que se propõe melhorar, e individualizar, práticas clínicas já consideradas de excelência, indo ao encontro de uma medicina personalizada», explica a investigadora do ICNAS e docente da FMUC.
Para que tal seja possível, a equipa do “BioImage2CTO” vai explorar as alterações da perfusão miocárdica, nomeadamente a extensão da área de miocárdio isquémico/viável, que ocorrem perante uma situação de CTO. Essas alterações, clarifica Maria João Vidigal, «são condicionadas por múltiplos fatores que se associam à obstrução coronária, entre os quais se pode destacar o desenvolvimento de circulação colateral, angiogénese, e a disfunção endotelial».
«Embora a angiogénese seja um processo complexo, a sua relação com a expressão de integrinas avb3 na membrana celular já foi demonstrada. No entanto, a relação entre a presença de circulação colateral numa CTO e o benefício da revascularização parece fundamental, mas ainda não foi explorada de forma plena. Com este projeto pretende-se desenvolver um novo marcador, de seletividade melhorada para as integrinas avb3, que possa ajudar a caracterizar in vivo o processo de angiogénese coronária», explica.
Em paralelo, este estudo visa «poder disponibilizar metodologia de caracterização das CTO, através da utilização de PET-CT (Tomografia por Emissão de Positrões-Tomografia computadorizada), que permita incluir, na abordagem habitual desta situação clínica, novos parâmetros de imagem que facultem uma seleção melhorada de cada doente para revascularização, procedimento não isento a riscos e com custos significativos», acrescenta.
A identificação de novos biomarcadores e o desenvolvimento de metodologias clínicas que permitam selecionar a melhor abordagem terapêutica para cada paciente irão permitir, no futuro, «otimizar a orientação dos doentes com doença coronária, em particular daqueles com oclusões coronárias crónicas. Pretende-se que estas tecnologias sejam amplamente utilizadas na comunidade clínica, tendo seguramente um grande impacto ao nível do diagnóstico não invasivo de doenças cardiovasculares», sustenta Maria João Vidigal.
A coordenadora do projeto “BioImage2CTO” nota ainda que a prevalência da doença coronária tem vindo a aumentar, «consequência da adoção de estilos de vida pouco saudáveis e do envelhecimento progressivo da população, sendo consideráveis os custos envolvidos com o seu diagnóstico e tratamento».