Estudo

Profissionais de Saúde Mental defendem recurso a Aplicações Móveis de Saúde Mental

Os profissionais de saúde mental portugueses consideram que existe um potencial significativo para as Aplicações Móveis de Saúde Mental (AMSM) no auxílio ao combate à carga da doença mental em Portugal, sobretudo a nível da ansiedade, burnout e depressão.

A evidência é apresentada no artigo “Mental Health Professionals’ Attitudes Toward Digital Mental Health Apps and Implications for Adoption in Portugal: Mixed Methods Study”, da autoria de Diogo Nogueira-Leite do Nova SBE Health Economics & Management Knowledge Center, que revela ainda preocupações dos profissionais de saúde mental no que diz respeito à sua participação para assegurar que as aplicações ganham a adesão necessária. ‘É altura de o sistema de saúde português enfrentar este desafio, uma vez que apresenta muitas semelhanças relativamente a outras ferramentas digitais de saúde, como a necessidade de investir na literacia digital dos profissionais de saúde’ refere o investigador.

Em Portugal, numa realidade caracterizada pelo impacto considerável da doença mental, uma população cada vez mais envelhecida e limitações na prestação de cuidados de saúde, a relevância das AMSM está ainda por aferir. Explorar as atitudes e expectativas dos psiquiatras e psicólogos sobre as aplicações móveis de saúde mental no contexto português, bem como os benefícios, obstáculos e medidas de apoio à sua utilização foi o grande objetivo do presente estudo que pretende analisar as melhores políticas e esforços, públicos e privados, relativamente ao desenvolvimento e implementação destes produtos e serviços digitais para a saúde mental.

Dos resultados obtidos foi possível aferir que a maioria dos profissionais admite como válida a possibilidade de prescrever AMSM. No entanto, é necessária mais informação sobre a sua validade clínica e funcionamento em contexto de prática clínica antes de conquistarem a confiança dos prestadores de cuidados de saúde mental em Portugal. A produção de recomendações por organismos governamentais, assim como por associações profissionais e sociedades científicas, são fortemente encorajadas e existe um forte consenso relativamente aos benefícios e barreiras associados às AMSM e à necessidade de promover a literacia digital dos profissionais de saúde.

Quanto aos potenciais benefícios identificados, todas as hipóteses listadas obtiveram o acordo da maioria dos profissionais. Aquelas que diziam respeito aos pacientes incluíam vantagens como o aumento da literacia em saúde (87%), gestão adequada da doença (79%) e melhor acesso aos cuidados (75%), bem como melhor capacidade de tomar decisões informadas (65%). Por outro lado, de uma maneira geral, também concordaram, do ponto de vista dos profissionais de saúde, quanto a benefícios relativamente a ganhos de eficiência na prática clínica (70%), à disponibilização de opções terapêuticas adicionais (66%) e à melhoria dos cuidados prestados aos utentes (58%). Porém, só 39% concordou com a possibilidade das AMSM poderem contribuir para maior sucesso do tratamento.

Relativamente às barreiras para a adoção de AMSM, quase todos os participantes concordaram com a falta de informação sobre aplicações de saúde mental (96%), com a maioria a reconhecer uma curva de aprendizagem acentuada (72%) e a necessidade de ajustar a sua prática e registos clínicos (71%). Pelo menos um terço dos profissionais mostrou incerteza ou neutralidade quanto à falta de mecanismos de copagamentos por seguros e a falta de apoio pelos produtores destas ferramentas.

Adicionalmente, foram identificadas algumas medidas de apoio à adoção destas apps. A maioria das opções de resposta obteve a concordância da vasta maioria dos participantes, nomeadamente a disponibilização de mais informação sobre aplicações e a sua adequação ao contexto clínico (94%), receber mais evidência sobre o papel das AMSM como intervenções em saúde (92%) e a existência de recomendações ou diretrizes emitidas por sociedades científicas ou grupos profissionais (91%). Mais posições de desacordo e incerteza foram registadas quanto ao impacto da integração das AMSM nos pacotes de seguros de saúde.

Os dados primários analisados no presente estudo foram obtidos através de um questionário online (160 respostas completas) tendo sido os inquiridos questionados sobre as suas características demográficas, contextos de trabalho e nível de concordância (utilizando uma escala de Likert) relativamente a tópicos sobre potenciais benefícios, barreiras à utilização e medidas para apoiar a adoção de AMSM. Os dados recolhidos foram complementados com uma análise de 6 especialistas portugueses de aplicações digitais em saúde mental, que versou sobre os resultados obtidos e as suas opiniões quanto aos resultados do questionário.

As respostas obtidas no presente estudo, de participação livre e não remunerada, refletem as perceções daqueles que têm maior interesse sobre o assunto. No entanto, os especialistas auscultados consideram que as respostas desta amostra refletem globalmente as perceções da população-alvo, apesar das diferenças das características entre estes grupos. A maioria das respostas foram de profissionais do sexo feminino (84%) e de pessoas com idades inferiores ou iguais a 55 anos (94%). A maioria dos participantes trabalhavam em unidades que abrangiam uma população de mais de 20.000 habitantes (85%), representando sobretudo contextos urbanos, e trabalhando em diversos contextos laborais – sobretudo clínicas (36%) e hospitais (35%). Apenas 11% trabalhavam nos Cuidados de Saúde Primários.

Os participantes que reportaram atitudes mais positivas relativamente a AMSM e aqueles que trabalhavam em clínicas reportaram uma maior intenção de prescrever ou recomendar estas aplicações. Profissionais do sexo masculino também apresentaram maior probabilidade de apresentar atitudes positivas face à recomendação ou prescrição.

Foi encontrada uma correlação estatisticamente significativa entre a pontuação de afinidade digital e as intenções de prescrever AMSM, o que não aconteceu para a relação entre a afinidade digital e as atitudes dos profissionais. Globalmente, os resultados mostram que os profissionais de saúde mental portugueses esperam prescrever ou recomendar estas ferramentas a curto prazo (definido como os próximos 12 meses), apesar de não serem muito otimistas sobre estas aplicações, o que pode sugerir uma abertura para mudar as suas perspetivas e, neste sentido, as medidas identificadas para incentivar a adoção podem ser instrumentos importantes.

‘Como Portugal tem um sistema de dados de saúde maioritariamente centralizado, com um número único de utente de saúde para cada cidadão, pode servir como um contexto propício ao desenvolvimento de novas ferramentas de AMSM e avaliação do seu impacto. Pode, igualmente, servir de exemplo para outros países europeus na utilização destas abordagens inovadoras. Com base nos resultados obtidos, as nossas recomendações ajudarão agentes públicos e privados a identificar os principais problemas reconhecidos pelos profissionais de saúde mental e como melhor superá-los, melhorando assim a adequação ao mercado dos seus produtos e serviços e, por conseguinte, o acesso a cuidados digitais de saúde mental.’

Fonte: 
BA&N Communications Consultancy
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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