Estudo promovido pela Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC)

Portugal falha na inovação em cancro, revela estudo

A investigação em cancro em Portugal está em expansão e tem conquistado excelência e competitividade nos últimos anos. Contudo, um relatório promovido pela Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC), com o apoio da Fundação "la Caixa", da Fundação Calouste Gulbenkian e da Novartis, traça um retrato da investigação em cancro a nível nacional e aponta áreas críticas de intervenção, de grande benefício para os doentes, mas onde Portugal continua a falhar.

O estudo aponta áreas críticas de intervenção, de grande benefício para os doentes, mas onde Portugal continua a falhar, a começar pela inovação patenteável e a transferência de tecnologia - o número de patentes concedidas em aplicações biomédicas está muito abaixo da maioria dos países europeus. Por outro lado, no que toca aos ensaios clínicos, Portugal tem um ambiente de ensaios clínicos claramente de baixo desempenho, fortemente dependente do patrocínio e prioridades da indústria, sendo a maioria dos ensaios de grande escala, multicêntricos, de Fase 3, onde Portugal não tem um papel de liderança.

Em 2020, Portugal contabilizava mais de 60 mil novos casos e 30 mil mortes por cancro. Ao longo das últimas décadas, a incidência de casos no país tem aumentado, seguindo a tendência de outros países europeus. Existe atualmente uma urgência mundial para alcançar uma compreensão completa do cancro, de forma a melhorar a prevenção, diagnóstico e tratamento assim como contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Um fator-chave para o conseguir é garantir uma melhor integração e alinhamento das atividades de investigação em cancro, da investigação básica à aplicada, reforçando e ativando redes e infraestruturas.

Este é o primeiro estudo do género alguma vez feito em Portugal que demonstra, de uma forma geral, que o sistema de investigação nacional em cancro está em expansão e é capaz de produzir investigação de excelência que é competitiva a nível europeu. No entanto, o conhecimento produzido ainda carece de consolidação e de tradução eficaz em benefício do doente ou da sociedade, refere Joana Paredes, Presidente da Direção da ASPIC. Ecossistemas menores como o nosso não estão necessariamente em desvantagem, mas devem seguir modelos que se ajustem ao seu tamanho. Portugal poderia seguir um modelo semelhante ao da Bélgica, em que há uma opção de colaboração internacional, um foco específico em nutrir boas redes colaborativas e parceiros fortes, mantendo uma clara excelência nacional.

O estudo pretende fornecer um retrato da investigação em cancro a nível nacional, fazendo um mapeamento dos resultados da investigação e dos seus atores principais. O seu objetivo é iniciar discussões entre todos os interessados e identificar possíveis caminhos a seguir para posicionar Portugal como uma voz forte na investigação em cancro a nível global. A apresentação pública deste estudo, que acontece no dia 13 de setembro, às 9h, na Fundação Calouste Gulbenkian, inicia este processo.

Produção e Impacto Científico & Competitividade no Financiamento da UE

O cancro é uma área de investigação biomédica relativamente recente em Portugal; no entanto, a produção de investigação já está em linha com outros países europeus mais desenvolvidos. Apesar de se verificar uma baixa dedicação à investigação em cancro, em comparação com outras áreas, Portugal aumentou significativamente o seu impacto científico, sendo cada vez mais competitivo na captação de financiamento da UE, especialmente tendo em conta a pequena dimensão do país.

Tipo de Investigação & Transferência de Tecnologia

Quando se olha para o tipo de investigação e transferência de tecnologia, a investigação básica e translacional está um pouco mais representada e ganhou excelência nos últimos 10 anos. A investigação clínica também mostra um impacto científico significativo, em comparação com outros países europeus. Contudo, a inovação patenteável é uma área em que Portugal não se sai bem – o número de patentes concedidas em aplicações biomédicas está muito abaixo da maioria dos países europeus.

Ensaios Clínicos

Apesar do crescimento significativo na última década, Portugal tem um ambiente de ensaios clínicos claramente de baixo desempenho, fortemente dependente do patrocínio e interesses da indústria. A maioria dos ensaios clínicos realizados em Portugal são de grande escala, multicêntricos, de Fase 3, nos quais Portugal não tem um papel de liderança. Os ensaios clínicos com patrocinadores não industriais têm aumentado nos últimos anos. Os poucos estudos de fase inicial e iniciados pelo investigador mostram um padrão diversificado de interesses médicos que poderiam ser mais explorados.

Fonte: 
Lift Consulting
Nota: 
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