“As pessoas já se esqueceram do sufoco que vivemos de março a julho de 2020”
Enquanto ministra da Saúde, Magda Robalo tutelou a preparação da resposta nacional à pandemia de COVID-19 na Guiné-Bissau. De acordo com a ex-ministra, o maior desafio encontrado foi a gestão da desinformação e da bipolarização da sociedade, que levaram a constrangimentos na adesão às medidas de prevenção e na aceitação do confinamento, encerramento de instituições e redução da mobilidade.
"A maior inimiga que tivemos ao longo da gestão da pandemia foi a desinformação, que fez com que a população tivesse dificuldade em acreditar nas medidas que estavam a ser propostas e desconfiasse que as mesmas não serviam para combater a pandemia, tendo apenas um cunho político", revela Magda Robalo em entrevista.
Para superar o desafio, foram mobilizados todos os líderes de opinião tradicionais e religiosos, associações de jovens e mulheres e vários grupos profissionais.
Foram ainda estabelecidas colaborações com outros países para colmatar as limitações do Sistema de Saúde da Guiné-Bissau. Ministério da Saúde, Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau, Instituto Camões, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Instituto Nacional de Saúde, foram algumas das entidades portuguesas que prestaram apoio na formação de técnicos e, em certos casos, no acompanhamento e gestão de doentes à distância.
"Se tivermos a infelicidade de voltar a viver uma situação de crise sanitária, não teremos de recomeçar do zero, mas será necessária uma nova grande campanha de informação e sensibilização", salienta.
Enquanto presidente e cofundadora do IGHD, Magda Robalo revelou ainda que tem como prioridade a igualdade de género e o acesso a oportunidades. De acordo com a ex-ministra, “as mudanças legislativas nem sempre são seguidas de mudanças comportamentais, mas penso que as mulheres são portadoras da vontade de transformação de comportamento que nos levará a uma sociedade mais justa, na qual mulheres e homens são avaliados pelas suas competências e valorizados de igual forma”.
"Quando um casal tem poucos recursos e quer colocar os filhos na escola, o rapaz é privilegiado. Se conseguirmos mudar os tabus sociais e normas ancestrais de patriarcado que nos impedem de avançar, creio que iremos chegar longe. No caso da Guiné-Bissau, por exemplo, temos de trabalhar com os líderes tradicionais para que o casamento precoce das raparigas possa ser abandonado", afirma.
Outra prioridade do IGHD é o acesso equitativo a cuidados de saúde de qualidade. A médica de saúde pública refere que “o sistema de saúde na Guiné-Bissau está todo por construir. Temos infraestruturas obsoletas, não temos um hospital moderno, não temos centros de saúde adequados, devidamente equipados, temos carência de recursos humanos… está tudo por construir”. Magda Rebelo faz ainda referência ao que acredita ser um dos maiores desafios do país: “as taxas de mortalidade materna e de mortalidade infantil são extremamente elevadas. Muitas mulheres jovens continuam a perder as suas vidas ou a dos seus recém-nascidos durante a gravidez e no parto”.
Com a construção de um centro de pesquisa, cujo trabalho será desenvolvido em estreita cooperação com o Ministério da Saúde da Guiné-Bissau e o Hospital de Cumura, o IGHD pretende tornar a investigação um elemento central das políticas de saúde do país.