Parlamento recebe peritos para discutir novas recomendações sobre vacinação do adulto
De acordo com dados obtidos por esta iniciativa que reuniu um conjunto multidisciplinar de mais de 20 especialistas de vários segmentos do ecossistema de saúde, Portugal é um dos poucos países da União Europeia (UE) onde ainda não existe uma estratégia abrangente de vacinação especificamente dirigida ao adulto – seja por via de um calendário vacinal isolado ou integrado no programa de vacinação nacional, ou por via da narrativa de comunicação e sensibilização dirigida à população. Um cenário que se reflete não só no facto de este ser o quarto país onde a população idosa tem menos anos de vida saudáveis após os 65 anos, como também se traduz numa despesa que, se forem projetados para Portugal dados de países similares, se poderá exprimir em 245 milhões de euros em custos diretos e indiretos para tratar patologias preveníveis por vacinação como a Doença Pneumocócica, Gripe, HPV, Herpes Zoster (Zona) e Vírus Sincicial Respiratório (VSR).
Em resposta a este cenário, e tendo em consideração a evidência que comprova que a vacinação no adulto traz ganhos em saúde e económicos para o país, o think tank +Longevidade propõe uma maior aposta e atenção política à prevenção por vacinação, em vésperas da apresentação do Orçamento do Estado para 2025, através de uma amplificação do atual Programa Nacional de Vacinação (PNV), com o propósito de incluir um calendário vacinal dirigido à faixa etária do adulto, bem como de reforçar e destacar a narrativa preventiva ao longo da vida e as indicações vacinais dirigidas à população mais velha e vulnerável. Ao mesmo tempo, os especialistas deste think tank recomendam que seja otimizada a cobertura vacinal nos adultos através da identificação dos pontos de check-up ou de sensibilização e incentivo à vacinação que possam ser reforçados dentro e fora da rede de cuidados de saúde.
Outra das ambições elencadas nas recomendações propostas pelo projeto +Longevidade passa por incentivar uma maior capacitação do sistema de saúde para dar resposta aos desafios vacinais, em especial através do reforço da intervenção das Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC) e das Unidades de Saúde Pública (USP) no contexto da rede de cuidados primários, com vista a implementação de recursos e mecanismos orientados para o incentivo à adesão da população adulta à vacinação. A definição de novos modelos de avaliação e financiamento público é também apontada como uma medida fundamental, sendo necessário que estes sejam adaptados à natureza específica das vacinas com indicação para adultos, potencialmente alinhados com indicadores de cobertura, ganhos em saúde e qualidade de vida. Neste âmbito, sugere-se ainda que haja um reforço de cooperação entre o INFARMED e a Direção-Geral da Saúde (DGS) na avaliação de cada vacina.
Por fim, o novo relatório demonstra igualmente a necessidade de se salvaguardar o compromisso da população adulta com a vacinação. São propostas, entre outras medidas, a implementação de campanhas de comunicação e de sensibilização que eduquem os cidadãos para os benefícios alargados e multidimensionais das vacinas em idade adulta, bem como a segmentação populacional das narrativas e linhas de ação, com o objetivo de alinhar a estratégia de atuação com as necessidades de diferentes grupos populacionais.
Os especialistas responsáveis por este projeto apelam à ação por parte dos decisores políticos, profissionais de saúde e da sociedade em geral para a adoção de uma abordagem proativa na vacinação do adulto.
Segundo explicou o ex-ministro da Saúde Luís Filipe Pereira na sessão de apresentação das 21 recomendações do projeto +Longevidade no Parlamento, “a prevenção é dos aspetos mais pobres ao nível das políticas de saúde”, referindo mesmo que “dos mais de 15 mil milhões que temos para a saúde, apenas 1 a 2% de valores são gastos em prevenção, o que me leva a concluir que temos aqui uma importante área de intervenção e investimento, por forma a garantir a proteção da população”.
Neste contexto, Rita Sá Machado, atual Diretora-Geral da Saúde, destaca que “a vacinação continua a ser uma prioridade para a DGS”, destacando que “a vacinação nos adultos já é parte do Programa Nacional de Vacinação, mas estamos a fazer pareceres e novas propostas, para a podermos expandir e alargar com base na melhor evidência científica”. A par disto, a representante deste organismo público termina a intervenção a salientar a inovação na área das vacinas: “Temos de poder contemplar e incluir esta progressão impressionante, para nos juntarmos a parceiros europeus, e fazermos revisões em matéria daquilo que é a inovação que está lá fora.”
Nos últimos tempos, o tópico da vacinação no adulto tem vindo a ganhar destaque na política de saúde. Exemplo disso é a campanha de vacinação contra a Gripe e COVID-19 que arrancou na semana passada, e que este ano conta com o alargamento da vacina de alta dose contra a Gripe em pessoas com idade igual ou superior a 85 anos.
Outra das temáticas em debate, na antevisão da apresentação do Orçamento do Estado para 2025, é a possível introdução da vacina contra o Herpes Zoster (Zona) no PNV. Em julho deste ano, a DGS informou que estaria a avaliar a introdução desta vacina que já faz parte dos programas públicos de diversos países europeus.
Para Francisco George, presidente da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública e chairman deste projeto, “é preciso assegurar a cobertura vacinal equitativa da população-alvo, incluindo as pessoas mais vulneráveis e que precisam de ser imunizadas”. E acrescenta: “O Estado, que já financia múltiplas ações de vacinação destinadas a adultos, tanto vacinas fornecidas gratuitamente a grupos de risco, como outras que são comparticipadas, terá, necessariamente, que garantir o desenvolvimento da Vacinação no Adulto, através do Orçamento de Estado. Aliás, é sabido que os custos são compensados pelos resultados obtidos pela imunização: menos hospitalização, menos admissões em cuidados intensivos, e menos despesas com medicamentos”.