Pandemia faz descer satisfação dos portugueses com cuidados primários de saúde
O estudo da DECO PROTESTE revela que a assistência aos pacientes nos cuidados primários de saúde foi afetada pela reorganização dos serviços no período pandémico, sendo que 46% dos inquiridos que precisaram de cuidados de saúde durante a pandemia não conseguiram suprir todas as necessidades. Destes, 27% não tiveram uma única consulta – uma realidade à qual não será alheia a alocação de profissionais de saúde para o seguimento telefónico de doentes com Covid-19, processo de vacinação e outras tarefas referentes à gestão da pandemia.
Os dados reportados alertam que sete em cada dez utentes que falharam cuidados de saúde, não fizeram duas a cinco das consultas de que precisavam entre o início da pandemia e meados de 2021, manifestando impacto na sua saúde – num quarto dos casos com consequências graves.
A maioria dos inquiridos que têm o seu médico de família há menos de um ano (55%) indicam não terem tido todos os cuidados que precisavam, um valor superior aos pacientes que têm o mesmo médico há mais de 10 anos (40%). Estes dados parecem indicar que as relações mais duradouras com o médico de família tendem a beneficiar o acompanhamento dos utentes.
Em termos geográficos, o norte do País surge à frente das falhas reportadas, com 54% dos utentes a reportarem que não viram todas as suas necessidades atendidas. Em termos gerais, a proporção de queixas é maior entre os doentes crónicos e os que descrevem o seu estado de saúde como mau ou mediano.
Ana Guerreiro, Relações Institucionais da DECO PROTESTE, explica que “quanto maior o número de consultas suprimidas, maior se revela o impacto na saúde e menor a satisfação dos utentes com o médico de família e com o centro de saúde”.
Apenas um terço dos inquiridos que precisaram de cuidados de saúde não penalizaram o clínico geral. Quatro em dez consideram o acompanhamento médico insatisfatório e 28% assinala a opção “sofrível”. Quando questionados sobre o nível de satisfação atual com os cuidados de saúde primários, 31% dos inquiridos apontaram o sinal menos ao médico de família e 37% ao centro de saúde. Comparativamente ao período antes da pandemia, um terço dos utentes estão atualmente menos satisfeitos com o seu médico de família e quase metade com o centro de saúde.
O número de pacientes por médico de família, que em muitos casos chega aos 2000, constitui outro dos fatores para os elevados tempos de espera, sobretudo em período de pandemia. Esta é uma situação que se agrava no caso dos utentes sem médico de família, que supera um milhão de portugueses (1,1 milhões).