Organoide cardíaco criado em laboratório a partir de células estaminais vence Prémio de Investigação em Medicina Regenerativa
No âmbito do trabalho agora distinguido, foi desenvolvido um modelo (denominado de organoide por mimetizar um órgão) que recria a fase do desenvolvimento embrionário referente à formação da camada externa da parede do coração, o epicárdio. Trata-se do primeiro modelo descrito na literatura que consegue mimetizar em laboratório esta fase do desenvolvimento embrionário do coração humano.
Este projeto científico é o grande vencedor da 3.ª edição do Prémio Crioestaminal & SPCE-TC de Investigação em Medicina Regenerativa.
Para mimetizar o desenvolvimento embrionário do coração, o estudo publicado na revista científica Nature Communications e que tem como primeira autora a investigadora Mariana Branco, utilizou células estaminais pluripotentes induzidas humanas. Pela sua capacidade de diferenciação, estas células têm sido alvo de intensa investigação nos últimos anos para o desenvolvimento de modelos in vitro de uma vasta gama de tecidos e dos chamados organoides, estruturas tridimensionais que pretendem reproduzir a organização espacial de um órgão humano e replicar algumas das suas funções.
A recriação do desenvolvimento embrionário de tecidos do cérebro, do intestino e dos rins através de organoides derivados destas células foi bem-sucedida até ao momento, mas reproduzir as fases iniciais do desenvolvimento do coração tem sido particularmente desafiante.
Foi com este desafio em mente que a equipa de investigadores que desenvolveu o trabalho premiado se focou em recriar a camada externa do coração, chamada epicárdio, que envolve o miocárdio e é essencial para o crescimento do músculo cardíaco.
Este avanço científico permite dar um passo em frente no desenvolvimento de modelos cardíacos humanos em laboratório e poderá dar resposta a necessidades fundamentais e urgentes no campo da medicina cardiovascular, em particular na regeneração do miocárdio, no desenvolvimento de medicamentos e na avaliação de toxicidade a nível cardíaco.
Assim, o organoide cardíaco desenvolvido neste estudo pode ser usado para avaliar de que forma medicamentos já disponíveis afetam o desenvolvimento do coração. Algo que é crucial durante a gravidez, quando a medicação é necessária devido a doenças pré-existentes ou a condições relacionadas com a gestação.
Este modelo pode ainda ser uma ferramenta promissora para obter conhecimento sobre como desenvolver tratamentos, por exemplo, para o enfarte do miocárdio, uma das principais causas de morte em todo o mundo.
Estudar doenças cardíacas congénitas e identificar potenciais alvos para medicamentos que permitam melhorar a qualidade de vida e aumentar a esperança de vida destes doentes são outras das aplicações do modelo embrionário criado em laboratório.
“Este trabalho inovador poderá ser muito útil para dar resposta a necessidades médicas urgentes na área cardíaca e para ajudar empresas farmacêuticas a desenvolver medicamentos mais eficazes”, afirma Carla Cardoso, diretora de Investigação & Desenvolvimento da Crioestaminal e membro do júri deste prémio. “É com grande satisfação que reconhecemos este projeto de investigação na área da medicina regenerativa”, acrescenta.
O Prémio de Investigação em Medicina Regenerativa, promovido pela Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular (SPCE-TC) e pela Crioestaminal, reconhece a melhor publicação de índole básica ou aplicada na área designada, da autoria de investigadores nacionais ou estrangeiros, total ou parcialmente realizado em instituições portuguesas no ano anterior à sua atribuição (2022). O prémio consiste na atribuição de um valor pecuniário 2.000€ (dois mil euros) e a oportunidade de participar no Congresso ETRS & SPCE-TC 2023 Joint Annual Meeting a decorrer no ano de candidatura.