Oncologistas alertam que o "Cancro não espera em casa"
Esta campanha também reforça a importância de os doentes oncológicos continuarem a ser acompanhados por profissionais de saúde através de teleconsultas por forma a evitar um adiamento massivo de consultas. De acordo com a SPO, o impacto da pandemia causou uma quebra de 60 a 80% dos novos diagnósticos de cancro, números que os especialistas querem reverter em 2021.
Num contexto normal os doentes oncológicos têm frequentes admissões hospitalares eletivas, quer para tratamentos e exames complementares de diagnóstico ou seguimento, quer de urgência para controlo da toxicidade ou complicações da doença e tratamentos. A Covid-19 representa um risco acrescido uma vez que os doentes oncológicos são imunodeprimidos pela doença e pelo tratamento, o que se reflete no acesso às consultas e aos tratamentos por parte destes doentes.
No início do confinamento em Portugal, em março de 2020, o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa anunciou desde logo a suspensão das cirurgias programadas não oncológicas e as oncológicas não urgentes e sem implicações na vida ou progressão da doença, como forma de controlar a transmissão do novo coronavírus. Também foram adiadas as consultas de acompanhamento não urgentes, como forma de o IPO conseguir garantir a atividade assistencial aos doentes oncológicos. Em maio de 2020, já se tinham registado menos 2.500 cirurgias oncológicas, entre janeiro e abril deste ano, face ao mesmo período homólogo do ano anterior.
No que diz respeito ao diagnóstico, mais de mil cancros da mama, do colo do útero, colorretal e de outros tipos ficaram por diagnosticar em 2020 devido à redução dos rastreios por causa da Covid-19, de acordo com estimativas da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC).
Temendo os efeitos que esta diminuição de atividade assistencial e de rastreio possa ter ao longo de 2021, a SPO lança a campanha de sensibilização “O Cancro não Espera em Casa” que decorrerá nas páginas de Facebook da Sociedade Portuguesa de Oncologia e da Associação Movimento Oncológico Ginecológico (MOG), com o apoio de alguns influenciadores digitais.
Ana Raimundo, oncologista e presidente da SPO explica que “os diagnósticos que não são feitos em tempo útil serão feitos mais tarde e em fase mais avançada de doença, portanto, com menor potencial de cura e tratamentos mais complicados. Podemos prever que havendo tumores diagnosticados em fases mais avançadas, vá haver dentro de três, quatro ou cinco anos um aumento da taxa de mortalidade por cancro. E é por isso que queremos alertar a população portuguesa para a importância de aderir aos rastreios e, em caso de doença, não deixar de fazer os tratamentos por medo da Covid-19 pois tememos o efeito a longo prazo do abandono destes cuidados”.
Apesar de o combate à COVID-19 ter sido reforçado com o plano de vacinação iniciado a 27 de dezembro e estarem previstas até março de 2021 a administração de mais de um milhão de doses de vacinas, o fim da pandemia ainda está longe e por esse motivo a SPO reforça a necessidade de continuarmos a encontrar alternativas e mecanismos de resposta para os doentes oncológicos e de haver uma maior adesão aos rastreios do cancro ao longo do ano de 2021.