Obesidade é uma doença “crónica, grave e complexa e fator de risco para mais de 200 doenças e 13 tipos de cancro”
Os números desta doença em Portugal têm vindo a aumentar, com maior incidência entre 35-64 anos e com prevalência semelhante em ambos os sexos. No entanto, sente-se um esforço cada vez maior da sociedade no que respeita ao combate à obesidade e uma maior atenção da comunidade médica e científica em desenvolver novos tratamentos para controlar a doença.
Eduardo Lima da Costa, Diretor do CRI-Obesidade do Centro Hospitalar Universitário de S. João, reforça que “a obesidade é uma doença crónica, grave e complexa e fator de risco para mais de 200 doenças e 13 tipos de cancro. Devido à sua etiologia multifatorial com uma componente genética importante pode-se dizer que não é possível curá-la, mas é possível controlá-la e reduzir ao mínimo as suas consequências, bem como os custos que os tratamentos acarretam para a saúde e economia nacional. Há, atualmente, um amplo conhecimento científico do problema, com múltiplas soluções terapêuticas muito eficazes e passíveis de aplicação individualizada com o máximo de eficácia e conforto para o doente.”
A Obesidade deve ser prevenida na população através do incentivo de estilos de vida saudáveis, mas, uma vez estabelecida, não deve ser ignorada ou menosprezada, tornando imperiosa a orientação para uma abordagem clínica concertado do problema.
Ter gordura em excesso leva a que os adipócitos comecem a produzir substâncias pró-inflamatórias que vão desencadear outros mecanismos conducentes ao aparecimento das componentes do Síndrome Metabólico (diabetes, hipertensão, dislipidemia e apneia do sono), aquelas que constituem a maior causa de morte nos países desenvolvidos, as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares.
O tratamento da obesidade deve começar precocemente, nas fases iniciais da doença. O doente deve perceber que é uma doença crónica e progressiva cuja história natural é sofrer um agravamento progressivo à medida que a idade avança. O tratamento da obesidade tem características diferentes de muitos outros, ele é:
Crónico: porque se trata de uma doença prolongada, exigindo uma ação orientado para a sustentabilidade dos resultados
Multidisciplinar: porque envolve aspetos genéticos, nutricionais, endócrinos, psicológicos e motores, que exigem aconselhamento de especialistas nestes campos do saber médico
Evolutivo: pelo que deve ser abordado precocemente, iniciando-se com alterações do estilo de vida, ou seja, melhorar a qualidade da alimentação e praticar mais atividade física
Se as tentativas de modificação do estilo de vida, devidamente apoiadas por profissionais de saúde ligados ao tratamento da obesidade, não forem eficazes, deve-se avançar para patamares seguintes no tratamento. São eles a medicação para controle da gordura, os métodos endoscópicos e a cirurgia bariátrica.
As operações metabólicas funcionam por meio de alterações da anatomia e fisiologia gastrointestinais. Facilitam o cumprimento de planos dietéticos e tornam-nos muitíssimo mais eficazes, com resultados sustentados no tempo. As mais comuns são, pela ordem da frequência com que são hoje praticadas no mundo, o “sleeve gástrico”; o bypass gástrico clássico (em Y de Roux); o bypass gástrico de anastomose única e as derivações bilio-pancreáticas.
Portugal segue as linhas de orientação internacionais, disponibilizando todas as técnicas inovadoras aceites pela comunidade científica, favorecendo ligeiramente a realização de Bypass Gástrico Alto pelas características da sua população, à semelhança da atual tendência da Europa Ocidental. Todas as cirurgias são realizadas por abordagem minimamente invasiva (por laparoscopia, isto é, pequenas incisões com 5 ou 10mm). A taxa de complicações é inferior a 5% e o tempo de internamento médio é de 24h após a cirurgia.
O tratamento da Obesidade sofreu uma verdadeira revolução nos últimos anos: o excesso de peso não é uma inevitabilidade! Há soluções eficazes, seguras, confortáveis e sustentadas no tempo. Para uma adequada abordagem do controlo ponderal e metabólico, dever-se-ão procurar Centros de Tratamento de Obesidade com abordagem multidisciplinar e devidamente creditados pela Direção Geral de Saúde.