Revela investigação de grupo de especialistas ibéricos

Não existe evidência científica na eficácia das fórmulas hidrolisadas para a redução do risco alérgico

O aumento da incidência mundial de alergias alimentares tem motivado a realização de estudos de intervenção no âmbito da prevenção primária. Estes estudos têm sido efetuados, particularmente em crianças com risco atópico, com o objetivo principal de estabelecer recomendações que permitam intervir precocemente, prevenindo o desenvolvimento de alergia alimentar que afeta até uma em cada cinco pessoas. Embora raramente fatais, as alergias podem afetar o crescimento, desenvolvimento e qualidade de vida das crianças, além de estarem associadas a custos pesados de saúde e utilização de recursos.

Neste contexto, um grupo de especialistas em nutrição, gastroenterologia pediátrica, alergologia e neonatologia uniu forças para discutir o papel das fórmulas infantis na prevenção primária de alergias em lactentes para os quais a amamentação não é uma opção e que estão em risco de desenvolver alergias. Os tópicos discutidos neste artigo desenvolvido pelo grupo multidisciplinar de especialistas incluíram a avaliação do risco, o impacto da microbiota na modulação da tolerância imune e o valor agregado de certas características da fórmula, a saber, a integridade da proteína (proteína hidrolisada versus proteína intacta) e a adição de prebióticos, probióticos ou simbióticos.

Os especialistas concluíram que não existe evidência científica robusta a longo prazo no efeito dos leites para lactentes com proteína parcialmente hidrolisada na redução do risco alérgico, uma vez que a utilização de leites para lactentes com proteína parcialmente hidrolisada, em bebés saudáveis, não amamentados vs a utilização de um leite para lactentes com proteína inteira não revelou diferenças significativas. Isto porque a proteína intacta é semelhante ao leite materno.

Jorge Amil Dias, Especialista de Gastroenterologia Pediátrica no Hospital Lusíadas Porto e um dos autores deste artigo, salienta que “de acordo com as diretrizes internacionais, o aleitamento materno deve ser sempre incentivado pelas qualidades nutritivas, imunológicas, económicas e afetivas, ainda que o seu benefício na proteção contra alergia não esteja suficiente documentado. Em caso de necessidade de aleitamento por biberão, a fórmula proteica intacta deve ser oferecida a todos os bebés saudáveis, independentemente de seu risco alérgico (com exceção dos bebés amamentados a biberão apenas na primeira semana de vida, para os quais uma fórmula hidrolisada pode ser aconselhável)”.

“Não vale a pena utilizar por sistema leites com digestão especial de proteínas em crianças na alimentação infantil independentemente de terem ou não risco familiar de alergia” alerta o especialista que reforça ainda “por isso, se um bebé precisar de uma fórmula láctea deve receber uma que seja mais parecida com o leite materno”.

Neste artigo, os especialistas em nutrição, gastroenterologia pediátrica, alergologia e neonatologia, tecem uma série de recomendações para orientar o aconselhamento dos pais na escolha de uma fórmula para bebés em risco de alergia. Finalmente, os especialistas concordaram que o uso de fórmulas enriquecidas com prebióticos, probióticos ou simbióticos pode ser considerado em bebés em risco de desenvolver alergias.

A melhor alimentação para o bebé com todos os benefícios para o sistema imunitário é o leite materno. Este promove o melhor início de vida, pois proporciona-lhe todos os benefícios da amamentação, tais como a imunidade (diminuição do risco de infeções e alergias) e a proteção de que ele necessita. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância recomendam a amamentação exclusivamente durante os 6 meses iniciais e continuamente por até 2 anos ou mais. No entanto, nem todas as mães são capazes ou estão dispostas a fazê-lo; nesses casos, as fórmulas para lactentes são o único substituto adequado para o leite humano. De facto, as fórmulas infantis foram desenvolvidas para se assemelhar o mais possível ao leite humano; embora sejam comumente baseados no leite de vaca, seu conteúdo é diluído e modificado para se aproximar da distribuição de nutrientes encontrada no leite materno. As implicações financeiras e sociais de utilizar um leite infantil devem sempre ser consideradas. No caso da impossibilidade do aleitamento materno e no caso de serem utilizadas fórmulas infantis adaptadas, devem ser seguidas as instruções de utilização dadas pelo fabricante, pois a sua utilização incorreta pode colocar em risco a saúde do bebé. Para qualquer dúvida sobre a alimentação do bebé, deverá ser consultado o Profissional de Saúde.

Este ARTIGO baseia-se em uma série de reuniões do conselho consultivo que foram realizadas com os seguintes objetivos: (i) discutir o papel das fórmulas infantis na prevenção primária de alergias em bebês não amamentados que estão em risco de desenvolver alergias; e (ii) emitir uma série de recomendações destinadas a aproximar a prática clínica das evidências científicas. O painel dos conselhos consultivos foi composto por Jorge Amil Dias (Gastroenterologia Pediátrica, Hospital Lusíadas), Edmundo Santos (Unidade de Neonatologia, Hospital de São Francisco Xavier - Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental), Inês Asseiceira (Laboratório de Nutrição, Faculdade de Medicina de Lisboa, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte), Silvia Jacob (Unidade de Alergologia Pediátrica, Centro Hospitalar Universitário São João) e Carmen Ribes Koninckx (Gastroenterologia e Hepatologia Pediátrica & Instituto de Investigacion Sanitaria, Hospital Universitario y Politecnico La Fe) – e as reuniões ocorreram em dezembro de 2021 e abril de 2022.

Fonte: 
Ipsis
Nota: 
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