Investigadores criam “mini-cérebros” para modelar a demência por corpos de Lewy e identificar tratamentos
A demência de corpos de Lewy (DCL) é uma doença neurodegenerativa progressiva que partilha caraterísticas com a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer, mas que pode ser mais difícil de diagnosticar. Os sintomas podem incluir alucinações, perturbações do movimento, problemas cognitivos, problemas de sono e depressão.
Esta patologia não tem cura e os cientistas afirmam que existem poucos modelos pré-clínicos exactos para a estudar. Uma caraterística que define a doença é uma proteína chamada alfa-sinucleína, que é codificada pelo gene SNCA. Esta proteína encontra-se nas células nervosas do cérebro e pode acumular-se em massas chamadas corpos de Lewy, que podem contribuir para os sintomas de demência.
Para compreender melhor a patologia da doença, uma equipa de investigação da Mayo Clinic, liderada pelo neurocientista e autor sénior, Na Zhao, desenvolveu modelos pré-clínicos de minicérebros utilizando células estaminais de doentes com DCL que tinham cópias extra do gene SNCA, o que pode ter causado a sua doença. Os doentes doaram as suas células da pele após o diagnóstico, enquanto ainda estavam vivos. Os cientistas converteram então as células da pele em células estaminais e utilizaram-nas na investigação.
Utilizando técnicas genómicas avançadas, como a sequenciação de ARN de uma única célula, que examina o material genético em células individuais, os investigadores provaram que os seus modelos de mini-cérebros reflectiam as alterações observadas nos cérebros humanos de doentes com DCL que doaram os seus cérebros ao Banco de Cérebros da Mayo Clinic, tornando os modelos ferramentas valiosas para estudar a forma como a doença se desenvolve.
Os investigadores utilizaram o seu novo modelo de sistema para analisar quase 1300 medicamentos aprovados pela Food and Drug Administration, identificando quatro candidatos que poderiam ajudar a prevenir a acumulação de alfa-sinucleína nos neurónios.
"Este estudo sugere que estes modelos de mini-cérebros podem imitar eficazmente o desenvolvimento da doença, oferecendo uma plataforma potencial para testar tratamentos individualizados para os doentes”, explica Zhao. Os quatro candidatos a fármacos identificados, que têm o potencial de inibir a alfa-sinucleína e restaurar a produção de energia nos neurónios de doentes com DCL, poderão ser aperfeiçoados ou modificados para desenvolver novos tratamentos para a DCL e demências associadas no futuro.
Os investigadores afirmam que outros estudos poderiam introduzir tipos de células adicionais para melhor imitar a complexidade do cérebro humano. Os investigadores poderiam então utilizar estes modelos melhorados para investigar melhor os mecanismos da doença, por exemplo, explorando a forma como os genes de alto risco influenciam o desenvolvimento da doença.