Internamentos sociais no SNS sobem 11% num ano e custos podem ascender aos 260 milhões de euros
Os internamentos sociais, que em março deste ano representavam 11,1% do total de internamentos nos hospitais públicos, têm um custo anual que pode ultrapassar os 260 milhões de euros.
Considera-se internamento inapropriado todos os dias que um doente passa no hospital após alta clínica e não existe motivo de saúde que justifique a sua permanência em ambiente hospitalar.
Os internamentos inapropriados nas unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentaram este ano, assim como os custos associados a estes casos, que se explicam por atrasos, quer na admissão para a Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCCI), como na admissão para Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI).
Em março, estavam internadas de forma inapropriada nos hospitais portugueses 2164 pessoas, o que se traduz num aumento de 11% face ao ano anterior (1955 pessoas).
À data da recolha dos dados (20 de março de 2024), estes casos representavam 11,1% do total de internamentos nos hospitais nacionais, o denominado Índice de Inapropriação do Internamento, o que representa um aumento de 0,6 pp, cerca de 5,7%, face aos dados do anterior Barómetro.
Também à data da recolha dos dados, os internamentos sociais têm um custo de mais de 68 milhões de euros para o Estado, o que compara com cerca de 52 milhões de euros em março de 2023. Extrapolando este cenário para o conjunto do ano, os internamentos sociais inapropriados têm um impacto financeiro estimado superior a 260 milhões de euros.
Os dados da 8.ª edição do BIS dão conta de um total de 378.068 dias de internamento inapropriado (mais 13% face a 2023), um número que espelha o elevado impacto deste fenómeno no prolongamento da ocupação das camas em ambiente hospitalar e a elevada espera por respostas para admissão a RNCCI e ERPI. Ou seja, não só a lista de espera das pessoas que aguardam vaga em ERPI aumenta, como o tempo de espera também aumenta.
A falta de resposta da RNCCI é a principal causa do número de internamentos inapropriados em todas as regiões, sendo que no Centro representa 74% dos internamentos, seguindo o Algarve com 49% e Alentejo com 46%. A falta de resposta por parte das ERPI tem maior impacto nos internamentos inapropriados em Lisboa e Vale do Tejo, registando 68%, seguindo-se o Centro, com 40% e Algarve com 38%.
Lisboa e Vale do Tejo e o Norte são as regiões com maior número de internamentos inapropriados, representando 80% do total de internamentos inapropriados e 97% do respetivo total de dias.
Os dados desta edição do BIS revelam ainda que metade dos episódios e metade dos dias registados de internamentos inapropriados têm origem no serviço de Medicina Interna. O sexo masculino é o que regista mais dias de internamento inapropriado, com 60% dos episódios. Os idosos (pessoas com mais de 65 anos) continuam a registar não só o maior número de internamentos inapropriados (76%), como também ficam mais dias internados, após alta médica.
A 8.ª edição do Barómetro de Internamentos Sociais, desenvolvido pela APAH em parceria com a EY Portugal, contou com a participação de 29 unidades hospitalares do SNS, num total de mais de 20.000 camas, representando 90% do total do SNS.
Para Xavier Barreto, Presidente da APAH, “As sucessivas tentativas de resolução desta questão infelizmente não têm surtido o efeito desejado. Continuamos a ter uma parte significativa das camas ocupadas com internamentos inapropriados, o que prejudica seriamente a atividade de todos os hospitais.
Importa discutir o caminho a seguir, quer no âmbito do reforço das camas de retaguarda, como nancapacitação das famílias e da sociedade como um todo, para lidarem com uma população tendencialmente mais idosa e mais dependente. Falta, acima de tudo, uma articulação de respostas entre os sectores social e da saúde, que pense e articule as respostas com um todo.”
“O impacto dos internamentos inapropriados é enorme, sobrecarrega toda a estrutura e leva a um esgotamento dos recursos, muito mais acelerado. Nesse sentido, e porque é um tema não só de saúde pública mas também social, é necessário adotar uma abordagem consistente e multifacetada”, refere Miguel Amado, Partner, Government and Public Sector Leader da EY Portugal e responsável pelo estudo. Como? “Aumentando a disponibilidade de vagas em ERPSs e RNCCI e outras respostas sociais, garantindo respostas integradas e eficazes entre os diferentes setores e entidades, desburocratizando os processos administrativos e investindo na rede de suporte aos cuidadores (informais). Transversalmente a todas estas medidas, urge adequar a legislação às necessidades da realidade de uma população envelhecida e que visem a sua proteção. Nesta matéria, as empresas podem ser parte integrada da solução, contribuindo com o seu expertise e know-how e capacidade de resolução e promoção de melhores soluções”, acrescenta o responsável da EY Portugal.