Inteligência artificial abre caminho à análise não invasiva de espermatozoides nos tratamentos de fertilidade
"Após um trabalho intensivo de investigação, conseguimos criar uma nova ferramenta de apoio à clínica que aposta na análise não invasiva do esperma através da aplicação da Inteligência Artificial (IA). Isto permite-nos diferenciar alguns espermatozoides dos outros e assim definir o perfil bioquímico de cada um deles. Ou seja, deixa de ser necessário alterar o espermatozoide para analisá-lo e perceber qual o mais adequado para alcançar o sucesso reprodutivo", explica Nicolás Garrido, diretor da Fundação IVI e coordenador deste estudo, intitulado “Hyperspectral imaging of single spermatozoa as a promising non-destructive objective tool for sperm selection prior to ICSI – determination of reproducibility, sensitivity and specificity”.
De acordo com o coordenador do estudo, a literatura atual no campo reprodutivo é muito limitada no que diz respeito ao fator masculino, pelo que os conhecimentos existentes sobre os fatores que influenciam a infertilidade masculina e os conhecimentos de como melhorar o diagnóstico e o tratamento ainda precisam de ser aprofundados.
"Até agora, a informação bioquímica do esperma só foi estudada com recurso a técnicas invasivas. Graças a este trabalho, somos capazes de associar, de forma inócua, uma identidade única e inequívoca ao esperma e reconhecê-la entre outros espermatozoides. Para tal, primeiro tínhamos de ser capazes de verificar que o que medimos é reprodutível, particular e característico de um espermatozoide específico e não de outro, dentro da mesma amostra de sémen. Finalmente sabemos como fazê-lo", acrescenta Garrido.
O IVI já era pioneiro na Inteligência Artificial aplicada à seleção de embriões e associa agora mais esta inovação aplicada à seleção de espermatozoides, apresentada no 78.º Congresso da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, uma das reuniões científicas mais relevantes a nível mundial no campo da reprodução assistida.
Uma incubadora de embriões que filma
Neste congresso, foi também apresentado o estudo “Application of Artificial Intelligence on vitrified/warmed embryos: prediction of live birth from post-warmed blastocyst Dynamics”, que permite prever a viabilidade de um embrião descongelado se desenvolver e dar origem a uma gravidez bem-sucedida.
"Há cinco anos que estudamos intensivamente a aplicação da Inteligência Artificial à seleção de embriões. Durante este tempo, conseguimos resultados promissores, que nos ajudam a satisfazer o desejo das nossas pacientes no mais curto espaço de tempo e com as maiores garantias. Neste estudo conseguimos ir um pouco mais longe. Agora o nosso foco é perceber como a análise do desenvolvimento embrionário pela Inteligência Artificial, após a desvitrificação (descongelamento) dos embriões, pode ser indicativa do potencial destes embriões para dar origem a um recém-nascido vivo", revela Marcos Meseguer, embriólogo, coordenador do estudo e supervisor científico do IVI Valencia, em Espanha.
O especialista em embriologia explica que, em vez de introduzir o embrião numa incubadora convencional para esperar pelo momento de o transferir para o útero materno, após a sua devitrificação, como é habitual, este é colocado numa incubadora à qual foi dado o nome de EmbryoScope. Esta incubadora consegue filmar o desenvolvimento embrionário e mostrar as alterações que vai sofrendo durante as quatro horas em que é aqui colocado. “Esta observação, sustentada por um algoritmo de Inteligência Artificial, permite-nos conhecer as possibilidades de implantação deste embrião e avaliar o seu desenvolvimento antes de o transferir”, acrescenta Marcos Meseguer.
Este avanço científico melhora a capacidade de diagnóstico e aumenta o grau de precisão quando se trata de confirmar com maior certeza as possibilidades de implantação que cada embrião apresenta.