Índice de sustentabilidade do SNS com o valor mais baixo dos últimos dez anos
Esta queda na sustentabilidade do SNS é explicada pelo significativo aumento da despesa (7%) que não foi acompanhado pelo igual aumento da atividade (1,3%), resultando numa queda da produtividade. A produtividade, que contabiliza o número de doentes padrão por cada milhão de euros em despesa, tem vindo a decrescer substancialmente ao longo dos anos, registando agora o valor mais baixo da última década. Em 2015 o número de doentes padrão por cada milhão de euros era de 272, número que em 2023 ficou pelos 202.
A acessibilidade técnica e percecionada, que avalia o acesso aos cuidados de saúde, estão em queda face a 2022, ainda que marginal, com 49.7 e 64.3 pontos respetivamente, constituindo uma das maiores fragilidades do SNS. Olhando para as restantes dimensões que compõem o índice de sustentabilidade, a qualidade percecionada dos utentes (72.4 pontos) tem estado estabilizada desde 2019 e a qualidade técnica diminui ligeiramente face a 2022 (66.5 pontos). Como ponto positivo, é de realçar a evolução da dívida com uma redução de 23% da dívida vencida.
"Olhando para todas as dimensões que compõe o índice de sustentabilidade, temos uma qualidade que se mantém estabilizada, uma acessibilidade com uma pequena tendência de queda, uma redução positiva da dívida vencida e uma despesa que aumenta a um ritmo mais acelerado que a atividade. Tudo considerado, o resultado é uma redução do índice de sustentabilidade”, explica Pedro Simões Coelho, professor da NOVA-IMS e coordenador do Índice de Saúde Sustentável. “O SNS tem tratado cada vez mais pessoas ao longo da última década, mas o aumento da despesa tem sido significativamente superior ao aumento da atividade, resultando numa quebra da produtividade. São, no entanto, de sublinhar como aspetos mais positivos a elevada perceção dos portugueses sobre a eficácia do SNS, que reforça a tendência de crescimento, os elevados níveis de confiança no SNS e a muito elevada apreciação sobre a qualidade dos profissionais de saúde”, acrescenta.
Quase metade dos portugueses (48%) faltou pelo menos um dia ao trabalho devido a questões relacionadas com saúde. A prestação de cuidados de saúde através do SNS permitiu evitar a ausência laboral de 2 dias, o que se traduziu numa poupança de mil milhões de euros. Permitiu, ainda, evitar 7,1 dias de trabalho perdidos em produtividade, resultando numa poupança de 3,4 mil milhões de euros. No total, o SNS permitiu uma poupança global de 4,4 mil milhões de euros (impacto por via dos salários). Considerando o impacto dessa poupança por via dos salários e a relação entre a produtividade/remuneração do trabalho (valores referência do INE), é possível determinar que os cuidados concedidos pelo SNS permitiram um retorno para a economia de 6,6 mil milhões de euros.
Pela primeira vez, o estudo analisou a perceção dos cidadãos em relação aos ensaios clínicos. A maioria dos portugueses (79%) admite já ter ouvido falar de ensaios clínicos e 74% têm uma opinião positiva sobre os mesmos. Questionados sobre se estariam dispostos a participar num ensaio clínico, a grande maioria ponderaria essa hipótese: 28% responderam “sim” e 50,5% “talvez”, sendo o estado de saúde o fator que mais influenciaria a decisão. A Internet seria a primeira fonte de informação para saber mais sobre ensaios clínicos, sendo os riscos e benefícios e os potenciais efeitos secundários considerados como as informações mais relevantes a que os inquiridos gostariam de ter acesso antes de concordar participar num ensaio clínico.
A maioria dos portugueses (74%) considera o seu estado de saúde atual “bom” ou “muito bom”, uma percentagem idêntica à registada no ano anterior. Globalmente, numa escala de 0 a 100, os inquiridos avaliam o seu atual estado de saúde com uma nota de 75,3. Se a este valor fosse retirado o contributo do SNS, o indicador ficaria apenas pelos 65,9 pontos, o que demonstra o forte contributo que SNS tem no estado de saúde dos portugueses.
Na ótica dos utentes, os profissionais de saúde e a qualidade da informação fornecida pelos mesmos continuam a ser o ponto forte do SNS e que merece ser valorizado. Os tempos de espera, nas unidades de saúde e entre marcação e a realização de atos médicos, constituem os principais pontos fracos.
Iniciada em 2014, a parceria entre a biofarmacêutica AbbVie e a NOVA IMS resultou na criação do primeiro índice capaz de quantificar a sustentabilidade do SNS, através da análise de dimensões como a atividade, a despesa, a dívida e a qualidade (técnica e percecionada). O estudo “Índice de Saúde Sustentável” procura ainda compreender os contributos económicos e não económicos do SNS, conhecer o impacto dos custos de utilização do sistema no nível de utilização do mesmo e identificar pontos fortes e fracos do SNS, bem como possíveis áreas prioritárias de atuação.